A interferência mediúnica existe com toda certeza e é um dos graves problemas dos dias atuais na senda espiritualista, principalmente na Umbanda, visto que essa por sua característica natal dá consultas para pessoas que se encontram em estado de necessidade ou enfraquecidas.O médium como um instrumento falho pode sim interferir na comunicação, e isso nunca será isento, nem sequer nos casos de médiuns totalmente inconscientes. O espírito usa do aparelho mental do médium para passar suas impressões e idéias, logo não há como não se ‘contaminar’ com o pensamento do próprio médium, que mesmo em um transe inconsciente não se silencia. O médium inconsciente distancia seu corpo espiritual do duplo permitindo que o espírito comunicante tenha uma maior liberdade dentro de seu campo de atuação, apenas isso.

Em médiuns iniciantes é comum que isso ocorra e até normal, porém deve-se prestar atenção para que esses iniciantes recebam o amparo necessário e sejam guiados adequadamente recebendo instruções para aprimorar seu nível moral e intelectual acerca da espiritualidade. Não basta apenas ser um transmissor, é preciso ter qualidade na transmissão do pensamento. Para o médium iniciante vale a ressalva dos trabalhos de desenvolvimento mediúnico em sessões fechadas, sem atendimento do público, em muito para se familiarizar com as emanações de seus guias e posteriormente começar a reconhecê-las adequadamente. Além de se harmonizar com a conduta da casa em que está trabalhando e com o tempo começar a discernir o que é pensamento do guia e o que é pensamento do médium. A interferência sempre existirá, porém ela tem que ser o menos danosa possível, por isso mesmo é que não é ético e não se recomenda fazer atendimento espiritual para familiares e amigos, pois podemos estar usando do artifício do transe mediúnico e da boa-fé do guia espiritual para passar recados que gostaríamos de dar.

Além dos desenvolvimentos mediúnicos na prática, também se faz mister o estudo. Ler é fundamental, mas pensar sobre o que leu é mais importante. Não adianta ler todos os livros sendo que na maioria das vezes não se capta a mensagem ou instrução que o livro está passando. Então é importante sempre questionar seu sacerdote ou sacerdotisa acerca de dúvidas e questões que podem parecer básicas. O verdadeiro Babalaô ou Ialorixá, irá te auxiliar sem arrogância, sem orgulho e sem vaidade, pois ele está (ou deveria ao menos) a serviço da Lei Maior e da Justiça Divina. Logo não pode agir de forma destoante do que se espera. Pai e Mãe de Santo que manda muito na vida do filho ou quer aprisioná-los tem sérios problemas espirituais e também de orgulho e vaidade. Cuidado!

Existem cursos das mais diversas formas, explicando desde a Teologia Umbandista até mesmo sobre a manipulação dos elementos, o que conhecemos como Magia! Não importa o que você tem como regra na sua vida espiritualista, estudar é importante, e em cursos, sejam presenciais ou EAD, a cada resposta encontrada uma nova pergunta aparece, abrindo assim um novo campo para pesquisa.

Então, não há como fazer parte de um trabalho mediúnico de aconselhamento ou até mesmo de desobsessão se antes não nos aprimorarmos. Como dito em artigo anterior – Obsessões e suas relações interdependentes – as trevas nunca estão em descanso e ela também se aprimora. Mesmo os médiuns mais antigos devem sempre se manter alertas e seguir sempre o lema: Orai e Vigiai. Não se arrogue como detentor da verdade absoluta e nem se autointitule como o médium firme e poderoso, todos estamos sujeitos às tentações, aprimore-se e em caso de necessidade procure ajuda sempre.

Abrangendo mais esse assunto, toco agora em outro ponto que me preocupa mais, é o caso de médiuns que são dirigentes de casas espirituais e que permitem a interferência. Se isso para um médium iniciante já é preocupante imagine então para um médium que tem o predicado de Sacerdote? Ou Pai e Mãe?

Jamais um zelador ou dirigente deve deixar suas paixões pessoais interferirem na condução do terreiro, o mesmo tem regras e diretrizes, e devem ser cumpridas, porém obstante isso não há qualquer nexo em interferir na vida pessoal do filho de santo ou médium umbandista ou de qualquer outra denominação. A espiritualidade está aí para nos libertar e não para nos arranjar um novo senhor(a).

Sacerdotes que se encontram em desequilíbrio ou que levam para os trabalhos espirituais as mazelas de sua vida pessoal, devem antes de mais nada, serem informados de sua conduta errada. Eles não são infalíveis, é necessária a compreensão dos filhos, mas também é mais importante ainda a abertura do pai e mãe de santo as críticas que os filhos fazem. A espiritualidade tem sua própria agenda, sabemos que é algo sério e que assim deve ser levado, mas todos os médiuns são antes de mais nada seres humanos, cheios de imperfeição e procurando esclarecimento. Além disso, temos nossos próprios desassossegos com a vida pessoal, com o trabalho material, com o trânsito e com estudos profissionais.

Então caro sacerdote, não se faça de rogado, quando um filho chegar com uma sugestão ou até mesmo reclamação. As giras sem hora pra começar e acabar, as inúmeras interferências na própria mediunidade a fim de conduzir ou controlar a vida do médium, a cobrança de forma desnecessária, a retórica desmedida, falação exagerada e a falta de indulgência, são erros comuns cometidos por pessoas que tem a alcunha de dirigentes.

Ainda mais quando há predileção dentro do terreiro, então aí, tudo se complica mais. Como pessoas, simpatizamos melhor com esse ou aquele sujeito, porém como sacerdotes e dirigentes temos que entender que todos são iguais perante a Lei de Pemba. Então se um filho comete gafes, está em estado anímico ou até mesmo mistificando, está exagerando, está conduzindo sua mediunidade mais para a manifestação teatral dos fenômenos do que para a evolução moral e intelectual do ser, a sua obrigação dirigente é conduzi-lo de volta aos trilhos, mesmo que seja necessário utilizar-se do expediente do puxão de orelhas. Coíba os exageros e os seus próprios exageros pessoais. Se deixarmos a manifestação correr solta, os espíritos guias não mais conseguirão se aproximar de nossos campos mediúnicos, logo abriremos a porta para uma obsessão coletiva. E principalmente, mantenha seu alerta ligado, pois o dirigente é o alvo, ao mesmo tempo,  o modelo que todos os demais irão seguir.

As evasões do terreiro ocorrem muito por falta de conduta adequada dos dirigentes. Muitos médiuns sérios e comprometidos com o trabalho de assistência e aprimoramento íntimo acabam por se afastar de locais onde se veem manifestações estapafúrdias e alguns querendo aparecer mais que o outro, ou quando o dirigente começa a ditar regras que ele mesmo não cumpre.

Então esse artigo é um alerta para todos que trilham a senda da mediunidade, seja você iniciante, experiente ou dirigente. Então vamos juntos, eu, você e todos que amam a espiritualidade, procurar se focar mais no aprimoramento. Deixando velhos dogmas no passado sem perder a beleza e a forma de praticar a Umbanda e os demais cultos espiritualistas.

Axé e Saravá!

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