Muita gente encara as músicas mais como uma manifestação cultural, sem perceber seu real valor litúrgico e mágico, que permanece oculto da visão de muitos. Acreditam que os pontos cantados são músicas apenas para fazer com que as pessoas entrem em transe, facilitando o trabalho mediúnico. Porém, o poder do som e da sua vibração é maior do que podemos supor.
Oh, happy day When Jesus washed Oh, when he washed When Jesus washed He washed my sins away!
Algumas mitologias do mundo, inclusive alguns livros de fantasia, dizem que o Universo é composto de vibrações ou que o Universo foi criado por meio de uma canção. Vemos isso no Silmarillion, livro de J.R.R. Tolkien, pai da aclamada série “O Senhor dos Anéis” e do livro “O Hobbit”. Além disso dentro da mitologia judaico-cristã, não encontramos os COROS de anjos? Entidade que ficariam, por toda eternidade, cantando louvores ao SENHOR?
Podemos ainda expandir a ideia para mitologia indiana, onde também encontraremos os Mantras. Entonações repetidas com cadência e ritmo que se transformam em música. Inclusive dizem que o próprio Universo em si, entoa um som, o som o OM (ॐ).
A música é tão importante que encontramos deuses antigos como Pã (flauta), Hermes (criando a Lira) e o Apolo (Lira) atuando com seus instrumentos, ora para resolverem problemas, ora para causarem. Ainda podemos adicionar Orfeu, que tocava divinamente e todos os bardos celtas.
Dentro da Umbanda, a música em si, a musicalidade, é chamada de Curimba e a Canção chamada de Ponto Cantado, ou apenas Ponto. Dentro da Jurema e do Catimbó, existem também algo similar, mas lá é chamado de Linho ou Linha. O que diferem são os instrumentos, alguns usam atabaques, maracás, tambores indígenas, berimbaus, reco-recos e a famosa macumba (instrumento de percussão). Poderíamos citar uma infinidade de instrumentos adicionados aos rituais, porém mesmo na falta de TODOS estes, ainda poderíamos usar o maior instrumento e o mais poderoso: A VOZ!
“Quando Oxalá fundou a Umbanda,
Senhor Ogum tomou conta do Congá,
Veio Oxum, veio Iansã e Iemanjá,
Veio a Jurema, para trabalhar.
A caboclada iluminou todo terreiro,
E Oxalá abençoou. “
Os sons dos tambores ou atabaques proporcionam uma melhor manifestação do transe mediúnico, isso sem dúvidas. Porém, os cânticos entoados pelos pontos, são os verdadeiros agentes mágicos. São evocações repetidas com alegria e energia, que trazem para o local de trabalho mediúnico e espiritual, aquelas falanges, mantem a vibração de uma corrente, a sua coesão, mudam o ritmo da gira e “despacham” as energias, nas despedidas ou subidas das entidades.
É claro o impacto que um ponto tem em trazer um clima especial para o trabalho, você por meio da música muda os padrões de pensamento e levam todos a colocarem o pensamento na mesma frequência vibratória. Além disso contam uma história ou até mesmo fundamentos da religião, como no começo da defumação, ao entoar o ponto abaixo:
“Corre gira pai Ogum,
Filhos quer se defumar,
a Umbanda tem fundamento,
é preciso preparar”
Saber cantar corretamente um ponto, com todos irmãos de uma corrente, fortalece a egrégora e também torna a evocação muito mais poderosa. Quem não se sente protegido entoando um ponto de Ogum / São Jorge? Quem não se emociona com os muitos e belos pontos de Oxum?
“Saudei Ogum em seu Cavalo,
Saudei também o seu Humaitá,
Saravei seu Ogum Rompe-Mato,
Ogum Iara e Seu Beira-Mar.”
A Música é muito mais do que apenas uma decoração ou um entretenimento, é uma verdadeira realização mágica, disponível a todos os trabalhadores de Umbanda. Então dedique-se no momento da chamada de Ogum, da Defumação, da saudação das Linhas e também na despedida destas! Faça sua parte e sinta vibrando no seu íntimo todo o poder do Universo, que também canta em louvores a Criação e o Criador.
A música, a curimba e tudo que é musical dentro da Umbanda é uma magia! Uma das mais poderosas que podemos encontrar dentro do trabalho litúrgico e é extremamente importante. Em alguns casos as casas “calam” os atabaques, mas o cântico continua num ritmo mais ameno, como é o caso do período de quaresma. Canta-se com mais “respeito”, pelo momento vibratório, mas ainda assim se canta.
Inclusive em New Orleans é muito comum um funeral ser precedido por uma trupe musical tocando blues ou jazz, até chegar ao cemitério. A música é vida e a música traz a vida.