Texto originalmente publicado no Blog Pai Joaquim.
No fenômeno mediúnico da chamada incorporação o que ocorre é um verdadeiro envolvimento mediúnico, que significa um entrosamento das correntes vibratórias próprias do médium, emanadas de suas criações mentais e espirituais com as do Espírito comunicante.
Esses aspectos acima colocados, aplicam-se a quase todos os tipos de faculdades mediúnicas e a qualquer grau de passividade do médium (consciente, semiconsciente ou inconsciente). Esse nível de consciência do fenômeno é apenas uma questão de aptidão própria de cada médium e da forma de manifestação e não da essência do fenômeno, que se processa sempre obedecendo ao mecanismo acima descrito. Conclui-se, pois, que a alma do médium sempre participa do fenômeno da comunicação, ou seja, o médium é o veículo e o filtro do pensamento do espírito.
Sabemos que os nossos órgãos dos sentidos como ouvidos, olhos, etc., estão condicionados pela natureza, a fim de perceberem as vibrações dentro de um certo limite. Assim é que o nosso ouvido não percebe as vibrações que estejam abaixo ou acima do seu limite normal, bem como a nossa vista não chega a perceber os raios cujo comprimento de onda está acima ou abaixo da nossa faixa de normalidade.
No caso da mediunidade, o médium se coloca durante o transe em condições favoráveis de percepção mais nítida do mundo espiritual que nos rodeia; por haver uma exteriorização do perispírito, fundamento de todo o fenômeno mediúnico, este passa a vibrar em regime de maior liberdade, deixando-se influenciar pelo campo vibratório de entidades desencarnadas. Estas por sua vez, livres do corpo denso de carne se situam em plano vibratório diferente do perceptível normalmente pelos encarnados, somente podendo se fazer sentidas e se comunicarem conosco quando encontram médiuns que vibram dentro da mesma faixa em que se encontram. Havendo uma perfeita correspondência entre o clima vibratório da entidade desencarnada e o do médium, estamos diante de um fenômeno chamado envolvimento mediúnico, em que a pessoa encarnada passa a sentir a presença do Espírito desencarnado, podendo perceber-lhe as sensações, as emoções, as intenções, os pensamentos e transmiti-los de acordo com a sua livre vontade, deixando ou não se envolver por essa nova personalidade. É aqui que reside o ponto nevrálgico da questão: ou de nos deixarmos arrastar pura e simplesmente, ou de reagirmos, tentando impor nossa vontade. Se agirmos como na primeira hipótese, corremos o risco de sermos obsediados facilmente; se agirmos como na segunda, podemos passar uma vida inteira sem desenvolvermos a faculdade, dominados pelo receio de servirmos de instrumentos às entidades desencarnadas. Como se vê, a educação mediúnica, através do conhecimento e das praticas ordenadas, exige um comportamento eqüidistante das duas situações, e ensina o médium a se manter em posição de equilíbrio e vigilância sem que esta se transforme em refratariedade. Tendo então condições de controlar o fenômeno, isto é, saber quando e como uma mensagem é conveniente ou causadora de confusão e mal-estar; ter o bom senso de analisar o que vai filtrar ou o que está filtrando.
Os Espíritos superiores baixam o seu teor vibratório, aproximando-o do nosso, envolvendo-se com os fluidos grosseiros de nosso ambiente, tornando-se assim mais acessíveis; o médium em transe, por sua vez, se eleva através do preparo antecipado e da disciplinação dos recursos mediúnicos, podendo, então, dar-se a interação entre os dois psiquismos – o do desencarnado e o do médium, criando-se a condição para a comunicação. Uma baixa e o outro sobe vibratoriamente podendo dar-se a comunicação.
O caso contrário também pode acontecer. Médiuns com boa capacidade vibratória poderão baixar suas vibrações para servirem de instrumentos a entidades inferiores, a fim de que estas sejam esclarecidas e orientadas. Uma vez terminada a tarefa o médium retornará ao seu padrão vibratório normal não lhe ficando sensações desagradáveis próprias do Espírito comunicante, mas sim o bem-estar de ter cumprido o seu dever cristão.
— Do Papel dos Médiuns nas Comunicações Espíritas
Existem dois aspectos que são fundamentais para a compreensão do papel dos médiuns nas comunicações espíritas:
– A faculdade mediúnica é um dom inerente a todos os seres humanos, tanto quanto a faculdade de respirar o é. O espírito encarnado une-se ao corpo molécula a molécula, através do perispírito, que é a forma do organismo, constituindo um todo indivisível. Disto resulta uma interação psico-fisiológica, isto é um conjunto de ações e reações recíprocas entre a alma (ser pensante e encarnado) e o corpo (veículo de manifestação daquela). Assim, se a alma se manifesta através do organismo, age e reage por meio deste, podemos concluir que a faculdade mediúnica tem raízes orgânicas e é acionada pela alma (ser inteligente).
– Um espírito ao comunicar-se com o médium o faz por intermédio da combinação de fluidos perispiríticos dos dois seres (espírito e médium), formando como que uma atmosfera fluídico espiritual comum às duas individualidades, e é justamente essa atmosfera comum que torna possível, ou favorece a transmissão do pensamento, que se faz assim de espírito (ser desencarnado) para a alma (ser encarnado) e, esta, pela ação que exerce sobre o corpo, exterioriza o conteúdo desse pensamento pelos diferentes tipos de faculdades mediúnicas. (psicografia, psicofonia, etc.) A formação dessa atmosfera depende de dois elementos essenciais:
– A afinidade fluídica entre o Médium e o Espírito;
– A sintonia do pensamento (sintonia vibratória ou assimilação da corrente mental).
“Para que um Espírito possa comunicar-se, preciso é, que haja entre ele e o médium relações fluídicas, que nem sempre se estabelecem instantaneamente. Só a medida que a faculdade se desenvolve, é que o médium adquire pouco a pouco a aptidão necessária para pôr-se em comunicação com o Espírito que se apresente. Pode dar-se, pois, que aquele que o médium deseje comunicar-se, não esteja em condições propícias a fazê-lo, embora se ache presente, como também pode acontecer que não tenha possibilidade, nem permissão para acudir ao chamado que lhe é dirigido. Daí a razão pela qual ninguém deva teimar em chamar determinado Espírito, “pois amiúde sucede não ser com esse que as relações fluídicas se estabelecem mais facilmente, por maior que seja a simpatia que lhe vote o encarnado. Antes, pois, de pensar em obter comunicações de tais ou tal Espírito, importa que o aspirante leve a efeito o desenvolvimento de sua faculdade, para o que deve fazer um apelo geral e dirigir-se principalmente ao seu anjo guardião.
As condições mais importantes que devem ser observadas no desenvolvimento de uma faculdade mediúnica são: “a calma e o recolhimento, juntas ao desejo ardente e a firme vontade de conseguir-se o intuito.
Por vontade, não entendemos aqui uma vontade efêmera, que age com intermitências e que outras preocupações interrompem a cada momento; mas, uma vontade séria, perseverante, contínua, sem impaciência, sem febricitação. A solidão, o silêncio e o afastamento de tudo o que possa ser causa de distração favorecem o recolhimento” (concentração). O exercício com regularidade, assíduo, e sério é fundamental no desenvolvimento mediúnico.
O desenvolvimento mediúnico dentro de um grupo organizado para tal fim, apresenta uma série de condições favoráveis.”Os que se reúnem com um intento comum formam um todo coletivo, cuja força e sensibilidade se encontrem acrescidas por uma espécie de influência magnética”, que satura o ambiente de fluidos propícios e, “entre os Espíritos, atraídos por esse concurso de vontades, estarão, provavelmente, alguns que descobrirão nos assistentes o instrumento que lhes convenha”.
“No médium aprendiz, a fé não é a condição rigorosa; sem dúvida lhe secunda os esforços, mas não é indispensável; a pureza de intenção, o desejo e a boa-vontade bastam. Têm-se visto pessoas inteiramente incrédulas ficarem espantadas de escrever a seu mau grado, enquanto que crentes sinceros não o conseguem, o que prova que esta faculdade se prende a uma disposição orgânica.
“O escolho com que topo a maioria dos principiantes é o de terem de haver-se com Espíritos inferiores (veja a Escala Espírita em “O livro dos Espíritos”) e devem dar-se por felizes quando não são Espíritos levianos. Toda atenção precisam pôr, em que tais Espíritos não assumam predomínio, porquanto, em acontecendo isso, nem sempre lhes será fácil desembaraçar-se deles. É ponto esse de tal modo capital, sobretudo em começo, que, não sendo tomadas às precauções necessárias, podem perder-se os frutos das mais belas faculdades”.
“A primeira condição é colocar-se o médium, com fé sincera, sob proteção de Deus e solicitar a assistência de seu anjo de guarda, que é sempre bom… A segunda condição é aplicar-se, com meticuloso cuidado, a reconhecer, por todos os indícios que a experiência faculta, de que natureza são os primeiros Espíritos que se comunicam e dos quais manda a prudência sempre se desconfie. Se forem suspeitos esses indícios, dirigir fervoroso apelo ao seu anjo de guarda e repelir, com todas as forças, o mau Espírito, provando-lhe que não conseguirá enganar… Por isso é que indispensável se faz o estudo prévio de teoria, para todo aquele que queira evitar os inconvenientes peculiares à experiência”.
“Se é importante não cair o médium, sem o querer, na dependência dos maus Espíritos, ainda mais importante é que não caia por espontânea vontade. Preciso, pois, se torna que imoderado desejo de ser médium não o leve a considerar indiferente dirigir-se ao primeiro que apareça, salvo para mais tarde se livrar dele, caso não convenha, por isso que ninguém pedirá impunemente, seja para o que for, a assistência de um mau Espírito, o qual pode fazer que o imprudente lhe pague caro os serviços”.
O médium, mesmo com a faculdade desenvolvida, jamais poderá “crer-se” dispensado de qualquer instrução mais, porquanto apenas terá vencido uma resistência material. Do ponto a que chegou é que começam as verdadeiras dificuldades, é que ele mais do que nunca precisa dos conselhos da prudência e da experiência, se não quiser cair nas mil armadilhas que lhe vão ser preparadas. Se pretender muito cedo voar com suas próprias asas, não tardará em ser vítima de Espíritos mentirosos, que não se descuidarão de lhe explorar a presunção “.
“Uma vez desenvolvida a faculdade, é essencial que o médium não abuse dela… Devem (os iniciantes) lembrar-se de que ela lhes foi dada para o bem e não para satisfação de vã curiosidade. Convém, portanto, que só se utilizem dela nas ocasiões oportunas e não a todo o momento. Não lhes estando os Espíritos ao dispor a toda hora, correm o risco de serem enganados por mistificadores. Bom é que, para evitarem esse mal, adotem o sistema de só trabalhar em dias e horas determinados, porque assim se entregarão ao trabalho em condições de maior recolhimento e os Espíritos que os queiram auxiliar, estando prevenidos, se disporão a prestar esse auxilio.