A Umbanda tradicional preconiza que você tem uma quantidade “limitada” de guias trabalhando com você, de forma direta, porém uma infinidade de guias operando de forma indireta ou de forma oculta. Mas você já parou para pensar em como é feita essa triagem de quem irá trabalhar com você em determinado dia?

Quando o terreiro segue a ritualística de Gira Temática, fica mais fácil, pois sabemos que será determinada linha de trabalho, como por exemplo: Gira de Caboclos, só caboclos trabalham; gira de Preto-Velho, só pretos-velhos trabalham. Inclusive chega ao tanto de determinarem uma gira especificamente para um tipo de entidade ou falange, por exemplo, gira de Caboclos Peito-de-Aço.

Estranho esse raciocínio, não é? Pois bem, isso é algo relativo a NeoUmbanda. De fato, os guias que trabalham conosco compõe a nossa Coroa Mediúnica e já estão determinados desde antes da encarnação, porém não ficam atrelados a nós até o momento em que assumimos o compromisso do trabalho mediúnico. Em outras palavras, não terei um preto-velho comigo, se não for trabalhar na Umbanda, pois não faz sentido um preto-velho estar comigo se eu for evangélico, por exemplo.

Contudo, uma entidade sempre toma a frente em questão de “gerenciamento e supervisão” de nossa mediunidade, essa entidade é chamada no jargão de terreiro de Chefe-de-Coroa.

Basicamente, essa entidade tomará a frente nas decisões que são referentes a nossa mediunidade, permitindo a incorporação – ou manifestação de outro dom mediúnico – quando esta souber que é necessário. Neste caso, também toma conta e guarda o próprio aparelho mediúnico, inclusive permitindo que espíritos negativos o acessem, conforme a necessidade e o merecimento de cada um. Desta forma é que os Exus e Pombagiras se manifestam e também os Kiumbas e Obsessores.

É muito comum para o médium sempre sentir a “energia” de uma determinada entidade, antes de receber a entidade que propriamente vai trabalhar naquele dia. Como falamos anteriormente, em uma gira temática, as pessoas já estão pré-dispostas (ou seja, podem se deixar levar pelo animismo e pela mistificação) a receber determinada falange ou entidade. Porém, o mesmo não é verídico quando se refere as giras mistas, onde não há uma “falange” escolhida para o trabalho.

O Chefe-de-Coroa não é o mesmo que mentor ou anjo-da-guarda, pois seu trabalho é específico, atua somente no campo mediúnico e nos objetivos que visam o trabalho mediúnico. Também não podemos confundir com o termo utilizado popularmente: Pai e Mãe de Cabeça, pois este se refere a força – popularmente conhecida como Orixá – que rege a vida como um todo do trabalhador ou de todos aqueles que estão encarnados. Não é preciso ser médium para tal.

O Chefe-de-Coroa geralmente é um caboclo ou um preto-velho, mas com raras exceções, podemos encontrar um baiano tomando a frente. Já mais raro ainda seria ver um Erê fazendo essa função, até hoje só ouvi o caso de uma pessoa e não posso afirmar que é de fato, pois a mesma não passou pelo ritual de confirmação da coroa. Para saber mais sobre esse ritual de confirmação, leia o artigo Sacramentos de Umbanda: Rituais para Médiuns. Com isso já deixo meio explicito que um Exu ou Pombagira, não pode ser um guia chefe-de-coroa, pois falta para os mesmos a evolução no aspecto moral que é imprescindível para o cargo.

Se você acreditar ter uma entidade de esquerda a frente da sua coroa mediúnica, talvez seu lugar não seja a Umbanda, mas uma religião como a Kimbanda (Quimbanda). E isso não é demérito algum, porém devemos ser honestos com a nossa jornada e com os nossos princípios.

Pais e Mães de Cabeça

Quando falamos de Pais e Mães de Cabeça é outro quebra-cabeças a ser montado. Dizem tantas coisas por aí que chega a ser penalizante ver como muitos são ludibriados por falsos iniciadores, querendo tirar dinheiro de pessoas ignorantes ou que não se deram o trabalho de pesquisar. Porém a maioria é de pessoas que estão em sofrimento e em busca de um alívio para suas almas, são enganadas por pessoas com más-intenções.

Na Umbanda, falar de Pai e Mãe de Cabeça é quase uma heresia, pois a Umbanda trabalha de uma forma diferente sobre isso. Os Pais e Mães representados pelos Orixás, são na verdade forças ou objetivos que traçamos e trazemos para essa vida como meta.

Sendo assim, uma pessoa que tenha Oxalá de Pai de Cabeça, não é uma pessoa, por definição preguiçosa, mas sim alguém que deve lutar contra a preguiça e superar os aspectos negativos que o Orixá representa e tentar se melhorar ou aprimorar nos aspectos positivos que ele carrega. Então se Ogum é determinado, preciso mais dessa determinação em minha vida, porém, com cuidado para que ela não se transforme em teimosia.

Para indivíduos do sexo masculino (não importa a orientação sexual ou ideologia de gênero) geralmente quem se coloca a frente é um Orixá ou Força polarizada no campo masculino e para as pessoas do sexo feminino é o inverso.

Essa posição principal é chamada de Orixá de Frente, porém é bastante racional e pode ser muito “forte” nas suas manifestações. Para dar uma dosada nisso possuímos uma segunda energia ou força, que é a forma como devemos alcançar o equilíbrio que é chamada de Orixá de Ajuntó ou Juntó.

Geralmente esse segundo orixá ou força, é polarizado, ou seja, se seu Orixá de Frente for masculino, o Orixá de Juntó será feminino e vice-versa. São raros os casos da inversão e também da mesma polaridade em ambas as posições.

Para saber mais sobre esse assunto, assista ao Pensamento 09 – Pai e Mãe de Cabeça, que história é essa?

Depois de tudo que foi exposto acima, dá para compreender melhor essa condição das “paternidades” ou do apadrinhamento (termo que acho melhor) destas forças para com os indivíduos encarnados. Mas também fica uma questão: “Como descobrir quem é meu pai e mãe de cabeça?”.

Alguma pessoas vão sugerir que você jogue Búzios, porém eu não recomendo, a não ser que você queira ser feito no Candomblé e também que siga o Candomblé como religião.

Caso você queira fazer Umbanda, o ideal é descobrir pelos métodos da Umbanda, que é por meio do autoconhecimento (o mais difícil de todos, porém o que traz melhores resultados) ou esperar a cerimônia de confirmação de coroa, onde seu chefe-de-coroa é questionado a respeito e ele traz a informação para você. Simples né?

Alguns guias podem fazer uma leitura da coroa também, porém nem todos o fazem. Para evitar que pessoas com intenções escusas se utilize da credulidade alheia, os guias preferem se calar nesse momento, deixando a cargo daquele que cuida da cabeça (Chefe de Coroa) dar essa informação.

Espero que tenha esclarecido um pouco deste conturbado tema e para encerrar o assunto deixo aqui a afirmação:

A Umbanda não faz cabeça ou coroa de ninguém!

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