O título pode até parecer pretensioso, mas como enxergar o astral na visão umbandista de outra forma? Vejo uma relação muito próxima com as hierarquias militares e com sua versão moderna, a visão corporativa. Neste texto, queremos abordar sobre a divisão das linhas de trabalho da Umbanda, que deixa muita gente confusa e perturbada.
Já deixo aqui de antemão que essa é a minha visão, pautada nos meus conhecimentos e nas minhas experiências, vocês encontrarão toda a sorte de organização por aí. Fiquem a vontade para utilizar a que mais se identificarem.
Desde o surgimento das chamadas 7 Linhas de Umbanda todo mundo se pergunta onde determinado guia deverá se manifestar. Isso tomou um vulto tão grande, que muitas vezes impede o trabalho assistencial de um terreiro, só pela divergência entre médiuns-trabalhadores e dirigentes em dizer onde determinada entidade tem que “se apresentar”.
Para clarear um pouco da ideia, foram sugeridas formas de hierarquização, que começaram lá com Zélio de Morais e Leal de Souza e foram expandidas por outros autores como Benjamin Figueiredo, Lourenço Braga, Emanuel Zespo, Antônio Alves Teixeira Neto, W.W. da Matta e Silva e muitos outros.
Os trabalhadores de Umbanda estão agrupados em sete linhas vibratórias, sete irradiações primordiais (para o trabalho de Umbanda e não para o Universo em si) e que são classificadas por mim como: Linha da Fé, Linha da Demanda, Linha das Matas, Linha da Justiça, Linha dos Ventos, Linha das Águas e Linha das Almas¹.
A Linha seria a composição básica que é emanada de Deus Inefável ou do Universo, dentro de cada uma teríamos uma flexão ou multiplexação das forças ou um desdobramento das forças principais em outras mais. Então, dentro da Linha da Fé, por exemplo, temos mais sete subdivisões, que chamamos de falanges. Dentro de cada uma das falanges, por consequência, temos mais sete subdivisões que chamamos de legiões e assim por diante, ou seja, dentro das legiões, temos sete povos, dentro dos povos, temos sete tribos e vamos assim dividindo até o infinito.
Com esse pensamento, podemos dizer que TODOS os tipos de espíritos acabam encaixando em algum lugar dentro da hierarquização de Umbanda. Porém, a Umbanda não é documentada como um todo e tampouco isso seria necessário. Temos um grande volume de informação sobre as linhas da Fé, de Demanda, das Matas, da Justiça, das Águas, mas pouquíssima informação da Linha dos Ventos e suas falanges e também da Linha das Almas, deixando espaço para conjecturas.
Um exemplo da forma de organização que seguimos no Perdido é a seguinte:
1. Linha da Fé (Oxalá, Regência Jesus Cristo)
1.1 Falange de Santo Antônio
1.2 Falange de São Cosme e São Damião
1.2.1 Legião das Crianças
1.2.2 Legião de Omulu (Cura e Almas)
1.3 Falange de Santa Rita
1.4 Falange de Santa Catarina de Alexandria
1.5 Falange de Santo Expedito
1.6 Falange de São Francisco de Assis
1.7 Falange de São Benedito
1.7.1 Legião dos Pretos-Velhos
1.7.1.1 Povo da Costa
1.7.1.1.1 Tribo dos Baianos (Linha de Trabalho dos Baianos)
1.7.1.2 Povo do Congo
1.7.1.3 Povo de Angola
1.7.1.3.1 Povo de Aruanda
1.7.1.4 Povo de Benguela
1.7.1.5 Povo de Moçambique
1.7.1.6 Povo de Luanda
1.7.1.7 Povo da Guiné
1.7.1.7.1 Tribo de Arruda
Outras manifestações dentro da Umbanda
Apesar de um pouco complexo podemos dizer que dá para compreender com certa concentração, foco e estudo. Porém, o que ocorre quando temos seres que não são classificados como entidades propriamente ditas? Onde entram os Anjos, Elementais, Elementares, Gênios, Demônios e outras categorias de seres que habitam o astral?
Para facilitar essa compreensão, nosso colaborador Jhonathan Endrigo, criou o organograma abaixo:
Utilizando de artigos que encontramos aqui no Perdido, ele criou esse fluxo para compreendermos melhor a categorização de cada uma das entidades. Claro que as nomenclaturas e outras determinações, seguem o que o blog promulga, não sendo uma visão universalista. Aliás, toda forma de estudo e categorização serve apenas para que possamos compreender melhor as coisas, dentro do ponto de vista humano. Isto quer dizer, que o Astral tem sua própria regra, que nos é velada.
As Manifestações Atemporais são aquelas que não estão presas a noção de tempo que a maioria possui. Foram criadas pelo Divino Criador, anteriormente a criação da matéria ou de qualquer passagem de tempo, justamente por isso não estão sob sua regência. Podem atuar no plano material ou temporal, por meio de manifestações da sua inteligência, mas nunca “corporeamente”, se é que podemos dizer que eles possuem qualquer tipo de corpo.
As Manifestações Temporais são as que foram criadas no interlúdio ou após a criação do tempo, incluindo todas as almas humanas ou não-humanas, e as próprias criações artificiais dos magos (elementares, construtos mentais, sigilos e servidores). Dentro dessa categorização temos as divindades das muitas culturas, que acessam os poderes atemporais – naquilo que chamamos de teoria de potes – e que muitos confundem achando se tratar de uma só manifestação, estes podem ser tanto Shedim (Gênios) quanto Divindades artificiais, criadas pela adoração e pelo poder mental dos humanos. Então, Orixás, Deuses Gregos, Egípcios, Kamis e Elementais Superiores, podem estar atrelados a categoria dos Gênios. Ainda dentro desta categoria temos os gênios inferiores, com poder limitado, geralmente associados aos planos elementais da natureza, mas não restritos a estes.
O que devemos ter em mente é que mesmo se tratando de uma divindade superior, isso não implica que ela seja boa, pois o Bem e o Mal são condições humanas e limitadas para nossa compreensão. O que podemos dizer é que eles são éticos e não-éticos, mesmo assim, lembrando sempre que ética depende da ótica de cada um.
As almas são outras entidades que tratamos muito nas manifestações espirituais, aqui incluímos os encarnados e desencarnados. Dentre estes temos as almas missionárias, as almas encarnadas, as almas penadas e as almas em desequilíbrio e negatividade. Dentre essas almas, em sua grande maioria, são espíritos humanos, porém na categoria de Exu e Pombagira, podemos encontrar Espíritos Naturais ou Encantados, que são como elementais em sua manifestação ou comportamento.
Uma outra categoria seria a dos demônios, e para tal, usamos a classificação dada pela obra de Dante Alighieri, “A Divina Comédia”. Não é exatamente assim, mas usamos desta classificação para melhor compreensão daquilo que chamamos de zonas inferiores, demoníacas ou inferno. Escrevi um artigo sobre isso Zonas de Sofrimento: Umbral, Limbo, Crosta e Inferno.
Aqui há algo a se destacar, não podemos classificar exatamente o Demônio ou muitos demônios como “SERES” mas sim como cargos, o mesmo que ocorre com os anjos. Então na posição do famoso diabão Lúcifer, na minha opinião um cargo, já passaram diversos seres totalmente negativados e entregues às trevas. Contudo, nada é estático no mundo astral, levando os mesmos a se “aprimorarem” e mudarem de condição, deixando o cargo para ser ocupado por outro ser, que assume o cargo de Lúcifer, por exemplo.
E as entidades de Umbanda, onde estão? Dentro das almas Missionárias em grande parte e outros (Exus e Pombagiras) dentro dos Espíritos em desequilíbrio ou negativados.
Essa exposição foi para dar mais recursos para que vocês possam fazer suas próprias considerações. Não existe verdade absoluta, mas sim conceitos e convenções que adotamos para não entrarmos em loop cerebral. Siga a sua própria mente e adote aquilo que melhor lhe couber.
Uma outra forma de enxergar a questão das almas “humanas” é através da Escala Evolutiva dos Espíritos, na qual já fizemos um estudo extenso. Repasse o mesmo e comente em caso de dúvidas, sugestão ou envie-nos sua visão.
1 Linha de Santos e Almas é uma outra nomenclatura adequada.