Todos atrelam magia a conjuração de entidades para os rituais que serão propostos, contudo se esquecem que isso também ocorre a todo momento dentro das práticas religiosas, seja desde a consagração da Hóstia, até mesmo ao convocar um espírito para se manifestar na mesa mediúnica ou na gira de Umbanda. Neste texto quero falar um pouco sobre os termos usados para essas convocações e conjurações, esclarecendo suas diferenças e também retirar um pouco do medo que há em se chamar espíritos para o trabalho.

Primeiramente é bom lembrar a todos que nem só de Goétia é que sobrevive o mundo, ou seja, não é só esse tipo de magia que se utiliza da conjuração de “entidades” que são chamadas de demônios (Daemon; Inteligências; Gênios). Dentro do próprio Espiritismo encontramos muito dessa convocação, que se dá o nome de Evocação. Inclusive o subtítulo do Livro dos Médiuns (esquecido por muitos) é exatamente: Guia dos Médiuns e dos Evocadores.

O que podemos demonstrar claramente é o medo que há, principalmente no meio espírita, de convocar um determinado espírito para as mesas mediúnicas. Criou-se assim, quase que um dogma ou uma nova versão das proibições de Moisés:

“Não se achará entre ti quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro; nem encantador, nem necromante, nem mágico, nem quem consulte os mortos; pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao SENHOR; e por estas abominações o SENHOR, teu Deus, os lança de diante de ti.” Deuteronômio 18:10-12

Inclusive, uma frase que se tornou quase um mantra no meio espírita é: “O telefone só toca de lá para cá!”. Será mesmo?

Se assim o fosse, por que teria então o nome de guia de Evocadores no subtítulo do Livro dos Médiuns? Vejamos o que no mesmo livro, nos diz sobre a prece, por exemplo:

“A prece, bem o sabes, é uma evocação que atrai os Espíritos. Tanto maior ação terá, quanto mais fervorosa e sincera for.” 

Livro dos Médiuns – Das Assombrações – Página 203 – Versão da FEB

Algo teria sido perdido então desde o lançamento do Livro dos Médiuns até os nossos tempos modernos? A questão não é bem clara quanto a isso. O que ocorre é que o medo, outrora divulgado no seio cristão (principalmente católico e protestantes) contrário as manifestações ditas “sobrenaturais” migrou para o Espiritismo, sendo trazida por seus novos membros, que foram católicas anteriormente e não conseguiram se despojar completamente dos preconceitos e dogmas dessas denominações religiosas.

Se é dito que até mesmo a prece é uma evocação, por que o chamado de um Espírito a mesa espírita, cercado de todas as seguranças necessárias para uma boa comunicação e principalmente imbuído do espírito de aprendizado e auxílio, poderia trazer prejuízos ou ser proibido?

O que devemos levar aqui em consideração é saber evocar, saber quem evocar e não usar deste expediente de forma leviana, por brincadeiras, como vemos muito nas ditas “brincadeiras do copo, do compasso ou no charlie, charlie.”. Mas é evidente que não se deve ser praticado tal ato evocatório por qualquer pessoa, que não esteja preparada para tal.

Além destas condições, há outra grande confusão ou dúvida gerada, dentre os termos: Evocação e Invocação. Principalmente no âmbito da magia, são termos muito diferentes, para atividades mágicas diferentes e que se usados de forma incorreta, então, podem causar danos. Digo isso pela natureza das entidades que iremos convidar a se apresentar. Podemos nos deparar com entidades demoníacas (inteligências trevosas ou ainda imbuídas de maldade), assim como entidades não-humanas e até mesmo alienígenas (no sentido de serem estranhas e não exatamente de outros mundos e planetas). Vamos as definições?

  • Evocação, conforme o dicionário provém do latim evocatione, e significa um chamamento.
  • Invocação, segundo o dicionário também é sinônimo de evocação.

Opa, mas como assim? Se são iguais, por que você está dizendo que pode ocorrer algo errado?

Podem ser linguisticamente semelhantes, mas dentro da magia as coisas são diferentes. O termo evocação é usado para quando queremos chamar uma entidade (e não só um espírito, mas um santo, uma força, uma divindade, um demônio, etc), para se apresentar diante de nós, ou seja, de forma externa.

Já o termo invocação é usado para quando queremos chamar a força ou a entidade para dentro de nós. Na invocação pedimos que uma deidade, por exemplo, possa morar em nós para nos trazer inspiração, o que ocorria com as musas, ao nos possuírem elas nos inspiravam, insuflavam em nós seus méritos e seus talentos.

Dentro das práticas de Umbanda, encontramos as duas atividades. Quando se faz a chamada das entidades por meio do ponto cantado, estamos fazendo uma Evocação, para que a entidade possa estar se manifestando naquele ambiente, trazendo seu Mojo ou Axé e participando de forma desincorporada das atividades.

Podemos, no meio disso alterar, dando passividade para a entidade, uma invocação, para que ela possa incorporar no médium e então a entidade evocada, passa a ser invocada, se manifestando no corpo do médium ou por meio do corpo do médium.

Quando falamos de uma entidade de luz ou alinhada com as leis Universais, não há muito a se preocupar. Claro que há a exceção sempre de Exus e Pombagiras, específicos, que podem causar malefícios devido a incorporação, ou seja, invocação. Mas imagine isso extrapolado para um demônio ou entidade perversa? Você confundir evocar (chamar o demônio para te obedecer, dentro do círculo de conjuração e devidamente “aprisionado”) e invocar (chamar para dentro de ti, dando espaço para ele habitar seu íntimo e usar seu corpo), pode representar um perigo.

Inclusive as possessões muitas vezes ocorrem por meio de invocações inconscientes ou inocentes. A entidade perversa, assedia constantemente o receptáculo (a pessoa) que ele quer possuir e então vai convencendo-o, de forma sutil até a mesma aceitar a condição e acabar por “chamar” o demônio para dentro de si.

Por isso que em grande parte das possessões encontramos a entidade perversa relatando que foram convidados para estar lá, que não fizeram nada contra a vontade da pessoa. Porém, não são totalmente honestos – e nem poderiam ser, devido a sua classificação – ao dizer que convenceram as pessoas a fazer isso.

Porém a invocação não é só usada para incorporações ou possessões, ela pode ser usada para “convocar” uma força para dentro de um objeto, como ocorre com a consagração da Hóstia ou até mesmo a feitura de uma nGanga ou Assentamento. Convoca-se (invoca-se ou conjura-se) um espírito ou entidade para habitar aquele objeto, sempre alimentando-o periodicamente, em troca de algo. No caso dos assentamentos ou ngagas, é pelo axé e proteção.

Então, claramente explicada a diferença entre invocação e evocação, podemos assumir – como exposto acima – que a oração é uma atividade mágica de evocação, onde chamamos pelas forças para que manifestem e nos ajudem. Quando essas mesmas nos insuflam com suas potências, então estamos invocando essas forças.

Na próxima atividade mágica que forem realizar, ou até mesmo religiosa, pense bem nesses termos. Existem escolas de magia, pontuando a NeoUmbanda, que ora usam evocação ou invocação como sinônimos, o que como vimos pode causar muito transtorno, quando não sabemos com o que estamos lidando.

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