Quase todas as consultas praticadas na Umbanda são proveniente de sentimentos mal resolvidos, de desafios com dinheiro, com segurança, com saúde e principalmente com relacionamentos. Algumas pessoas dirão: “É amor, não relacionamento”, eu discordo.
A questão é relacionamento mesmo, pois amor é uma palavra sublime que escapa das definições mais “dicionarizadas” e poucos conseguem sentir. Alguns dizem que vislumbram parte disto ao adentrar o campo da paternidade e da maternidade, mas nem isso é uma verdade absoluta visto que muitos não sentem esse ímpeto e é justamente essa propagação de mentiras de forma desleal de que quero tratar.
Em quase todos atendimentos nas giras abertas, sempre vem um ou outro consulente com problemas de relacionamento, reclamando da parceria, da falta de visão do outro, de como ele se dedica para aquele relacionamento e as coisas não são correspondidas. Para você que pensa isso eu trago uma afirmativa que os guias se cansam de repetir: “Ela não será correspondida, nem hoje e nem nunca.”.
O que devemos primeiro compreender é que o nível de maturidade emocional das pessoas é baixo, procuramos enxergar relacionamentos pela nossa ótica tacanha que muitas vezes escapa o ortodoxo. Acreditamos que o Amor, com A maiúsculo a tudo proverá e será o grande sustentador de toda a situação chamada “relacionamento”, porém com o passar do tempo e o descortinar da paixão, percebemos que as coisas estão caminhando para rumos não desejados, visto que as discussões se tornam frequentes, os carinhos se tornam ausentes e principalmente o mundo se torna pequeno em suas dificuldades do dia-a-dia.
Acordamos certo dia e olhamos ao lado e começamos a reparar em inúmeros defeitos e, ainda pior, quando reparamos na total e absoluta falta de comprometimento para com o próprio relacionamento. O casal procura no outro aquilo que falta-lhe no íntimo e acredita que muito doa em detrimento do que recebe, como se o relacionamento fosse um balcão de barganha.
Visto isso, não nos choca o fato de muitos procurarem a Umbanda e outras práticas religiosas, assim como feiticeiros, para que sejam amarrados em seus desejos as pessoas. No Hoodoo encontramos até uma categoria de magias de dominação e controle dedicadas a esse tipo de expediente. O fato é que acreditamos que se alguém nos fizer o que esperamos, estaremos satisfeitos. Ledo engano!
O Caboclo Rompe-Mato que trabalha comigo, sempre cita que não é expert em relacionamentos e amor, porém deixa claro que qualquer relacionamento é pautado em uma relação mútua de respeito, afeto e principalmente abnegação. Não conseguimos deixar o nosso “Eu” de lado para nos dedicar àquilo chamado “relacionamento”, pois estamos introjetando no outro todas as nossas necessidades e nossas frustrações. Frustrações essas, que com o passar das negativas e das ausências, vai se acumulando e criando um novo sentimento que é a mágoa, a mesma que com o passar dos anos de relacionamento se transformam em verdadeiras bombas-relógio emocional.
O que mata todo casal é esperar atitudes que nunca acontecerão, como se o despertar tivesse que acontecer automaticamente. Isso não ocorre, pois novamente estamos esquecendo da maturidade emocional e da capacidade de se desapegar. O que irá ocorrer é o inverso, uma sensação de impotência que pode ser resolvida, por meio de uma conversa, porém os dois lados devem estar preparados para essa conversa, o que nem sempre é o que ocorre.
Geralmente nessas conversas, a dor se torna evidente, pela demora em se expor os sentimentos e também pelo acúmulo de mágoas que envenenaram o coração e tudo se torna desafeto, se torna desavença e motivo de ferir o próximo. Se param para pensar, ambos os lados, poderiam crer que o que eles querem é o mesmo, querem ser amados e terem seus amores correspondidos. Mas como atingir esse patamar quando nem sequer nós mesmos conseguimos ouvir o que temos a dizer sem já criar três ou quatro desculpas para ferir o próximo?
Quando a conversa entre os pares não ocorre, devemos procurar um próximo caminho, com o auxílio terapêutico, seja por meio de um psicoterapeuta, de um aconselhador de casais, de um grupo religioso, de uma entidade espiritual, de um terapeuta natural, etc. Porém, até mesmo aqui, ambas as partes devem estar dispostas a se doarem, a abrirem as armaduras, deixarem as armas de lado e conversarem. O mediador – de qual origem for – terá a responsabilidade de conduzir vocês em direção a resolução dos fatos, o que nem sempre é o que se deseja.
A resolução final, na maioria das vezes, é a dissolução do relacionamento. Nisto, deixamos um rastro de destruição emocional no caminho, pois mentimos para nós, mentimos para nossos parceiros e mentimos para os frutos do relacionamento. A partir daí, a tristeza é algo que será um mote condutor da vida, quando se pautar nos dois e isso é um outro veneno para a Alma.
Cobramos tanto do próximo e nunca sequer pensamos em abrir mão de algo pelo “nós”. Abrir mão não é ser negligente consigo, deixar de empoderar-se, ser dominado pela parte oposta ou ser feito de “trouxa” como a maioria diz. Isso é lutar, ser maduro, ser adulto e principalmente ser honesto. Procuramos tanto a felicidade, mas o caminho é permeado de dor e essa dor é causada por nós mesmos e pelas mentiras que contamos, que se transformam em pedras, estas que ferem nossos pés, nesta caminhada.
Os relacionamentos modernos estão cada vez mais distantes, hoje tudo é muito efêmero… Não deu certo? Separa-se e tenta com o outro, porém os mesmos problemas voltam a surgir, estamos criando envenenamentos a conta-gotas e geralmente o efeito colateral são os filhos em sofrimento com dificuldades de relacionamento dos pais tanto juntos, quanto separados.
Nos julgamos tão inteligentes, tão sábios e tão cultos, mas nem sequer damos o direito de alguém defender seu ponto de vista sem se melindrar por aquilo. Não paramos para pensar, apenas seguimos o fluxo, pois lutar para manter ou consertar algo não tem sentido em uma sociedade que aprendeu a descartar tudo, onde tudo é substituível, inclusive as experiências humanas e o amor-próprio.
Então, eu convido a vocês para uma reflexão profunda de seus próprios atos em relação ao seu parceiro ou parceira e principalmente ao relacionamento como um todo. Além disso, aconselho que quando você for conversar com os guias-espirituais novamente, esteja preparado para ouvir o que precisa e não o que quer ouvir, pois assim ele começará a trabalhar em suas paixões inferiores, tirando o véu de ignorância que cega seus olhos emocionais.