A obsessão espiritual foi um dos assuntos tratados por Allan Kardec dentro da Codificiação Espírita, porém, como todo o restante, não é propriedade do espiritismo e não foi inventada ou começou a surgir a partir do advento do Espiritismo. Essas situações ocorriam antes, desde épocas imemoriais, porém eram vistas como possessões demoníacas ou doenças mentais e emocionais. Hoje, com a grande quantidade de informação gerada pelas literaturas espiritualistas, possuímos meios de compreender melhor esses fenômenos, o que não implica que estejamos imunes a seus efeitos, assim como veremos nesse artigo.
Kardec nos deixou legado três formas de obsessão espirituais – que podem se desdobrar em subníveis conforme se apresentam e conforme as especificidades de cada uma – sendo elas: Obsessão, Fascinação e Subjugação.
Esse artigo falaremos especificamente sobre a Fascinação¹ espiritual, visto que já abordamos o tema obsessão em outros artigos:
Para isso usarei o excerto do Livro dos Médiuns, Capítulo 23 – Da Obsessão:
A fascinação tem conseqüências muito mais graves. Trata-se de uma ilusão criada diretamente pelo Espírito no pensamento do médium e que paralisa de certa maneira a sua capacidade de julgar as comunicações. O médium fascinado não se considera enganado. O Espírito consegue inspirar-lhe uma confiança cega, impedindo-o de ver a mistificação e de compreender o absurdo do que escreve, mesmo quando este salta aos olhos de todos. A ilusão pode chegar a ponto de levá-lo a considerar sublime a linguagem mais ridícula. Enganam-se os que pensam que esse tipo de obsessão só pode atingir as pessoas simples, ignorantes e desprovidas de senso. Os homens mais atilados, mais instruídos e inteligentes noutro sentido, não estão mais livres dessa ilusão, o que prova tratar-se de uma aberração produzida por uma causa estranha, cuja influência os subjuga.
Dissemos que as conseqüências da fascinação são muito mais graves. Com efeito, graças a essa ilusão que lhe é conseqüente o Espírito dirige a sua vítima como se faz a um cego, podendo levá-lo a aceitar as doutrinas mais absurdas e as teorias mais falsas como sendo as únicas expressões da verdade. Além disso, pode arrastá-lo a ações ridículas, comprometedoras e até mesmo bastante perigosas.(1)
Compreende-se facilmente toda a diferença entre obsessão simples e a fascinação. Compreende-se também que os Espíritos provocadores de ambas devem ser diferentes quanto ao caráter. Na primeira, o Espírito que se apega ao médium é apenas um importuno pela sua insistência, do qual ele procura livrar-se. Na segunda, é muito diferente, pois para chegar a tais fins o Espírito deve ser esperto, ardiloso e profundamente hipócrita. Porque ele só pode enganar e se impor usando máscara e uma falsa aparência de virtude.
As grandes palavras como caridade, humildade e amor a Deus servem-lhe de carta de fiança. Mas através de tudo isso deixa passar os sinais de sua inferioridade, que só o fascinado não percebe; e por isso mesmo ele teme, mais do que tudo, as pessoas que vêem as coisas com clareza. Sua tática é quase sempre a de inspirar ao seu intérprete afastamento de quem quer que possa abrir-lhe os olhos. Evitando, por esse meio, qualquer contradição, está certo de ter sempre razão.
No texto acima, podemos ver claramente a interferência que ocorre na mente do médium nos processos de fascinação. Allan Kardec nos deixa claro em seu raciocínio ao perigo que é permitir-se ser alvo de espíritos negativos, que encontram morada em nossas mentes, por meio da reverberação fluídica, ou seja, pela frequência que vibramos ou emitimos. Isso é a chamada imperativa ao processo da redenção íntima ou reforma interior. Porém, muitos espiritualistas – principalmente os novos umbandistas – acreditam que o processo de melhoramento moral não está intimamente ligado ao melhoramento intelectual.
Hoje ouve-se demais a repetição de que é necessário estudar a Umbanda, porém poucos entendem que de fato ao estudar a Umbanda, não queremos estudar sobre pembas, pontos riscados e ritualísticas apenas, mas também sobre o que a Umbanda significa, ou seja: Caridade, Humildade e Simplicidade.
Voltando ao texto e também a essa nova leva de Umbandistas, formados em diversos graus de magia e processos ritualísticos e sacerdotais de forma “express”, notamos também outra característica, que os definem: A repetição de postulados dos seus escritores e a certeza de que só ali naquele local há a verdade revelada ou atualizada do que é Umbanda. Estou frisando a Umbanda, pois a maior parte dos leitores deste blog praticam a Umbanda, ou dizem praticar. Mas isso de certa forma, vale para todas as denominações espiritualistas, que pregam o melhoramento do ser humano por meio da prática da Caridade.
Podemos então considerar que eles se encontram fascinados por seus supostos mentores espirituais ou por suas mentes perturbadas em desequilíbrio. A perturbação aqui ocorre de forma emocional e mental, manipulando nossos pensamentos – sendo ativada por um meio espiritual, mas também podendo ser ativada pela própria personalidade do médium e suas paixões inferiores (ego, vaidade, egoísmo, orgulho, etc).
Esses novos postulantes umbandistas – ou supostamente umbandistas, já que não seguem o preceito básico que a Umbanda apregoa – são envolvidos quando em muito por entidades da própria egrégora – que tem um desequilíbrio ou estão com essas intenções negativas – para lhe inspirar uma confiança cega somente naquilo que lhe é mostrado, impedindo o raciocínio e o discernimento das comunicações, geralmente com discursos de que “Não se pode julgar a espiritualidade, pois eles são espíritos elevados”.
Com o meu trabalho mediúnico de anos e a experiência em campos espirituais, percebi que os bons espíritos adoram quando encontram pessoas que os questionam, pois sabem que não estão sendo seguidos por pessoas cegas.
Essas pessoas não conseguem ver a linguagem fraudulenta, empolada, cheia de retórica, cheia de recursos de linguagem, como um loop, tentando explicar algo e nunca explicando nada, presos em um eterno sofisma².
Quando você tenta apontar os equívocos ou tenta dialogar que aquilo não tem o menor sentido lógico, há sempre a refutação e o uso dos mesmos discursos: “Você diz isso porque não compreendeu, não tem capacidade evolutiva ou espiritual para compreender essa lição de profunda sabedoria”.
O que ocorre então é que muitos que também reparam nesses contrassensos, acabam por dizer (mentindo) que entenderam, para fazer parte do grupo ou não serem atacados. Nublando assim seu pensamento crítico e fazendo com que o mesmo volte-se novamente ao rebanho.
Isso é tão absurdo de constatar, pois a Umbanda sempre se manifestou com o objetivo de ser SIMPLES, levada ao povo simples. Logo, criar um recurso tão “profundo” é o mesmo que tentar ensinar filosofia para o bebê de 6 meses. Não faz sentido!
Mas isso já está evidente dentro do que Kardec postula:
O Espírito consegue inspirar-lhe uma confiança cega, impedindo-o de ver a mistificação e de compreender o absurdo do que escreve, mesmo quando este salta aos olhos de todos. A ilusão pode chegar a ponto de levá-lo a considerar sublime a linguagem mais ridícula.
Além disto fica evidente na escrita do texto que não adianta se colocar como intelectual ou instruído, que ainda assim estaremos sujeitos a isso, pois o que ocorre é o ataque aos pontos fracos de nossa organização mental, ou seja, dentro de nossas emoções e principalmente dos defeitos e desvios morais que nos acompanham nessa existência. Os supostamente instruídos se sentem atraídos pela profusão de palavras belas mas desprovidas de sentido profundo. Destaco novamente essa parte do texto do Livro dos Médiuns:
Dissemos que as conseqüências da fascinação são muito mais graves. Com efeito, graças a essa ilusão que lhe é conseqüente o Espírito dirige a sua vítima como se faz a um cego, podendo levá-lo a aceitar as doutrinas mais absurdas e as teorias mais falsas como sendo as únicas expressões da verdade. Além disso, pode arrastá-lo a ações ridículas, comprometedoras e até mesmo bastante perigosas.
Não podemos, todavia, confundir uma obsessão instalada de forma simples com uma fascinação espiritual, tendo em mente que a obsessão espiritual por muitas vezes nos causam dessabores, mas não são graves ou tem efeitos muito prolongados, causando mais desconforto do que danos realmente na vida do encarnado.
Porém, dentro da fascinação a pessoa pode gerar todo um cerne de ódio para com os que professam diferentemente dele, opiniões contrárias e exercem a liberdade de raciocínio, agindo tanto de forma grosseira, raivosa ou desdenhosa, colocando que todos os que não entendem a revelação última são atrasados.
Sua tática é quase sempre a de inspirar ao seu intérprete afastamento de quem quer que possa abrir-lhe os olhos. Evitando, por esse meio, qualquer contradição, está certo de ter sempre razão.
Infelizmente, é isso que ocorre em nosso cenário umbandista, dentro das neoUmbandas, não só com novos adeptos ou postulantes, mas com pessoas já com uma longa estrada mediúnica e de trabalho espiritualista, que cedem tanto as pressões das egrégoras fortalecidas pela mídia e pelo poder financeiro, quanto por chantagens emocionais e intelectuais, para serem parte e pertencerem a um conjunto de “regras” que não definem a Umbanda, mas a afastam de sua essência que é a Prática da Caridade, aprendendo com os mais evoluídos e ensinando aos mais atrasados, parafraseando o sapientíssimo Caboclo das 7 Encruzilhadas.
Mantenha seu alerta ligado e na próxima vez que ler um livro ou um artigo, saiba exercer o seu discernimento se livrando desses grilhões da fascinação espiritual.
Informações importantes:
1 Fascinação: substantivo feminino
1. m.q. FASCÍNIO. 2. forte atração por alguém ou por algo. “ele tem fascínio por essa mulher” 3. olhar a que se atribui o poder de causar malefícios, encantamento. 4. suposto efeito desse olhar.
Origem ETIM fr. fascination ‘id.’, do lat. fascinātio,ōnis ‘encantamento, atração, bruxaria’ria’
2 Sofisma: substantivo masculino
1. lóg. argumento ou raciocínio concebido com o objetivo de produzir a ilusão da verdade, que, embora simule um acordo com as regras da lógicas, apresenta, na realidade, uma estrutura interna inconsistente, incorreta e deliberadamente enganosa. 2. lóg. argumentação que aparenta verossimilhança ou vericidade, mas que comete involuntariamente incorreções lógicas; paralogismo. 3. p. ext.(da acp. 1) qualquer argumentação capciosa, concebida com a intenção de induzir em erro, o que supõe má-fé por parte daquele que a apresenta; cavilação. 4. p.ext. infrm. mentira ou ato praticado de má-fé para enganar (outrem); enganação, logro, embuste.
Origem ETIM gr. sophisma, atos ‘habilidade, destreza, artifício, intriga; sofisma’
Fonte dos significados: Dicionário Google.