Em nosso grupo de estudos (Espiritualidade em Estudo) coloquei uma proposição, dentre muitas polêmicas do mesmo dia, sobre a seguinte situação:

                Afirmei que a cada 10 médiuns “incorporados”, 9 (médiuns) não estão de fato incorporados. Ainda acrescentei que destes nove indivíduos, 20% está obsedado (ou em processo similar) e o restante (80%) está mistificando ou em um processo anímico1.

Essa minha afirmação causou um rebuliço tão grande no grupo, a ponto de me perguntarem de onde tirava esses dados. Claro que não existe nenhum DataAxé e muito menos um InfoCumbas, para nos dar esses dados. Isso é algo que conseguimos por meio da observação e da análise crítica, sem paixão do processo religioso e mediúnico.

Muitos questionaram sobre a firmeza do médium, sobre ele não estar em um bom dia ou totalmente incorporado, mas que isso era comum. Que muitas vezes os guias acabam ficando longe e a “conexão” prejudicada, mas que quase todos quando estão assim se afastam da incorporação.

Meu intento com essa polêmica foi questionar o porquê preocupa-se tanto com o desenvolvimento da incorporação, que não é uma faculdade mediúnica de todos, em detrimento das demais faculdades mediúnicas que podem, devem e eram trabalhadas dentro da Umbanda, antigamente.

Por que se manter em uma ilusão eterna, buscando uma incorporação que nunca acontecerá, ao invés de se focar em desenvolver a intuição, a inspiração, o trabalho de passe, a psicografia e outras tantas formas de mediunidade que existem?

As pessoas creem que ter mediunidade de incorporação lhe transformará em uma espécie de super-herói ou lhe dará uma validade que não existe de fato. Médium não é herói e nem super-herói, mas sim um servidor que não pode estar apaixonado pelo processo mediúnico.

Com isso percebi que muita gente crê que a Umbanda é puramente incorporação! Que se não há incorporação, não há trabalho e não há resultado. Que somos dependentes dos guias e ainda pior, que somos dependentes da incorporação desses para ajudar o próximo.

Para ainda apimentar mais a situação eu propus a seguinte hipótese:

Suponhamos que em um trabalho mediúnico, todos os médiuns – inclusive o dirigente da casa – já desincorporaram ou em linguagem de terreiro, foram a “Orun” (Oró/Oló, em alguns lugares). De repente um dos consulentes começa a passar mal, claramente sendo vítima de uma demanda e só você está incorporado ainda. Contudo, você não está num bom dia, sua incorporação não está tão firme e você se sente muito mais você do que o guia. Como vocês agiriam? Deixariam o trabalho para a próxima semana, na esperança de ter uma incorporação melhor?

Dentre muitas respostas que obtive, o que mais me chamou a atenção foi o fato de mesmo assim, que muitos forçariam a incorporação ao máximo para atender aquela pessoa, pois é a missão deles. Ainda recebi a resposta de que se o médium não tá firme na mediunidade, mexer em demanda pode ser pior, pois ele pega a demanda nele. Ainda, e a melhor até então, que é muito estranho os GUIAS irem embora sabendo que há uma demanda a ser resolvida! Como pode isso ocorrer?

A resposta para isso é bem simples, de fato: Os guias-espirituais não são Babás!

Eles não estão a nossa disposição o tempo todo, eles são trabalhadores e acima de tudo professores. Todo médium é doente de alguma forma e os guias-espirituais tem a missão primária de nos ajudar, porém muitas vezes essa ajuda é “DEIXAR QUE NOS VIREMOS”.

Uma situação dessas trará um grande conhecimento e aprendizado para quem de fato decidir aprender com ela. Sabe o que deveria ser feito? Usado as ferramentas que há a disposição e que a Umbanda antiga sempre ensinou: Rezas, Orações, Benzimentos, Passes, Correntes, Surra de Espada de São Jorge, Queima de Fundanga e MAGIA!

Como assim “MAGIA”?

Exatamente assim! Magia! A Umbanda é uma religião que trabalha com magia, logo um médium não precisa estar incorporado para saber lidar com uma situação dessas, ele deve saber um ponto riscado de descarrego, deve riscá-lo por si só e ativá-lo (geralmente com uma vela, um copo de água ou até mesmo a ponteira de metal) e então trabalhar por meio dessa EVOCAÇÃO.

Mas quem disse que hoje em dia terreiro ensina isso? Hoje só ensinam a chacoalhar o corpo, gritar, ajoelhar e fazer teatro. Assim que as coisas tem sido, infelizmente para nossa Umbanda.


1 Animismo nem sempre é ruim. Todo processo dito mediúnico na verdade é medianímico.

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