Este é um texto que jamais gostaria de fazer, não porque quero jogar as coisas debaixo do tapete, mas porque é algo que depõe muito contra a luta dos religiosos sérios que se preocupam apenas em manter a dignidade de suas manifestações mediúnicas.
Na data de 07 de Dezembro de 2018, no programa “Conversa com o Bial”, a holandesa Zahira Lieneke Mous, mostrou a cara em uma entrevista denunciando abusos sexuais que ela foi vítima. Não só ela, mas ao menos quinze outras mulheres acusaram o médium João de Deus, dirigente da Casa Dom Inácio de Loyola e supostamente um médium de cura, de ter cometido algum tipo de abuso sexual, de abuso de incapaz e também de estupro.
Denunciaram que, em busca de cura, foram submetidas a situações vexatórias e principalmente a agressões físicas sexuais.
No relato das mulheres, podemos perceber o medo que elas tinham de sofrer alguma reprimenda espiritual caso não concordassem com o “absurdo” que estava sendo cometido. Coloco entre aspas a palavra absurdo, pois na verdade isso é um crime.
Relatam que elas sofriam ameaças de que suas doenças voltariam, caso não fizessem o que ele estava mandando. Algumas mulheres que foram vítimas, também relatam o medo de serem alvo de espíritos negativos, enviados pelo médium, caso não atendessem o que ele requisitava.
O que mais me chamou a atenção é que há denuncias desse tipo desde 2006, mas nada foi feito, pois não “havia provas” para incriminá-lo.
Já não bastasse a violência a que essas mulheres foram submetidas, ver seu algoz ser inocentado e ter toda uma aura de benevolência e santidade ao seu redor, só nos demonstra o quão distantes de justiça estamos.
João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, supostamente possuiria o dom de curar as pessoas de suas doenças, mesmo as consideradas incuráveis.
Contudo, o mesmo nunca se disse espírita, apenas se coloca como um médium espiritualista independente, que atende conforme sua própria identificação espiritual. Desta forma ele não é Espírita, Umbandista, Candomblecista, Juremeiro e etc.
Quero deixar claro que o pronunciamento da FEB me deixou mais preocupado do que aliviado, pois a FEB consegue às vezes transmitir mensagens que não são bem compreendidas em sua totalidade.
A nota da FEB está a seguir:
“A Doutrina Espírita atua com o trabalho de caridade material e espiritual desinteressada, sem nenhum propósito a não ser o de auxiliar os necessitados.
“Toda a prática espírita é gratuita, como orienta o princípio moral do Evangelho: Dai de graça o que de graça recebestes” (O evangelho segundo o Espiritismo, cap. 26). O Espiritismo orienta que o serviço espiritual não deve ocorrer isoladamente, apenas com a presença do médium e da pessoa assistida. Não recomenda, portanto, a atividade de médiuns que atuem em trabalho individual, por conta própria. Estes não estão vinculados ao Movimento Espírita, nem seguindo sua orientação. A Federação Espírita Brasileira, junto ao Movimento Espírita, fundamentada na tríade Deus, Cristo e Caridade, pratica o bem, levando consolo e esclarecimento à humanidade. “Não é a mediunidade que te distingue. É aquilo que fazes dela”. (Emmanuel, em Seara dos Médiuns, cap. 12, psicografado por Chico Xavier).”
Portanto aqui eu fundamento parte desse texto e dessa minha opinião. Mediunidade é algo para ser levado a sério, porém é pertencimento de várias pessoas que não são espíritas. Não podemos associar mediunidade ao movimento espírita tão somente.
Mediunidade existe desde épocas remotas da humanidade, desde o primeiro ser vivente e não é exclusividade de nenhuma religião. O fator ético que rege a mediunidade é igual para todos, sendo que não devemos usar da mediunidade para fins próprios e egoístas, tampouco para incutir medo ou dar vazão a nossa devassidão.
Desta forma, todos os atendimentos devem ser feitos claramente – óbvio – publicamente e contando com pessoas – que não os atendidos e o médium – para fiscalizar, observar e supervisionar o atendimento. Fato esse que ocorre na Umbanda, com a presença dos Cambone, que são os fiscais do Terreiro.
Mesmo as religiões não-cristãs que se utilizam da mediunidade, mas obviamente por não serem cristã não seguem o Evangelho do Cristo, ainda comungam de princípios morais bem claros, quanto a mediunidade.
O médium não é um ser diferente e nem um indivíduo divinizado, mas sim um ser humano comum, que tem na ferramenta mediúnica um chamado para o trabalho, auxiliando a si e aos seus próximos.
Não deve se utilizar disto para glórias pessoais e nem para prazeres mundanos, considerando que isso também não implica em celibato.
Também deixo claro, que todas as religiões são compostas por seres humanos e trarão em suas fileiras pessoas com desequilíbrios claros de caráter, personalidade, emoção e alguns até mesmo criminosos. Desta forma, não devemos culpar a religião ou religiosidade por esses absurdos, mas sim pessoas que já são duvidosas em seus caráteres, que se aproveitam de inocentes e de fragilizados.
Esses relatos devem ser apurados, achando os fatos e responsabilizando os culpados com TODO o rigor da LEI. Tanto a lei Humana, quanto a Lei Divina. Se você for vítima de algo desse tipo, uma violência dessas, seja onde for, denuncie as autoridades. Não fique quieto ou com vergonha, procure expor isso, procure a mídia, procure um serviço social, procure a polícia.
Não podemos jogar a sujeira embaixo do tapete e esquecer de que temos responsabilidades para com a sociedade. Pois quando o mesmo ocorre em outras denominações religiosas, como pastores que abusam de fiéis, como padres que cometem pedofilia, etc; nós somos os primeiros a levantar e apontar o dedo.
Sejamos íntegros de fato! Lutemos contra casos como esses em todos os setores da sociedade humana. O que vemos aqui é um desvirtuamento completo das faculdades mediúnicas para fins próprios.
Questionaram até mesmo em um grupo se o processo mediúnico incoporativo não permitiria que um espírito de baixa vibração (negativo) se apoderasse do médium para cometer tais crimes. A resposta disse é: NÃO! Pelo menos não de forma inconsciente, visto que os espíritos só conseguem se aproximar de nós por meio da identificação vibratória, ou seja, da semelhança.
Para um espírito com essa natureza selvagem e criminosa, se apoderar do médium acusado e perpetrar tais atrocidades, com certeza o mesmo já deveria trazê-la no íntimo. Em nenhuma processo de obsessão, seja ele qual for, a vítima é tão inocente assim.
Então, devemos compreender que a incorporação é um processo, a possessão é outro processo e para ambos, deve haver um ritmo, uma equivalência energética e vibratória. Não há como eximir a culpa do humano nestes casos. Mais uma vez, convido a todos para trabalhar na integridade de fato e realmente.