Nas andanças pelo mundo virtual me deparei com a seguinte manifestação:

“Não sou de entrar em questões de verdade ou mentira. Acredito que cada casa tem a sua doutrina. Mas acabo de ver e opinar sobre uma questão de saúde. Gente na boa, não é falta de fé, é cuidado mesmo com a saúde dos médiuns e consulentes. Dizer que diabéticos podem consumir doces livremente em gira de erê e que pessoas que tomam remédios controlados possam beber livremente em gira de esquerda é perigoso sim. Confiamos nos nossos guias, eles nos cuidam, protegem e tudo mais. Mas descuidar da saúde deixando tudo nas mãos deles é algo inconcebível. Pode ser que um ou outro não tenha passado mal, mas isso não é 100% em todos os outros. Cuidado ao orientar esse tipo de coisa. Podem cair no mesmo erro que muitos evangélicos caem ao abandonar tratamento por causa da religião e depois ficarem ainda mais doentes isso é fanatismo e não fé. Cuidar com equilíbrio da saúde e da fé é o que nossos guias e orixás nos pedem. O resto sim deixemos com eles. Bom dia.”

E eu tenho que concordar com 100% do que ela expressa. Leitores do blog, entendam: “Os milagres esgotaram!”. 

Já passou da hora de assumirmos responsabilidade pela nossa vida, tanto a material quanto a espiritual, principalmente em se tratando de médiuns. Essas histórias de manifestações miraculosas e espantosas já acabaram. Nenhum guia “vem a terra” para andar em brasa ou comer cacos de vidro, já não há mais espaço para essas coisas. Hoje vivemos em um momento de despertar da consciência, o que implica a exercitarmos e a recorrer ao bom-senso.

Estou farto de super-médiuns por todo lado, são tão bons que não resolvem nem a própria vida. Vivem cheios de inimigos invisíveis e de conspiração para todo quanto é canto. Mas o seu único inimigo é o ego inflamado!

Os Espíritos jamais irão burlar as leis da sociedade, pois evoluídos como estão, sabem como é importante respeitar o livre-arbítrio e também as regras sociais. Se eles impuserem suas vontades à frente do médium, estarão incorrendo em possessão e isso não é algo que um espírito de Lei faz, mesmo que você o chame de Exu. Aliás, esse é outro tema bem mal compreendido e estudado, recomendo a leitura do texto Amoralidade de Exu.

Sei que a pergunta foi feita: “Mas eu estando incorporado, não tenho como controlar meu Exu ou meu Erê! Se ele quer doce, ele come doce. Mesmo eu sendo diabético.”

Vamos entender da seguinte forma, não vamos usar a mediunidade como desculpa. São raros os médiuns inconscientes. Provavelmente, nem nasçam mais médiuns inconscientes já há alguns anos, se não décadas. Os médiuns são semi-conscientes ou conscientes em sua grande maioria. Então, sim! Estou pedindo consciência na incorporação. Além disto, é uma responsabilidade muito grande para um espírito “tomar” o corpo de um médium. O corpo, representando a vivência terrena, é uma dádiva da Espiritualidade e do Criador, para que possamos evoluir, aprender e crescer. Se um espírito alheio – dentro da Lei de Umbanda – faz mau uso do corpo do médium, ele também estará “adquirindo karma”. Não vejo um espírito com certa evolução incorrer nesse erro e caso o mau uso aconteça, podemos incorrer em mistificação, animismo ou é um espírito leviano se passando por um guia-de-umbanda.

Vamos ser coerentes e entender de vez que um Guia-de-Lei não irá beber sabendo que existe uma lei que impede que os consulentes bebam e dirijam, pois grande parte vai embora pra sua casa de carro. Não irão criar caso, quando não puderem entrar em um cemitério, pois o mesmo tem horário de fechamento para evitar vândalos e marginais. Não vai pedir para você o que é muito caro, sabendo que o médium ou consulente não tem condições para comprar. Mas, principalmente, não irão prometer curas milagrosas. JAMAIS!

Se você está doente, com certeza isso tem fundo emocional/espiritual. Porém, parafrasearei aqui o Vovô Francisco do Congo, quando ele diz:

“Fio, quando a moléstia se manifesta na matéria, é o dotô da matéria que tem que tratar. Eu cuido do lado do espírito, fio, para que a moléstia não volte, pois a causa dela está lá. O Mestre nazareno não diz: dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus? Uso a mesma regra, zinfío, para as questões da moléstia do corpo.”

Coerência sempre! Quando comecei a desenvolver minha mediunidade eu ouvia histórias mirabolantes de curas sendo promulgadas, de premonições e previsões do futuro e de revelações iniciáticas sendo dadas por vários espíritos que se manifestavam como pretos-velhos, caboclos, exus, etc; mas que eram de fato (na visão desses) magos grandiosos de extrema luz cristalina.

Ouvia isso e me sentia o pior dos piores, pois meus guias apenas tratavam das coisas do dia-a-dia, da comunicação do emocional com o mental, com a ajuda a àquele que precisava de um emprego, de uma felicidade, de uma direção. Jamais fizeram manifestações estapafúrdias, mas mesmo assim eu me achava o pior médium do mundo. Pensava: “Não devo estar os deixando trabalharem.”, ou em casos piores: “Eu não estou recebendo espírito nenhum. Eles nem fazem nada grandioso ou digno de poder!”. 

Sabe o que acontece? Acontece que eu estava infectado pelo glamour propagado pelo meio. Isso me deixava completamente absorvido em mazelas que eu mesmo criava. Não conseguia perceber que no jeito simples de ajudar, no dia-a-dia, na pequena coisa, era que estava sendo feita a caridade dos guias e que eu apenas era um instrumento falho e muito precário. Hoje, depois de alguns anos, vejo o trabalho dos guias de uma forma muito mais ampla. Hoje sei que o trabalho deles é muito mais facilmente desenvolvido, pois não quero ser nada mais do que um instrumento e quero aprender com eles.

Voltando ao tema e a mensagem postada no inicio do texto, creio que de fato há um exagero do poder dos espíritos. Eles até podem fazer coisas improváveis, porém não farão apenas para encher os olhos de espanto. Tudo tem propósito e eles não tem tempo para manifestações frívolas. Além disto, o médium é um aprendiz! Deve aprender com as lições dos guias que o utilizam como ponte entre o mundo dos espíritos e o mundo material. Logo, se você tem diabetes, não coma doces! Isso além de ser altamente irresponsável, é também uma maneira de não querer tomar conta da própria vida, deixando a cargo de terceiros – nesse caso os espíritos – as coisas que competem a você. Se você gosta de beber, não use da figura do Exu, para “encher a cara”. Você só está acumulando cada vez mais débitos conscienciais. Seja responsável, pois como dizia o Caboclo Mirim:

“Umbanda é coisa SÉRIA para gente SÉRIA!”

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