Dentro da Umbanda o termo arquétipo é utilizado para designar as linhas de trabalhos apresentadas. Desta forma, temos: Caboclos, Pretos-Velhos, Crianças, Baianos, Boiadeiros, Marinheiros, Exus, Pombagiras e mais alguns.

Os arquétipos definem povos originários desta terra ou que estavam em sua base de formação, que é o caso de Caboclos e Pretos-Velho, por consequência seus descentes como os Baianos, também aparecem aqui. Alguns outros arquétipos definem profissões, como: Marinheiro, Boiadeiro e alguns Mineiros (raros, mas existentes).

Mas tivemos relatos de algumas linhas um tanto diferentes como as de caminhoneiros, bruxas, circo, palhaços e até mendigos aparecendo em alguns terreiros. Até onde vai a inclusão? Seria uma loucura coletiva? Um erro pontual? Novos arquétipos podem ser adotados na Umbanda?

A compreensão destas linhas e da sua formatação sempre se dá para nós que estamos inseridos na religião e queremos compreendê-la de uma forma mais lógica, contudo, tudo o que nós formulamos no plano material, não é respaldado ou inscrito em pedra no plano espiritual. Essas estruturas são bem mais flexíveis do que aparentam, mas nós temos limitação em nosso entendimento e acabamos por definir esse mesmo limite em nossas mentes com estruturas hierárquicas e separadas.

Contudo compreendemos que dentro da Umbanda existem duas estruturas fundamentais, as quais damos os nomes de Caboclos e Pretos-Velhos, sendo que todas as demais seriam derivativas destas duas.

Porém temos uma questão aí, não é? A exceção fica por conta de Exu e Pombagira, que tem outro sistema de classificação próprio, pois estas entidades não são pilares da Umbanda, mas convidados desta.

Pode parecer estranho ouvindo assim, afinal a Umbanda está cheia de Exus e Pombagiras, mas isso fica mais claro quando entendemos que na Umbanda todos os espíritos podem participar, mesmo que não façam parte do pilar estrutural da religião.

Em nosso podcast, no episódio 94 do Papo na Encruza, sobre Catimbó e Jurema, o pai Aderbal cita que dentro das suas práticas aparecem os povos ciganos, mas que de fato eles não fato eles não pertencem nem ao catimbó e nem a jurema, mas por se aproximarem, eles possuem direito de trabalho e fala. O mesmo ocorre com os povos ciganos na Umbanda, assim como Exus e Pombagiras.

Mas voltando ao começo…

Como assim só tem Caboclo e Preto-Velho na Umbanda?

Pois é, é isso que a tradição apregoa. Os povos nativos, conhecidos dentro da Umbanda como caboclos e os povos africanos trazidos para o Brasil como mão de obra escravizada são as bases da formação da cultura de Umbanda.

Claramente que outras influências foram exercidas dentro da Umbanda como o próprio cristianismo popular e as práticas de magia ibérica, com uma tardia exposição ao espiritismo e uma invasão desse pensamento após 1920.

Caboclo acaba se tornando um termo genérico para indígena, porém é impreciso. O termo caboclo era empregado de duas formas distintas. Servia ora para designar o mestiço entre europeu e indígena, por outras vezes simbolizava o homem do campo, do interior, simples.

Com esse pensamento podemos dizer que TODOS os homens “simples” no ponto de vista das classes econômicas dominantes eram vistos como caboclos ou homens da terra. Desta forma, os boiadeiros que viviam no campo, tocando boiada podem ser considerados caboclos, os chamados caboclos de couro.

Na verdade, dentro dos caboclos temos três categorias: Caboclo Índio, Caboclo de Pena e Caboclo de Couro. Para saber mais sobre isso, veja nosso workshop: Os Caboclos na Umbanda – Disponível em www.perdidoead.com.

Com esse mesmo pensamento, os marinheiros também seriam uma espécie de caboclos, sendo conhecidos como Caiçaras, por muitas vezes. O Marinheiro da Umbanda não é exatamente um indivíduo que serviu a MARINHA MILITAR, mas pode ter servido a marinha mercante, ter sido um pescador, um homem do litoral e até mesmo um naufrago.

E os pretos-velhos?

Bom, os pretos-velhos também acabam enveredando para o ramo caboclo em algumas oportunidades, principalmente os descendentes de indígenas com africanos, que eram tidos em alguns casos como caboclos boiadeiros nas fazendas. Mas na umbanda raramente veremos eles se manifestando como caboclos, sendo que quando se manifestam eles falam que são Caboclos Africanos como o Pai Zulu ou Caboclo Africano Zulu, como exemplos.

Contudo, temos a figura do baiano, que muitos nem sabem se tá na direita ou na esquerda da Umbanda, pois eles trabalham tanto com coisas de cunho elevatório espiritual (na visão da Umbanda, o pensamento coletivo), quanto com coisas mais materiais (na visão da Umbanda, um pensamento mais individual).

Quem são essas figuras? Eles são espíritos de ex-sacerdotes, feiticeiros, que possuem sangue originário africano ou são seus descendentes e que trazem as suas mandingas para os chãos do terreiro. Eles podem fazer tanto magia de direita, quanto de esquerda, pois um sacerdote ou pai/mãe de santo também o fazem dentro do seu ofício nas macumbas.

Os baianos são considerados pretos-velhos mais jovens, tanto em questão de idade em vida, quanto de mais recentes no desencarne. Muitos são colocados dentro da categoria do Povo da Costa, na Legião dos Pretos-Velhos, dentro da Falange de São Benedito, na Linha de Oxalá.

Então para facilitar, siga o diagrama abaixo:

Mas e quanto a essas novas linhas? Seria possível com o avanço da religião outras profissões serem incluídas? E os outros povos como os indianos, egípcios, astecas, celtas, etc.?

A tentação de criar novas linhas para incluir todos os espíritos do mundo é muito grande, contudo, o que é a Umbanda? É uma prática religiosa brasileira de culto aos antepassados da nossa terra. Quem são esses antepassados? Os povos formadores do povo brasileiro.

O Egípcio, o Turco, o Celta, o Asteca, o Indiano, o Judeu, todos esses povos, não foram formadores. Podem até serem incluídos trabalhando aqui e acolá, mas não são os povos formadores.

O Brasil é o país onde mais tem descendentes de japoneses fora do Japão, porém não somos um país formado por japoneses.

Para esses povos encontramos a linha do Oriente, ou melhor, Falange do Oriente, incluída dentro da Linha de Xangô, sob a regência de São João Batista (Xangô Caô). Aqui nesta linha encontraremos egípcios, astecas, toltecas, maias, caraíbas, judeus, árabes, berberes, celtas, romanos, etc.

Encontraremos samurais? Pode ser que sim, afinal tem o povo do Japão incluído, assim como da China e outros povos do oriente.

Mas e quanto a novas profissões como caminhoneiros, palhaços, artistas circenses? Eu creio que isso já é um pouco de exagero. Podemos ter bruxas? Sim, mas a maior parte delas ou estão na Falange do Oriente ou se apresentam como Pombagiras. Podemos encontrar os mendicantes? Podemos sim, mas não sei se exatamente uma linha de mendigos. Existem os povos mendicantes dentro dos povos de Exu e Pombagira, que são os Molambos ou Mulambos.

Então, acredito que a religião como uma religião de culto aos antepassados não precisa de novas linhas e novos arquétipos, sendo que isso descaracterizaria essa religião. Contudo espíritos de caminhoneiros, por exemplo, podem se manifestar com algum outro arquétipo, se tiverem a permissão para serem guias de Umbanda.

“Mas isso não seria mentir?” – Você pode estar se perguntando.

A resposta é bem simples: Não!

Afinal, quem garante que em vidas anteriores, aquele espírito não tenha tido uma vivência como um dos povos formadores do povo brasileiro, ou seja, não tenha sido um antepassado? Ele pode resgatar essa existência para o trabalho.


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