Continuando na série Mediunidade em Estudo, vamos abordar agora a mediunidade Auditiva e a Telepatia, muito confundidas entre si, mas que são distintas mesmo cumprindo propósitos muito similares.
As práticas mediúnicas, por não serem muito bem esmiuçadas ou, até mesmo, muitas vezes ficarem em campos mais emocionais – contrariando a recomendação do codificador em passar tudo pelo crivo da razão – acabam gerando grandes dúvidas e até mesmo um tabu ao se perguntar sobre a mesma. Se você quiser perguntar para dez pessoas sobre o que é mediunidade de audição, as dez irão ter opiniões diversas. Quando ainda são manifestações mais exteriorizadas como é o caso da incorporação e até mesmo da psicofonia e psicografia, podemos até não ter grandes dificuldades em debater, compreender e por fim, formar uma opinião. Mas como é de fato que ocorre quando a faculdade mediúnica é algo restrito ao seu espaço pessoal? Quando só você sente, presencia ou ouve a manifestação espiritual? Podemos considerar um desequilíbrio, obsessão, problema de ordem mental ou psíquico? Ou podemos apenas compreender que é uma mediunidade ou fator mediúnico com suas próprias peculiaridades?
Na faculdade de audição muitos dizem ouvir os espíritos, mesmo que não ouçam e isso se dá pelo preconceito em se reconhecer diferente. A maioria de nós parte do pressuposto do efeito manada e acaba seguindo o que a maioria diz, ou seja, se a grande maioria diz que ouve os espíritos de forma muito clara pelos ouvidos materiais, eu mesmo que não sinta o mesmo, sou compelido a dizer que também o faço, pela sensação de pertencer a aquele grupo e não me deixar ser julgado como mentiroso ou mesmo taxado de fraude.
Mediunidade de Audição
Vamos ver o que a codificação, no Livro dos Médiuns, capítulo 14, nos diz a respeito da mediunidade de audição:
São os que ouvem a voz dos Espíritos. Como já dissemos tratar da pneumatofonia, é algumas vezes uma voz interna que se faz ouvir no foro íntimo. De outras vezes é umas voz externa, clara e distinta como a de uma pessoa viva. Os médiuns audientes podem assim conversar com os Espíritos. Quando adquirem o hábito de comunicar-se com certos Espíritos, os reconhecem imediatamente pelo timbre da voz. Quando não se possui essa faculdade, pode-se também comunicar com um Espírito através de um médium audiente, que exerce o papel de intérprete.
Esta faculdade é muito agradável, quando o médium só ouve Espíritos bons ou somente aqueles que ele chama. Mas não se dá o mesmo quando um Espírito mau se apega a ele, fazendo-lhe ouvir a cada minuto as coisas mais desagradáveis e algumas vezes mais inconvenientes. É necessário então tratar de desembaraçar-se, pelos meios que indicaremos no capítulo da Obsessão.
Vejam que Allan Kardec pontua as questões de existirem formas diferentes dos espíritos manifestarem a sua voz e também de como se ouvem as manifestações dos espíritos. Ele cita a princípio o tema “pneumatofonia” que na verdade é a capacidade que um espírito tem de produzir sons de forma a se ouvir algo semelhante a uma voz sem o concurso da voz humana. Não podemos considerar que uma pessoa que ouça um espírito se manifestando por pneumatofonia seja de fato um médium, pois todos os seres que estiverem em um mesmo recinto ouvirão o mesmo som. Mas ainda assim Kardec ressalta que essa voz por alguma vezes vem dentro de nosso foro íntimo, ou seja, só é escutada por nós. Nesse caso, creio eu, em se tratar de um trabalho composto tanto da pneumatofonia quanto da própria capacidade auditiva do médium. Essa é uma faculdade bem conhecida, a qual damos o nome de Telepatia.
Na Telepatia podemos distinguir as palavras de forma muito clara e com as sílabas bem divididas, formando realmente fonemas coesos, porém sentimos que essa “voz interna” é imaterial. Desta forma sentimos ou ouvimos as palavras dentro da nossa mente, o que leva muitos a julgarem que estão sendo vítimas de transtornos mentais ou de mistificação de seu próprio pensamento, porém é facilmente distinguível quando é seu próprio pensamento e quando é a influência direta por meio auditivo (e não simplesmente intuitivo) de uma inteligência exterior. O tom do pensamento e dessa voz interna é diferente, assim como a construção das orações tem particularidades bem diferentes das do pensamento do médium. É quase como se pudéssemos mesmo ouvir alguém falando dentro de nossa cabeça, com pensamentos muito distantes dos nossos e opiniões – na maioria das vezes – muito distintas e carregadas de sabedoria1.
A maioria das pessoas que dizem possuir alguma mediunidade de audição de fato possuí uma mediunidade telepática e está em contato muito próximo ao que na Umbanda chamamos de Chefe-de-Coroa e no Espiritismo chamamos de Mentor Espiritual. Contudo, há ainda uma outra forma de se manifestar a audição, pelo campo físico e pelo aparelho do duplo-etéreo (semi-material ou semi-espiritual). Quando a fala ocorre dessa maneira, ouvimos como se alguém estivesse ao nosso lado ou atrás de nós e isso não é algo só corriqueiro para os espíritos elevados (esses acabam preferindo a telepatia), mas é uma ferramenta usada por muitos zombeteiros e também obsessores para pregar peças. Seja como for, ambos os fenômenos são geralmente espontâneos, ou seja, não pode ser automatizado. Acontece sem o concurso do médium, apesar que o médium tem a capacidade de treinar o aparelhamento mediúnico para deixar de ouvir tudo. Médiuns que tem a capacidade auditiva em desequilíbrio parecem estar sempre ouvindo estática, zumbidos ou estar no meio de uma multidão de vozes dissonantes.
Essa mediunidade não existe para lograr êxito em todas as suas conquistas terrenas, mas sim para ouvir mais de perto os aconselhamentos superiores e também para servir de intermédio entre o espírito comunicante e os encarnados que aqui se encontram. A maioria dos livros ditos psicografados de fato foram escritos por meio da mediunidade de audição, onde um espírito ditava os textos e o médium audiente o transcrevia. Isso ressalta a necessidade da reforma íntima e em não permitir que as paixões inferiores interfiram na comunicação, pois podemos passar uma comunicação qualquer, desprovida de valor e até mesmo deturpada e ainda colocar o nome de um espírito ilustre para lhe creditar veracidade. Isso é um dos caminhos que levam a queda do médium.
De fato a telepatia e a voz ouvida “supostamente” de forma direta não passam pelo nosso canal auditivo material a princípio. No caso da telepatia os chakras frontal ou coronário são excitados para receberem o pensamento do espírito comunicante e no caso da comunicação por voz direta mediúnica (aquela que só um médium ouve, mas de forma clara, como se outra pessoa encarnada estivesse falando) geralmente tem a excitação de ambos os chakras concomitantemente.
Allan Kardec pondera no Livro dos Espíritos que os médiuns acreditam que é o ouvido físico que ouve, porém ele destaca que na verdade é o corpo espiritual ou a alma quem ouve, e essa seria a razão de mesmo tentando interferir na comunicação, acabamos por falharmos. Mesmo que comprimamos os ouvidos ou coloquemos tampões auriculares, ainda assim iremos ouvir a voz tão alta e clara como se não estivéssemos tentando impedir nada, pois os espíritos comunicantes falam diretamente para a Alma, ou em outras palavras, manipulam os chakras do duplo-etéreo e do corpo espiritual a fim de passar a sua mensagem.
Médiuns Falantes
Não tem como falar de médium auditivo sem falar também dos médiuns falantes ou psicofônicos. O médium auditivo ouvirá a mensagem e a reproduzirá com sua própria fala, entonação e seu timbre de voz, porém no caso dos médiuns falantes a mensagem é transmitida sem o concurso consciente do médium, podendo essa estar totalmente desfigurada, com as impressões de fala do espírito desencarnado. Nem sempre o médium falante é capaz de ouvir com antecedência o que o espírito quer passar de mensagem. Vamos ilustrar isso:
- Médium Audiente: Espírito Fala ao Perispírito do médium que por sua vez transmite a mensagem ao duplo-etéreo e assim é capaz de ser compreendida pelo aparelho mental do médium.
- Médium Falante: Espírito atua diretamente no duplo-etéreo e transmite a sua mensagem.
- Voz Direta: O espírito comunicante manipula os eflúvios elétricos (magnéticos) ou ectoplasma para vibrar sua voz e manifestá-la para todos.
Esse mecanismo é similar com o mecanismo da psicografia e alguns médiuns de Umbanda possuem o conjunto da psicografia, da audiência e da fala mediúnica. A isso geralmente damos o nome vulgar de Incorporação.
Dentro das explicações de Kardec a respeito da mediunidade encontramos a observação abaixo:
Embora esteja perfeitamente desperto e em condições normais raramente se lembra do que disse. Numa palavra, a voz do médium é apenas um instrumento e que o Espírito se serve e com o qual outra pessoa pode conversar com este, como o faz no caso de médium audiente.
Mas nem sempre a passividade do médium falante é assim completa. Há os que têm intuição do que estão dizendo, no momento em que pronunciam as palavras. Voltaremos a tratar desta variedade quando nos referimos aos médiuns intuitivos.
Olhando assim mais de perto nos assemelha claramente ao fenômeno de incorporação, muito comum nos terreiros de Umbanda.
1 Quando se trata de um espírito benéfico e elevado, logo assim, quando se trata de um espírito negativo e atrasado, também percebemos sua índole pela entonação mental.