Uma das perguntas mais feitas por quem começa a entrar em contato com o mundo afro-brasileiro é: Quem é meu pai ou mãe de cabeça?

Esse assunto é outro bem polêmico, pois envolve conceitos tão enraizados na mente do postulante a espiritualidade que muitas vezes causamos mais incomodo e constrangimento do que realmente elucidação. Justamente por isso que muitas vezes simplesmente entramos na onda e falamos o que é de conhecimento popular, seu pai é tal Orixá e sua mãe é tal Orixá. Geralmente isso é só pra matar a curiosidade mesmo, depois com o aprofundamento no estudo acaba-se abrindo mais sobre o mesmo e entra-se em outras questões fundamentais.

A Umbanda não cultua os Orixás, apesar do que muitos pensam. Cultuamos as forças que são representadas pelos Santos Católicos que REGEM as linhas. O Santo é um espírito evoluído que ascendeu a uma condição especial. Dentro da hierarquia que podemos denotar encontramos, por poder e proximidade do Criador:

  1. Deus
  2. Anjos
  3. Santos
  4. Gênios (Encantados Superiores Éticos e Não-Éticos)
  5. Humanos
  6. Gênios (Encantados Inferiores Éticos e Não-Éticos, inclusive Elementais)
  7. Espíritos negativos
  8. Espíritos Trevosos
  9. Espíritos Demoníacos
  10. Demônios

Não vou me aprofundar nessa hierarquia por hora. Então, onde estariam os Orixás? Na estrutura de número 4, então os SANTOS são superiores aos mesmos. Para se tornar santo, não é necessário ser beatificado e santificado por uma igreja, seja ela a romana ou ortodoxa. Existem diversos Santos Populares, extremamente poderosos.

Continuando o raciocínio, o Santo é o regente da Linha, que por uma questão de conveniência usa o nome de alguns Orixás, mas lembrando de que no começo alguns desses Orixás, tinham grafias diferentes, como: Euxosse, Nhan-San, Almanjar.

Seguindo essa ideia, pelo raciocínio lógico, poderíamos inferir que não existe isso de pai e mãe de cabeça. Mas calma, antes de convocar a inquisição afro-brasileira para cima de mim, deixe-me explicar.

Existem sim, condições que fazem com que venhamos a encarnar com determinada configuração energética e em busca de determinados objetivos a serem melhorados. Os Africanos – que eram sábios – codificaram isso em um sistema de Orixás de Cabeça, ou senhores da cabeça. Uma pessoa que é extremamente racional, teria uma inclinação a Ogum, por exemplo. Uma pessoa mais emotiva e passional, para Iemanjá. E assim por diante. Além disso, identificaram que na sabedoria do Universo, precisaríamos de um contraponto a essa energia, ou iríamos mergulhar nos polos negativos da mesma. Por exemplo, dizem que filhos de Ogum são intempestivos e impacientes, que se irritam por tudo e são agressivos. Isso não é qualidade de Ogum, é qualidade humana, que precisa ser vivida e também superada, através da reforma íntima. Mas Deus deu uma ajuda, é o tal do Orixá Juntó ou Adjunto. Essa energia faria o equilíbrio das forças, um cara com Ogum de Frente (Cabeça de Ogum) poderia ter um Orixá mais brando para pacificá-lo (Iemanjá, Oxum, Nanã) etc. Mas a  Umbanda não trabalha com Orixá, como funciona?

Da mesma forma, usamos a figura dos Orixás, da mesma forma que alguns usam os signos astrológicos ocidentais ou se baseiam na astrologia védica e chinesa. Então realmente não existe um Orixá me pegando para ser seu filho, o que existe é uma energia reinante na minha programação de vida, nos meus objetivos encarnatórios que são simbolizadas com essas figuras. Veja bem, Orixá é Yorubá, então só os mesmos teriam Pais e Mães de Cabeça. Como fariam os chineses, mongóis, franceses e mesmo outros povos africanos da região do Marrocos, Argélia, Angola, Congo, África do Sul, etc? São conveniências que adotamos, um sistema simbólico, praticamente uma gramática oculta.

Outra questão que é feita, é a seguinte: “Como faço para saber quem rege minha coroa?”.

Alguns dizem que pelos búzios e outros dizem que por odulogia. Eu particularmente discordo de ambas, vejo isso mais como uma busca pelo autoconhecimento. Conforme você toma consciência de suas atitudes e de suas simpatias, você irá encontrar as “energias” que vamos chamar de Orixás, que regem esses aspectos da nossa vida. Dentro das práticas da minha casa, escolhemos PADRINHOS. Veja, nem sequer usamos nomes de Pais e Mães, mas Padrinhos Espirituais, que elegemos pela simpatia e familiaridade para nos acompanhar. Essas energias são confirmadas pelo guia-chefe da casa, mas quem irá dizer quem são esses padrinhos é você e seu chefe-de-coroa. Suponhamos então que eu tenha dito Oxóssi e Iansã, meu guia chefe-de-coroa, no seu ritual de confirmação deverá dizer o mesmo e o guia-chefe da Casa, deverá dar sua anuência se está correto. Caso não esteja, ele não dá o médium por confirmado, pois ainda está vazando animismo demais na comunicação.

Com isso em baila, confabulam-se outras perguntas, agora refere aos guias. Confunde-se Mentor, Chefe-de-Coroa, Guia-de-Frente, Guia-de-Consulta, Anjo-de-Guarda, etc.

Resumidamente, considere o quadro abaixo:

  • Mentor: Espírito responsável pela sua Encarnação, confundido com o Anjo-de-Guarda. Até pode ser visto como tal e todos possuem um.
  • Chefe-de-Coroa: Espírito responsável pela sua mediunidade e pelo exercício da mesma. Logo se você não for médium ostensivo não terá um.
  • Guia-de-Frente: Espírito responsável pelas consultas, geralmente é o que mais se manifesta mediunicamente. O chefe-de-coroa pode ser também o guia-de-frente, mas não é algo obrigatório.
  • Guia-de-Consulta: Todos os espíritos que se manifestam por você para dar consultas caritativas e passes. Todos tem que passar pela permissão do Chefe-de-Coroa para se manifestarem. No caso de desequilíbrio da mediunidade, os obsessores que se manifestam, só o fazem com permissão desse Chefe-de-Coroa. O motivo disto é pauta para outro artigo.
  • Anjo-da-Guarda: Mais misterioso de todos eles, mas basicamente é um mensageiro da casta dos Anjos mesmo (Existem várias castas, Serafins, Querubins, Arcanjos e Anjos. Todos são genericamente chamados de Anjos). Ou seja ninguém terá um Querubim como anjo da guarda, entendeu? Para os espíritas o Anjo-da-Guarda é o mentor. Na Umbanda entendemos diferente, é mais uma entidade, uma inteligência, sem personificação corpórea e nem sequer vivência humana que intercede por nós junto ao Criador e a Criação. Seria quem nos guarda das outras inteligências perversas, mas nunca interferindo em nosso livre-arbítrio, por isso a tradição de firmar-se o Anjo-da-Guarda, dando permissão para que ele haja.

Para mais informações sobre isso leia nosso artigo: Como um espírito acaba por se tornar meu guia?

Então é isso, deixem seus comentários e vamos dialogar. A questão teológica de Umbanda, e mesmo a espírita, é muito recente e só irá amadurecer com bastante diálogo e estudo.

 

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