Muitos questionam a frase acima e outros a repetem sem entender do que se trata. Primeiramente vamos compreender os mitos. Apesar de sabermos que o Exu Orixá é diferente do Exu Entidade (catiço) é importante entender os mitos.
Exu come tudo e ganha o privilégio de comer primeiro
Exu era filho caçula de Iemanjá e Orunmilá,
irmão de Ogum, Xangô e Oxóssi.
Exu comia de tudo e sua fome era incrontrolável.
Comeu todos os animais da aldeia em que vivia.
Comeu os de quatro pés e comeu os de pena.
Comeu os cereais, as frutas, os inhames, as pimentas.
Bebeu toda a cerveja, toda a aguardente, todo o vinho.
Ingeriu todo o azeite de dendê e todos os obis.
Quanto mais comia, mais fome Exu sentia.
Primeiro comeu tudo de que mais gostava,
depois começou a devorar as árvores, os pastos e já ameaçava engolir o mar.
Furioso, Orunmilá compreendeu que Exu não pararia e acabaria por comer até mesmo o Céu.
Orunmilá pediu a Ogum que detivesse o irmão a todo custo.
Para preservar a Terra e s seres humanos e os próprios orixás, Ogum teve que matar o próprio irmão.
A morte, entretanto, não aplacou a fome de Exu.
Mesmo depois de morto, podia-se sentir sua presença devoradora, sua fome sem tamanho.
Os pastos, os mares, os poucos animais que restavam, todas as colheitas, até os peixes iam sendo consumidos.
Os homens não tinham mais o que comer e todos os habitantes da aldeia adoeceram e de fome, um a um, foram morrendo.
Um sacerdote da aldeia consultou o oráculo de Ifá e alertou Orunmilá quanto ao maior dos riscos: Exu, mesmo em espírito, estava pedindo sua atenção.
Era preciso aplacar a fome de Exu.
Exu queria comer.
Orunmilá obedeceu ao oráculo e ordenou:
“Doravante, para que Exu não provoque mais catástrofes, sempre que fizerem oferendas aos orixás, deverão em primeiro lugar servir comida a ele”.
Para haver paz e tranquilidade entre os homens, é preciso dar de comer a Exu em PRIMEIRO LUGAR.
Fonte: Mitologia dos Orixás; Reginaldo Prandi; Cia das Letras.
Temos aqui que compreender pontos importantes dentro da mitologia, a questão de Exu ter uma fome insaciável e mesmo em espírito requerer atenção. Sabemos que o poder de Exu é tremendo e por isso mesmo devemos ter todo o cuidado possível, como grande comunicador de todas as esferas da vida é ele quem é detentor da magia dentro do terreiro e faz as coisas funcionarem. Mesmo que não de forma incorporada.
Em algumas religiosidades de cultura Banto, a figura de Exu é substituída por Pambu Njila e até mesmo Aluvaiá, Inquices (Mkice) da região de Congo e Angola. Contudo a ideia é a mesma, sua fome insaciável e a questão preponderante deles poderem fazer comunicação acontecer. Dentro da magia voduísta podemos associar também a figura de Simbi, o Loa em forma de serpente que faz a comunicação ocorrer e a magia acontecer.
Veja que dentro do mito Exu come primeiro aquilo que ele GOSTA e depois todo o resto para aplacar sua fome. Desta forma nós devemos dar a Exu o que ele gosta, antes que ele venha se saciar da nossa própria energia.
Da mesma forma, devemos ouvir nossos Exus para saber que tipo de comida eles gostam. Essa generalização de padês que tomou conta da Internet é muito prejudicial para a riqueza cultural que há dentro das religiões de cultura afro, principalmente nosso foco aqui que é a Umbanda.
Existem diversas formas e elementos para fazer um padê ou farofa de Exu e cada entidade vai gostar de comer de uma forma diferente e também gostam de beber coisas diferentes. Exu recebe marafo? Sim, mas não é só isso. Devemos entender, consultar nossos guias e acima de tudo não dar espaço para ilusões. Não existe Exu que gosta de Gin com Tônica e frutas vermelhas, calma lá! Nem Pombagira vai pedir um “Sex on the Beach”.
Elementos da comida de Exu
Os padês ou farofas geralmente são compostos de farinhas, líquidos e algum elemento de origem animal (não necessariamente).
Encontramos tanto a farinha de mandioca, quanto a farinha de milho sendo usada para fazer os padês e há uma questão muito interessante em notar aqui, pois o tipo de farinha não é sugerido conforme a “sexualidade” da entidade (no caso dizem que farinha de mandioca para os Exus e farinha de milho para Pombagiras), mas sim pela sua simbologia:
A Mandioca cresce embaixo da terra, portanto é indicada para questões mais materiais, como saúde, dinheiro e prosperidade.
O Milho nasce em cima da terra, portanto é indicado para questões de elevação espiritual, proteção espiritual e demanda.
Da mesma forma existem os líquidos que colocamos para os Exus, que no caso podem ser: Marafo, Gin, Whisky, Champanhe, Azeite de Dendê, Mel e Água.
Como você vai definir o uso? Geralmente a partir da necessidade:
Marafo, Gin, Whisky são para padês de Exu, que tendem a demandar contra alguém ou algo. Lembrando que a demanda não é ruim, mas apenas uma ferramenta dentro da proteção espiritual e mágica. Ainda podemos considerar a divisão entre Marafo Amarelo e Marafo Branco, sendo que branco é a Cachaça e o Gin e amarelo é o Whisky ou Cachaça envelhecida.
Champanhe tem o mesmo processo, mas pode ser usada como atratora também, para padês exclusivos de Pombogiras. Geralmente do tipo tinto ou rosé, mas é bom lembrar que algumas Pombogiras preferem licor de anis ou anisete.
Azeite de Dendê é o clássico e deve ser usado para nutrir e em substituição do sangue, por sua cor avermelhada. Também é usado para esquentar as coisas ou dar corpo as coisas.
Mel é usado para aplacar a ira de Exu. Não sabemos como o Exu virá a princípio, não sabemos se fizemos algo errado perante a sua ótica ou se estamos em dívida, um padê com mel traz docilidade para a entidade, aplacando seu ânimo para que ele ouça nossos pedidos e não queira criar confusão (porque Exu gosta de confusão).
E por fim a Água que é algo necessário para toda a vida, basicamente é algo que pode ser dado quando o Exu tem sede, neste caso também serve para processos de saúde.
Outros Elementos
A Farinha e o Líquido já é mais que o suficiente para um padê, porém podemos acrescentar alguns elementos para dinamizar seu processo. Sabemos que Exu gosta de pimenta, então ele se agrada de padês com pimenta. Sabemos que Exu gosta de carne, então podemos dar carne ao Exu, sem necessariamente fazer um sacrifício animal.
Só que cada linha de Exu tem uma preferência, partindo de carne bovina, suína e também de frango a até mesmo formas diferentes de apresentação das mesmas.
O Exu Tiriri que trabalha comigo, gosta de Carne Seca, por exemplo, contudo um Exu da Linha dos Omuluns (Almas) preferem carne de porco, assim como alguns Exus da Linha dos Caveiras. Então por que estamos dando frangos para Exu? Tem que perguntar para ele o que ele quer comer.
Pombagira gostam tanto de coração de boi quanto de galinha, depende muito da entidade. Existem alguns Exus que ainda preferem seus bifes crus e outros passados no dendê, como saber? Basicamente conhecendo a entidade e não aceitando que todas são iguais, pois se fossem não existiam tantos nomes, linhas, falanges e legiões.
Por exemplo, um Exu Caveira pode gostar de receber um padê de farinha de milho, com azeite de dendê e um bife de porco refogado no Azeite de Dendê. Já um Exu da Linha de Mossurubi (que não vou citar o nome por motivos óbvios, por ser uma linha perigosa), prefere que seja feito um padê de farinha de mandioca com azeite de dendê, menga (sangue) de galinha e um figado cru de boi por cima.
Alguns Exus da Linha das Almas gostam de entregas sem farinha, como por exemplo Pipocas estouradas e colocadas em pratos de barro, regadas de azeite de dendê ou mel, conforme a necessidade, além de um bom fumo.
Tudo depende muito da “NECESSIDADE”.
Além disso existem outros elementos que podem ser usados de formas gerais como a cebola e outros para linhas específicas como alho, limão e flores.
Diferenças entre Entregas e Comidas
Aqui tenho que abrir uma ressalva, pois confundimos os padês dados como Oferendas ou Entregas e os padês dados como Comida. A gente alimenta Exu com os dois tipos de padê, conforme a preferência deles, mas quando um Exu diz para levar em um terreiro um Padê para comer, então é para TODOS comerem.
Concordamos que não podemos servir um bife cru para o pessoal da assistência certo? Então geralmente o padê é feito refogado ou quente, como alguns dizem.
A questão é que você deve entender Exu e respeitar todas as falanges de Exu!
As coisas não são assim tão genéricas como querem te fazer pensar.
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