A Internet é um veículo fantástico, com várias utilidades e ferramentas, tais como: blogs, redes sociais, podcasts e toda sorte de corrente ou círculo de auto-ajuda ou ajuda mútua que pode-se encontrar. Mas também é um poço de vaidades, egocentrismo e muita insurgência adolescente. Isso seria até tolerável, se fossem adolescentes de fato que cometem esses tropeços, porém, o que mais vemos é jovens adultos com atitudes mimadas e cheios de prepotência por possuírem dois, três ou vinte mil seguidores.
Acaba que é uma forma especular de mostrar o que se passa dentro de cada um. Quando a mídia ainda era desconhecida, eram todos amores, sempre dedicados e muito educados. A mídia passa a chamar a atenção de mais pessoas, os números impressionam e o lado sombrio toma conta daquele personagem de outrora. Isso ocorre em várias mídias, principalmente nos veículos como YouTube e os Podcasts.
Munidos do poder do microfone e da câmera, sem chance de defesa ou de réplica imediata por parte daqueles que são detratados – acabam criando verdadeiras hostes de seguidores zumbificados, repetindo a exaustão as frases proferidas por seus comunicadores e também vilanizando os que lhe são contrários. Ocorreu comigo, mas ocorre com todos, todos os dias.
Tenho que assumir que em minha vaidade me senti ofendido, pensando em formas educadas e inteligentes de combater aquela injúria, porém, pensei melhor e decidi fazer disso um tema.
Em pauta estava a minha refutação sobre os “espíritas ortodoxos” e os “espíritas brasileiros”, o que poderíamos dizer nessa gíria da internet de Espíritas-Raiz e Espíritas-Nutella ou Modinha. Claro que estou usando esses termos propositalmente.
O caso é o seguinte, em um podcast de grande audiência e o qual gostava muito – acredito que esse sentimento não é só meu, mas também de outros ouvintes, já que os números de comentários nos posts decresceram consideravelmente – tratou de um assunto referente ao mito de Atlântida. O episódio foi ótimo, porém um dos discursos – e acaba sendo muito repetido tal discurso em outros episódios – foi de que os Espíritas acreditavam em coisas como Atlântida, Lemúria e Mu. Colocando uma generalização e sem compreenderem o que de fato é o Espiritismo e o que compõe os quadros de membros das casas espíritas.
Respondi que o “Espírita Ortodoxo” – termo empregado por falta de outro melhor – não acredita nisso, mas só nos postulados de Allan Kardec e de escritores contemporâneos e referenciados por Kardec na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. O que não é de fato mentira! Ainda, acrescentei que isso se deve ao modismo dos novos espíritas, ou espiritólicos ou espíritas new-age, que misturam várias informações de cunho religioso externo ou até mesmo esotéricos, no meio da doutrina espírita. Algo que é bem óbvio e não é uma crítica pejorativa, mas uma constatação do cenário espírita.
Ainda respondi, dentro da mesma ideia, de que era comum esse pensamento dentro da filosofia Umbandista que seguia os ensinamentos de W.W. da Matta e Silva e sua Aumbhandãn (Umbanda Esotérica, Raiz de Pai Guiné) – apesar de hoje saber que isso advém muito dos seus descendentes ou sucessores. Porém também não era aceita a teoria dos mitos atlantes e lemurianos, por grande parte dos umbandistas.
Só essa minha proposição já deixa claro que estou falando de fora, de uma forma objetiva, sobre religiões (mesmo que haja certa discussão sobre) e sua doutrina básica e o que se tornaram.
Justo por isso, o interlocutor e host em sua leitura de e-mails acaba sendo jocoso, com um ar até mesmo desrespeitoso, com sua posição em resposta ao meu comentário. Primeiramente, por conhecer espíritas que acreditam em Atlântida e por assim julgar que todos assim o são ou que ao menos é algo muito divulgado no meio espírita (o que não é) e por consequência acusando-me de utilizar da Falácia do Escocês de Verdade em minhas palavras.
Essa falácia é uma técnica de oratória e retórica para confirmar uma afirmação sem bases, como podemos ver no excerto sobre a mesma:
“Falácia do escocês de verdade é uma tentativa ad hoc para manter uma afirmativa não fundamentada. Pode ser chamado de apelo à pureza como forma de rejeitar críticas relevantes ou falhas no seu argumento. Quando confrontados com um contra-exemplo a uma tentativa de generalização universal (“nenhum escocês faria tal coisa”), em vez de negar o contra-exemplo ou rejeitar a declaração original, esta falácia modifica o objeto da afirmação, para excluir esse caso específico ou outros como ele com retórica, sem referência a uma regra objetiva específica (“nenhum verdadeiro escocês faria tal coisa”). Um exemplo segue: A: Todos os escoceses são leais e corajosos. B: Mas McDougal é escocês, e foi preso pelo seu comandante por ter desertado e fugido do embate contra um inimigo. A: Mas nenhum verdadeiro escocês fugiria de um combate.” Fonte: http://www.iep.utm.edu/fallacy/#NoTrueScotsman
Ainda, acusatoriamente me coloca como um Umbandista – se ele não estava enganado!
Oras não estava. – e isso já seria motivo de refutação para falar sobre os Espíritas.
Como se para falar sobre religião ou os dogmas de certas religiões precisássemos ser professos dessa religião. Só com essa afirmativa ele acaba com os estudos, as muitas dissertações e teses de doutores antropólogos que estudam religião e não fazem parte dela.
O que talvez ele não saiba – ou não tenha dado importância – é o fato de eu ter sido Espírita por toda minha adolescência e juventude e mesmo assim, por acreditar que o Espiritismo é Doutrina, nunca deixei de sê-lo, mesmo professando hoje a Umbanda. Aliás, a Umbanda nasce como um espiritismo de terreiro ou espiritismo brasileiro, algo que o interlocutor poderia saber se tivesse procurado um pouco mais de informação.
Desta forma, com o poder do microfone, me foi colocada uma pecha vexatória, a qual só coroa a impressão que já estava tendo da comunicação, que se tornou não um programa de entretenimento mas um programa acusatório focado em vilipendiar e tripudiar sobre aquilo que os não-seguidores-cegos compactuam. Infelizmente, um programa que tinha tudo para ser muito interessante, acaba derrapando em certas situações tentando parecerem descolados ou muito “desprendidos”.
O que de fato não foi compreendido é que o Espiritismo é uma Doutrina com um cerne bem esclarecido e que o que se pratica no Brasil não é nem de longe o Espiritismo como o era na sua origem, levando assim a podermos considerar – e o movimento dos espíritas ortodoxos defendem isso – que o que aqui se faz não é espiritismo ou não é baseado nos postulados de Kardec.
Realmente o Espiritismo não tem um Papa ou uma Bíblia, mas tem uma codificação onde se pontua exatamente como se processa a doutrina espírita, os estudos espíritas e as manifestações espirituais.
Logo os Espíritas precisam de um Papa ou um livro de mitologia? Não, pois possuem sua própria codificação que já é seu guia.
Todos os espíritas acreditam em coisas esotéricas? Não.
Sabe onde está o erro no discurso do apresentador? O erro está em se achar detentor de um poder e sabedoria que não lhe competem.
Para compreender melhor essa minha posição, recomendo a leitura dos textos abaixo, de forma desapaixonada:
- O Espiritismo está morto!
- O que é Espiritismo?
- Por que o Espiritismo não é levado a sério?
- Umbanda não é Espiritismo.
- Roustaing e o erro das novas visões pessoais.
- Caminhos Podcast 03 – Espiritismo.
Se já não bastasse todo o exposto, ainda tivemos que presenciar a exibição de um programa em um spin-off de referido podcast sobre a Umbanda, onde as mais absurdas afirmações foram dadas pelo “especialista convidado” – que na verdade é um amiguinho deles.
Eu ouvi com grande horror toda aquela estapafúrdia exposição sobre temáticas que nada tem a ver com a Umbanda ou com suas muitas formas de trabalhar, inclusive pontuando algumas coisas. Porém, me calei na parte da crítica, apenas fiz uma comparação no Twitter, dizendo que chamaram um Metalúrgico para falar sobre Confeitaria.
Porém não fui o único indignado com tais posturas, sendo que grande parte dos seguidores desse blog manifestaram sua posição com argumentos corretos contra o que fora exposto e foram recebidos com agressões, palavreados chulos e muita arrogância. Sendo que a maior parte dos argumentos dados pelos seguidores foi excluído, deixando aberto a uma interpretação errônea dos ouvintes e leitores sobre as críticas. Deixaram parecer que eram crianças brigando pelo doce.
Até mesmo vários que não são leitores, ou nem sequer conheciam o blog, foram manifestar sua indignação, mas receberam o mesmo tratamento. Quando alguém expôs que ouvia nosso podcast “Papo na Encruza” e lia o nosso blog “Perdido em Pensamentos”, eis que o host do referido podcast tomado de uma insana fúria se manifestou claramente que estávamos fazendo propaganda. Esse blog manifesta claramente que nunca pediu ou incitou ninguém a fazer marketing de sua grade em qualquer veículo que tenha a mesma temática.
Porém, o host de tal podcast, creditou toda a sua fúria a figura do escritor deste blog, bloqueando-o nas mídias sociais e retirando-o dos grupos, mesmo este escritor ter sido um apoiador financeiro do podcast, quando esse era interessante. Ainda reforço, que só retirei o apoio quando o mesmo parou de ser algo em que eu acreditava.
Ademais é complicado expor tudo isso, mas acho que deve ser feita a ressalva, já que estamos sendo constantemente referidos nas mídias alheias com falácias, inverdades e afins. O Papo na Encruza completa 1 ano em 20 de Julho, trazendo algo sério – apesar de sermos irônicos, ácidos e de deixar as coisas leves – sem querer agredir ninguém, mas na esperança de que tudo se resolva para o bem de todos os ouvintes de todos os podcasts.
Estudo é importante, seriedade (sem chatice) é importante, mas acima de tudo ética é importante. Além de tudo isso, saber ponderar nas críticas recebidas é essencial.