Orixá briga pela cabeça? Orixá incorpora? E meu Guia? Incorporar depois de beber ou em Casa? O que é sincretismo religioso? Algumas dúvidas respondidas nessa edição do Perdido em Perguntas.
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As respostas aqui dadas refletem apenas a opinião do autor deste blog em base de suas experiências pessoais, estudos e leituras. Caso não concorde, basta deixar pra lá.
01- Guia briga pela minha cabeça? E Orixá?
O Guia de Lei jamais brigará pela sua cabeça, muito menos o Orixá. O Orixá ao irradiar seu filho define a estratégia e objetivos da vida do seu filho, em outras palavras, define o que precisamos aprender nessa existência. Como uma entidade superior, irradiação da própria Divindade, não possui a concepção de ego como nós humanos, logo se você tem um Orixá de cabeça, outro não irá brigar com seu Pai ou Mãe para tomar a cabeça do filho. O que se diz como briga de Orixás geralmente se dá por uma visão parcial das forças da pessoa. O leitor de Ori (quem está vendo quais são os pais de cabeça) veem uma força tomar a frente do verdadeiro Orixá, pois nesse exato momento aquela força daquele Orixá é mais necessária para o ser encarnado ou pode ser que esteja sendo protegido por um apadrinhamento.
Já os Guias, são espíritos que não tem porque também brigar para ver quem irá se manifestar em você naquele momento, até porque se forem guias de Lei eles obedecem as regras do chefe-de-cabeça do médium. Então vamos supor que você tenha um Caboclo como pai de Cabeça, todas as demais entidades só irão se manifestar quando esse Caboclo der sua permissão. Então aquele médium que manifesta mais de uma entidade ao mesmo tempo está mais desequilibrado ou sofrendo de animismo mesmo.
02 – Orixá incorpora ? Guia pode sofrer influência de orixá e vice-versa?
Orixá, na minha concepção, não incorpora, simplesmente pelo fato do Orixá ser uma força primordial e não tem como ser simplesmente canalizada pelos nossos corpos materiais e perispirituais. Seria como tentar conter o poder de alguns sóis, parafraseando algumas histórias em quadrinhos. O que vemos geralmente se manifestando com o nome de orixás são Encantados Intermediários ou Intermediadores. Então, o Ogum que se manifesta no médium do terreiro não é o OGUM primordial, senhor da LEI MAIOR, mas um falangeiro deste Orixá, que vibra na mesma frequência e tem as mesmas qualidades, porém em teor menor próximo ao que nós podemos receber. E também o que ocorre não é bem uma incorporação, é mais para uma irradiação da força daquele Orixá que toma conta do mental do médium e manipula-o. Diferente da forma como os guias se manifestam.
Os guias podem sim sofrer influência dos Orixás, atéporque as entidades espirituais, falangeiros da Umbanda, servem aos mesmos dentro de sua mitologia, liturgia e energias. Então sempre um guia vai se sujeitar as ordens deste Orixá. Mas jamais um guia vai se omitir sobre o que ele acredita ser correto, dentro daquilo que ele pode se pronunciar. Porém o inverso não é possível, um Orixá jamais será ORDENADO por um guia.
03 – Sincretismo religioso pra que?
O sincretismo e um fenômeno que acontece em várias culturas do mundo, em alguns casos para deixar familiar um novo culto religioso e em outros para ocultar o culto original dentro de um mais aceito pela sociedade. Os africanos, ao serem trazidos para a América, acabaram por ter que tomar como seus, os santos e o Deus europeu, católico, etc. Então para continuarem a cultuar seus deuses acabaram por disfarçá-los nos santos católicos. Primeiramente fizeram a observação dos domínios de cada santo e em que eles se assemelhavam aos seus Orixás, então assim surgiu o sincretismo de Ogum, guerreiro com o São Jorge Guerreiro, entre outros.
Geralmente, dentro das imagens, colocava-se o Otá,uma pedra consagrada que recebia o Axé do Orixá do seu cultuador. Então quando os senhores dos escravos viam os negros cultuando as imagens de santos, deixavam os mesmos em paz, sem saber que na realidade eles estavam cultuando o Otá colocado dentro da imagem ou abaixo da mesma no chão.
Através dessa associação é que podemos dizer que São Jorge não é Ogum, o Orixá africano, mas sim UM Ogum, pois possui as atribuições da divindade maior Ogum.
É bom lembrar que o sincretismo não é fenômeno daUmbanda, isso surgiu muito antes, já em tempos clássicos, quando os mitos eram reinterpretados conforme o povo dominante. No caso desse sincretismo mais próximo dos Orixás com os Santos Católicos eles ocorreram por necessidade, então também não é propriedade da Umbanda. Mas, como a Umbanda é uma religião que resolveu unir as tradições religiosas dos fundadores da pátria Brasil, acabou por adotar o sincretismo que era feito. Então vemos um Santo Católico (europeu) com nome Africano sendo cultuado por nativos Americanos (Índios), mais eclético impossível.
04 – Sempre que eu bebo eu sinto vontade de incorporar Exu/Pombagira ou realmente incorporo Exu/Pombagira. O que está acontecendo?
Isso é muito comum de ouvir, infelizmente. Exu, Pombagira ou qualquer outra entidade não acosta ou encosta pra incorporar por médiuns alcoolizados. Ouvimos dizer que é falta de doutrina e acabamos confundindo e dizendo que a doutrina falta para a entidade, isso jamais pode ser verdade, pois as entidades que trabalham na religião de Umbanda são guias de Lei, seguem uma ordem, uma hierarquia e regras específicas. Essa doutrina na verdade é responsabilidade do médium. Quem se aproxima do médium para incorporar não são suas entidades, salvo se a mesma tiver que dar uma bela lição no médium, e mesmo assim eles se utilizam de espíritos inferiores para fazê-lo. As entidades que se aproximam são as afins com a energia alcoólica, espíritos inferiores, negativados, negativos, viciados, zombeteiros.
Então, não adianta culpar as entidades por um erro sendo cometido pelo médium. Para a incorporação correta ocorrer é necessário todo um preparo do médium, com preceitos como dieta mais leve, com pensamentos mais tranquilos, banhos de descarrego ou propiciatório, etc. Além de local devidamente preparado.
05 – Então quer dizer que não posso incorporar em casa? Ou em uma festa com os amigos?
Obviamente não! A mediunidade deve ser exercida de forma ordenada, organizada e com muita responsabilidade. As casas espíritas tem suas preparações próprias e os terreiros também. Os terreiros ainda tem as firmezas, assentamentos, entidades que são evocadas, etc. Em casa isso não ocorre, além do que geralmente em casa damos consultas para familiares ou amigos, isso é contra a ética, pois estamos ligados a essas pessoas e podemos deixar o médium assumir a frente da entidade. Pode ocorrer de um familiar/amigo ir ao terreiro e de forma aleatória acabar passando com sua entidade, então como existe uma condução espiritual nesse caso não há problema, mas mesmo assim deve-se ficar sempre alerta para não permitir que nossas paixões assumam ou que o recado que queríamos passar para aquele cunhado seja transmitido por você com o peso do nome da entidade.
E em festa de amigos, bar, etc, jamais! Nem precisa ser tão óbvio e explicitar qualquer coisa sobre o assunto.