Nessa série Sacramentos de Umbanda, procuramos trazer ao leitor uma explanação direta dos dirigentes espirituais sobre as práticas sacramentais que encontramos dentro da Umbanda. Essa, por ser uma religião multifocal e multicultural, irá também refletir a pluralidade em suas práticas. A procura por um entendimento comum, muitas vezes é infrutífera, pois apesar de estarem sob a égide de um mesmo tronco – a palavra Umbanda – as práticas se diferem de tamanha forma, que poderíamos dizer se tratarem de religiões distintas. Mas não o são porque em seu cerne eles mantêm uma mesma ideia e um mesmo núcleo, a Caridade.
Abordamos no artigo anterior, os rituais de Batismo e nesse contamos com nossos entrevistados para falar um pouco sobre O Cruzamento e o Amaci.
O Cruzamento e o Amaci.
Dois rituais muito importantes dentro da Umbanda e que se destinam quase que exclusivamente aos membros que compõe a corrente mediúnica, sejam eles médiuns, curimbeiros ou cambones.
Cada casa tem seu jeito de apresentar os cruzamentos, porém nos registros de casas muito antigas podemos encontrar o ritual sendo feito pelo dirigente ou guia-chefe da casa, ou ainda por alguém por ele definido. Usando-se da Pemba Branca ou de Pemba ralada, marcava-se no corpo do médium cruzes (+) em determinados pontos, tais como: Fronte, Tórax, Umbigo (alguns trocam pela nuca), Costas das Mãos e Peito dos Pés.
Dessa forma, cruzando e abençoando esses locais, lavava-se a cabeça com o Amaci, que é um preparo de ervas bem grosso e encorpado, preparado também pelas figuras acima citadas.
Há quem inverta o ritual, primeiro fazendo o Amaci e posteriormente cruzando os médiuns, porém o que devemos notar aqui é o intuito desses rituais, de preparar e sacramentar certos pontos de “acoplamento” entre os espíritos comunicantes (guias-espirituais) e os encarnados.
Não é algo que deva ser feito a qualquer momento, mas em um ritual específico e geralmente fechado e dedicado só aos trabalhadores da Casa Espiritual. Agora acompanhe abaixo, as respostas de nossos entrevistados para as perguntas sobre Cruzamento e Amaci.
Entrevistados responde: O Cruzamento de Médiuns e Amacís
Entrevistamos uma série de dirigentes espirituais em busca de informação de como eles procedem em suas casas, terreiros, cabanas, tendas e grupos espiritualistas e de Umbanda. Dentre esses destaco:
- José Antônio Rodrigues, Dirigente Espiritual da Casa de Caridade Nossa Senhora Aparecida – Santo André – SP.
- Allyne Freitas, Dirigente Espiritual da Tenda de Umbanda Cabocla Jandira e Vô Joaquim – São Paulo – SP.
- Fernanda Maldonado e Júlio Rocha, Dirigentes Espirituais da Tenda de Umbanda Pai Joaquim de Angola e Mãe Barbina – Mogi das Cruzes – SP
- Renato D’Ogum, Dirigente Espiritual do Templo de Umbanda Ogum Megê e Pai Joaquim, São Paulo – SP.
- Felipe Campos, Sacerdote do Templo-Escola Cacique Pena Azul – São Paulo – SP.
- Pirro d’Oba, Dirigente Espiritual da Oca dos Capangueiros, administrador da página UTHiS – Umbanda; Tradição, História & Sociologia.
- Paulo Ludogero, Dirigente Espiritual da Casa de Pai Flecha Certeira e Mãe Jaciara.
5. O cruzamento dos médiuns tem um propósito específico além de reconfirmar suas forças e energizá-lo?
José Antônio Rodrigues: Entendo esta pergunta como o cruzamento inicial e quando o mesmo se dá solicitado pela entidade chefe, e é realizado por um médium de frente da Casa e tende sim a fortalecê-lo para a Gira a iniciar.
Allyne Freitas: Não trabalhamos com cruzamento na Tenda, aqui fazemos o trabalho de reconfirmar as forças dos Orixás com deitadas. Geralmente nas forças dos Pai de Cabeça dos filhos. Eles fazem uma pequena oferenda e trazem a bebida do Orixá. Deitam no terreiro, lavamos a nuca e a coroa com a bebida dos Orixás e cobrimos com o pano de cabeça, eles deitam na esteira e durante a deitada passamos pelo corpo deles, o pau de chuva e o adjá. É o ritual simples, porém com uma energia maravilhosa. Entre os itens que trazem são 4 velas na cor do Orixá, a guia nas forças do Orixá e flores.
Fernanda Maldonado e Júlio Rocha: Em nossa casa o cruzamento do médium é feita pela entidades dona da casa, o propósito desse cruzamento é a energização e purificação do médium.
Renato D’Ogum: Cruzamento efetuado pelas entidades sagradas e de luz tem um propósito bem maior do que imaginamos, alguns cruzam com objetivo de não pegar carga negativa do terreiro, ou de onde aquele determinado médium também passa. Claro, tudo depende do livre arbítrio do médium, costumo falar que médium bom é aquele que tem responsabilidade das suas atitudes e atos.
Felipe Campos: O Cruzamento pode ter diferentes funções dependendo de qual ritual ou intenção se está aplicando, pode ser uma iniciação, onde são cruzados pontos chaves de fluxo energético do corpo do médium para que funcione como portais da energia que irá ser iniciado, essa iniciação também pode ter uma função de graduação do médium ao serviço mediúnico dentro da hierarquia existente no seu Templo. Também pode ser utilizado não para abrir pontos energéticos, mas para fechar, dependendo da necessidade energética ao qual o médium ou a casa passará, como por exemplo, na quaresma que muitos Templos fazem o cruzamento para proteger o corpo espiritual e físico do médium, logo o cruzamento é uma ritualística versátil e fundamental do rol ritualístico de Umbanda.
Pirro d’Oba: Sabemos que o ser humano tem defeitos, busca evolução e lapidação através da religião. Os cruzamentos, antes de tudo tem o intuito de fornecer um realinhamento entre o alto, o embaixo e o terreno. Envolver o médium num processo de transcendência nos mistérios universais da existência.
Paulo Ludogero: Em nossa doutrina além dos itens citados (ver primeiro artigo sobre Sacramentos de Umbanda: Batismo), dependendo da situação serve para fechar o corpo e proteção.
Allyne Freitas: Amaci é a lavagem da coroa do filho nas forças do Orixá, aqui temos o ritual de fazer nas 12 forças. Cada amaci é feito com as ervas passadas e deixada de repouso na quantidade de dias pedidos também. O filhos ficam de preceito e no dia do Amaci abrimos a Jurema, saudando o mesmo, defumando a cada filho e suas guias são deixadas junto ao amaci para serem limpas e renovada as energias. Aqui saudamos e usamos o Amaci como intuito de entrega aos Orixás de corpo, alma e coração.
Fernanda Maldonado e Júlio Rocha: Sim o preceito e o mesmo. O que difere apenas e o tempo do preceito. A finalidade do ritual de casamento na umbanda e a confirmação junto ao astral do matrimônio. Os itens são a vela, o vinho, a pemba , o sal e o pão.
Renato D’Ogum: O Amaci é um conjunto de forças energéticas manuseadas por ervas frescas para uma possível iniciação ou uma coroação. Hoje em dia é muito comum dar um amaci no batismo ou em uma breve iniciação de um filho de umbanda quando se entra em um terreiro para iniciar sua vida Umbandista. Assim, existindo propósitos maiores para Amacis.
Felipe Campos: O Amaci é um preparado de ervas maceradas de um determinado Orixá ou Orixás, que possuem um grande poder da natureza e de suas potências universais que chamamos de Orixás. São realizados para purificar, iniciar, batizar, enfim, e entram como uma das principais ferramentas espirituais e naturais da religião de Umbanda. Religião que desde o seu inicio recorreu aos Amacis e que possui no seu principio a não utilização de sangue animal, neste caso, o Amaci é usado com tanta força quanto qualquer outro ritual que se use algum liquido ou lavagem de cabeça.
Pirro d’Oba: Amací para nós é um ritual com ervas consagradas. Serve para que possamos doar as energias dos Orixás aos médiuns de acordo com os Orixás regentes de seus Orís. Ou seja, se temos 7 filhos na casa que farão o ritual anual de amací, detalhamos quais são seus Orixás de cabeça. E é com essas informações que fazemos o processo, com foco de fornecer ao médium um desdobramento de suas potencialidades, podendo assim auxiliar através do impacto energético e espiritual uma sensação de Epifania em sua experiência dentro do terreiro.
Paulo Ludogero: Em nossa doutrina é um conjunto de ervas maceradas e consagradas pelos dirigentes, tem como função: