Essa semana o Fantástico veiculou uma matéria sobre presos que estão recebendo atendimento energético, holístico e espiritual. São presos de alta periculosidade – estupradores, ladrões e assassinos. Isto gerou todo tipo de reação, desde a mais inflamada caça as bruxas até aqueles que ponderarão sobre se isso é algo certo a se fazer.

Veja, eu entendo muito bem como é difícil ser vítima da violência. Não estou falando sem conhecimento de causa, dentre os meus amigos já teve gente que foi roubada, agredida, estuprada e assassinada. Eu mesmo já sofri roubos à mão armada, roubo de carro, etc. Porém vamos pensar de uma forma mais ampla sobre esse assunto e deixar a nossa hipocrisia de lado.

Algumas opiniões que ouvi (li) sobre isso:

  • “Deixemos a religião de lado, eles são pessoas más e devem pagar por isso”;
  • “Desejo que a justiça seja feita e eles sofram”;
  • “Onde já se viu! Quem eles mataram não voltam mais e a família sempre terá esse sofrimento. E agora dão uma chance a eles? Dando conforto e fazendo terapias?”;
  • “Eles tinham que trabalhar para comer. Deviam quebrar pedra de sol a sol. Assim não oneravam o estado”.

Vamos contextualizar a situação!

Somos espíritas ou espiritualistas, de qualquer forma seguimos a moral Cristã. Nessa moral é pregado que o ser humano é um ser em aprimoramento, em evolução e que ainda está sujeito a errar de diversas formas. Tendo assim que trabalhar seu aspecto moral para evoluir para uma situação melhor, angariando benefícios morais e intelectuais, a ponto de sobrepujar os limites que nos prendem a esse orbe. Traduzindo: Devemos trabalhar para sermos pessoas melhores. A mesma moral Cristã diz que devemos perdoar aqueles que nos ofendem e que nos fazem mal. Perdão não é esquecimento, é simplesmente compreensão e abnegação. Seguindo ainda nesse raciocínio temos a questão da Lei de Causa e Efeito, nada ocorre sem o concurso da espiritualidade. Logo, sabe-se que o sofrimento é um lapidador muito mais célere do que o amor e muitos de nós estamos sempre sujeitos as vicissitudes da vida.

Seguindo essa ótica, o bandido – que hoje está preso – cometeu um ato injustificado de extrema selvageria e crueldade. Só o seu ato em si já demonstra a sua carga evolutiva negativa e o quão, moralmente, atrasado ele está. A justiça terrena o julgou e o condenou a prisão, essa mesma prisão que não dá qualquer meio de melhoramento ao preso que lá está, sendo que este mesmo cidadão irá para rua no máximo em 30 anos de pena, fora os benefícios por  bom comportamento e as apelações. Sabemos também que essas penitenciárias são caixinhas de criar monstros, os bandidos entram lá de um jeito e saem pior. Como não entender que a ação desse grupo de voluntários é benéfica? Eles estão tentando, através de uma via diferente, mas que já é explorada pelos evangélicos, fazer com que esses bandidos se arrependam e compreendam que o caminho trilhado foi errado. Eu sei que a agressão não vai ser apagada, também sei que o ente morto não voltará. Mas nós como Espíritas ou Espiritualistas não devemos exercitar o perdão e a resignação e esperar que todos melhorem? Se seguir as causalidades da vida, pode ser que esse bandido venha a encarnar em sua família. E se você não tivesse mais o véu do esquecimento encarnatório?

Pode ser que nada resolva mesmo com essas técnicas, até mesmo a colocação da matéria foi sensacionalista e também incorreta ao afirmar que eles tomam um chá alucinatório. Leva ao engano de se achar que os presos estão numa boa lá se drogando e tendo viagens alucinantes. O contexto é diferente! A Ayahuasca é uma erva ou planta de poder, chamada de enteógeno. A diferença entre uma alucinação e uma vivência com o enteógeno é: A Alucinação não é real, é uma criação da mente, pode refletir a nossa visão interior de forma distorcida ou pode expandir a consciência para novas percepções, mas de qualquer forma é um jeito profano de se “expandir a mente”. Já o uso do enteógeno é uma vivência com aspecto sagrado, onde – dentro da nossa crença – entramos em contato com entidades extracorpóreas, encantados ou espíritos desencarnados. Logo é uma experiência com profundo grau de mudança interior, quando o sujeito – no nosso caso aqui o bandido, preso ou outro termo que queira usar – perceber que a vida tem um cunho diferente, continua, existem forças externas e que irão lhe guiar ou lhe cobrar, pode ser que algo mude.

Agora aos outros tópicos que foram propostos, será mesmo que o que queremos é justiça? Eu vejo mais como vingança. Ouvi certa vez de um caboclo de Xangô:

“Justiça é algo inatingível no plano terreno. O que vocês desejam aqui é vingança… lei de Talião. Olho por olho…. Porém justiça é a pregada pelo filho do mestre… que teve sua família perseguida e ele mesmo fora executado e que pediu pro Pai perdoar pois os humanos não sabiam o que estavam cometendo.”

Veja como são as coisas, escrevi Justiça com J maiúsculo, pois é a Justiça Divina. A nossa justiça não é assim, queremos é mesmo a vingança. Queremos que o bandido sofra, queremos que ele passe pelo mesmo que ele nos sujeitou a passar. Mas, PAUSA! Se isso for assim, não estamos sendo exatamente iguais a ele? A mãe desse bandido também não sofrerá? Ela também não poderá exclamar que quer a sua justiça contra você, por desejar isso? E então se torna um caminho sem volta, uma ciranda, uma roda-gigante de erros.

Os criminosos podem ser cruéis, podem ser o que forem, mas a partir do momento que desejarmos o mesmo, estamos sendo exatamente como eles. Não é fácil! Isso é claro! Porém, é a reforma íntima que todos falam que devemos trabalhar, é o melhoramento do ser humano. E por favor, não me venham falar para não incluir religião. As pessoas tem mania de destacar a religião da vida material por medo de estarem sendo fanáticas, piegas, arcaicas, primitivas ou simplesmente religiosas. A religião serve, sim, para ajudar a nossa evolução moral e ser uma bússola dessa mesma moral. Agora ir ao terreiro, chacoalhar o corpo, receber entidade, falar de bondade, para depois você apontar que não vai servir e você não irá praticar o que aprendeu, é sim hipocrisia. Não quer falar de religião ou seguir o que a religião prega? Largue a religião… Se quer a religião só na hora que ela pode te ajudar, esquece, você  já tá fazendo tudo errado. Ninguém te obrigou a entrar nela, porém uma vez dentro, siga suas regras.

Eu acredito que a epifania depois de uma experiência com uma força extracorpórea ou espiritual e até mesmo a castração mental de certas religiões são benéficas para esses casos de mentais adoentados e negativados.

Lembre-se do que disse acima: o bandido um dia vai sair de lá, cedo ou tarde. Você prefere que ele saia pior do que entrou, ou prefere que ao menos seja lhe dada uma chance de mudar a sua vida (Nem que seja numa próxima vida!)?

Observação: Eu sei que esse texto irá criar vários atritos, porém é minha forma de pensar. Não apoio os bandidos, acho que eles devem ser punidos conforme o seus crimes e dentro da justiça dos homens. Também não desmereço as vítimas desses bandidos e acredito fielmente que eles deveriam também ter o mesmo acesso a terapias para lidar com os traumas e superar os momentos mais difíceis. O que me propus a fazer no texto foi mostrar que não podemos ser algo dentro de uma casa religiosa e outra coisa fora.

]]>

%d blogueiros gostam disto: