Como é bom ser um médium de Umbanda, não é mesmo? Após grande procura, indo de lugar em lugar, passando por diversas denominações religiosas, encontramos um grande abrigo no coração da querida Umbanda.
Entramos nas suas fileiras com o pensamento de se melhorar, de aprender e de ajudar o próximo e então, todo dia de gira é o mesmo ritual, abstenção sexual, jejum de carnes ou de carne vermelha, não beber bebidas alcoólicas, ter bons pensamentos e boas palavras, para o trabalho que se desencadeará naquela noite.
Então, vem a hora da gira, atendimento fraternal a todos os irmãos em sofrimento, compaixão pelos seus dissabores e muito sorriso e caras de empatia. Acaba a gira, então você pega apressadamente seus pertences, entra no carro e parte em direção a sua casa, para um descanso merecido após toda a caridade prestada, quando você vê que riscaram o seu carro. Seu primeiro pensamento é xingar o “maldito” que fez isso.
Enquanto está indo para casa, para em uma lanchonete drive-thru, pois o estômago está colando nas costas, afinal, comer só frutas e alimentos leves não te satisfaz, então você entra na fila e reclama do tempo que demoram para te atender. Quando é atendido pede dois combos de hambúrguer com refrigerante e batata-frita e parte em direção ao seu lar, comendo no caminho, quando percebe que a atendente não tirou o picles do seu lanche e xinga ela mentalmente de incompetente.
Chegando em casa você abre a porta com cuidado para não acordar a família e tira os sapatos, então pisa em uma peça de lego e segura um grito contra seu próprio filho e vai dormir bravo por todo esse infortúnio passado. Pois bem, parece um cenário fictício, mas garanto que muitos lerão isso e se reconhecerão nessas palavras.
Percebam, quão antagônicos vocês estão sendo com o “personagem” que vestiram para servir na Umbanda? O Umbandista, infelizmente, tem a grave ilusão de acreditar que o trabalho de Umbanda se restringe ao dia da Gira.
Sinto lhe informar, mas você é Umbandista o tempo todo. Você é médium?
Então você é médium 24 horas por dia, 7 dias por semana!
Obviamente não se espera de nenhum ser humano que ele se torne um anjo-de-candura, simplesmente por fazer parte de uma religião. Este é um trabalho delicado, demorado e muito difícil que se chama reforma íntima. Contudo é um trabalho e um exame de consciência importante e que deverá nortear o trabalhador de Umbanda, dentro das Leis e Princípios que regem essa religião espiritualista.
Não adianta ter atitudes antagônicas dentro do terreiro e fora dele, pois a cobrança (da sua própria consciência) estará sempre presente. Além disto, seus mentores espirituais estão sempre tentando de alguma forma lhe inspirar bons pensamentos para que você tome boas decisões na sua vida. Isso não quer dizer que eles estão ao seu lado o tempo todo, como babás espirituais.
Somos humanos e, justamente por isso, teremos muitas falhas e erraremos, porém isso não pode servir de desculpa para nossa conveniência e nossa preguiça. Devemos lutar contra essas falsas sensações de segurança na ofensa, na agressividade e na falta de compaixão. Devemos lutar contra essa mentira de que somos assim porque somos falhos! Oras, isso nós sabemos, mas justamente por isso devemos nos aprimorar.
O ideal é fazer um exame detido da sua consciência e para isso existe um exercício que ajuda muito. Escolha um pequeno caderno e anote neste, todos os dias, as dificuldades que você passou e como você as encarou. Seja sincero e certifique-se de manter um diário das datas em que tais fatos ocorreram.
Ao final de um mês, releia seu mês! Nem todo dia você irá colocar alguma dificuldade, porém muitos dias estarão preenchidos. Leia, novamente o seu caderno ao final do ano e repare como diminuíram as dificuldades. Faça isso todos os anos e irá reparar que o caderno passa a sobrar para mais de um ano. Sabe por que isso ocorre?
Ocorre porque você para para refletir nas situações em que já esteve envolvido e aprende a lidar de formas diferentes, ou lembra, de como lidou – se certo ou errado é outra questão – o que o ajudará a tomar novas decisões e, de forma indireta, estará trabalhando sua reforma interior.
A isso associe as metas de boa convivência, as metas fraternas e de compaixão e assim você conseguirá entender que a vivência de Umbanda não acontece só dentro da gira ou de forma mediúnica, mas todos os dias, nos remetendo a seres melhores.
Vamos começar a reflexão?