Muito se fala de aromaterapia e nós aqui do blog já postamos diversos artigos sobre esse prática natural, porém devemos sempre falar mais e mais para informar nossos leitores sobre o que realmente é a aromaterapia e seus benefícios, assim como quais são os cuidados necessários para ter uma administração aromática segura.

A Aromaterapia se utiliza de substâncias das plantas, conhecidas como óleos essenciais (O.E.), óleos aromáticos ou óleos voláteis de forma terapêutica na maioria dos casos. Digo na maioria dos casos, pois na prática pode ter diversas formas de abordagem e também pode ser totalmente deturpada pela indústria química por meio da sintetização dos seus compostos e também da adulteração do mesmo.

Quando falamos em forma de abordagem, devemos nos manter focados em duas escolas principais de aromaterapia: A Francesa e a Britânica. Apesar que a aromaterapia também é bastante popular na Alemanha e sua escola tem um pouco de ambas das anteriores citadas. Na Escola Francesa o foco é o caráter terapêutico dos óleos essenciais, sendo que o mesmo é utilizado como medicamento sendo prescrito por médicos franceses com especialização em aromaterapia. Já na Escola Britânica, isso não se aplica, sendo a forma de administração dos óleos essenciais sempre através da pele. Isso se dá muito pela forma como foram introduzidas essas técnicas nos países, na França por médicos e químicos através da figura de René Maurice Gattefossé, que introduziu o uso de óleos essenciais nos anos de 1920, pós Primeira Guerra Mundial.

René Maurice Gattefossé

René Maurice Gatefossé, dedicou sua vida em pesquisar os óleos essenciais e suas propriedades curativas. Teve uma experiência pessoal em seu laboratório, onde acidentalmente ateou fogo a seu braço e na tentativa de apagá-lo, mergulhou sua mão em um tonel de líquido próximo que estava cheio de Óleo de Lavanda (usado na perfumaria até hoje). Ele pode instantaneamente perceber um alívio na dor provocada pela queimadura e também notou que seu processo de recuperação teve uma rapidez impressionante, sem desconforto e sem cicatrizes. Posso dizer que eu mesmo já tive essa experiência com uma forma de pão quente caindo na minha mão, assim como queimadura pelo vapor do esterilizador de mamadeiras do meu filho pegando toda minha mão e imediatamente usei o O.E. de Lavanda e obtive grande sucesso, primeiramente não sentindo dor, aumentando a elasticidade do tecido, não criando bolhas e não tendo vermelhidão, inflamação ou cicatrizes posteriores. Foi Gatefossé quem cunhou a palavra “Aromathérapie”, que em português se tornou Aromaterapia.

Dr. Jean Valnet

Ainda na França, deu-se continuidade nas pesquisas por diversos médicos e químicos, tendo como uma das principais figuras o Dr. Jean Valnet, um cirurgião do exército francês, que aplicou o tratamento com óleos essenciais em soldados feridos em batalha. Também se utilizou das propriedades dos O.E. em um hospital psiquiátrico com grande sucesso. O Dr. Valnet publicou em 1964 seu livro intitulado Aromatherápie, considerado até hoje por muitas pessoas como a bíblia da aromaterapia.

Marguerite Maury

Na Grã-Bretanha ocorreu algo diferente, pois a mesma não foi introduzida por médicos e justamente por isso a legislação do Reino não permitia que os óleos essenciais fossem indicados para uso de forma interna, por não médicos. A responsável por incluir a Aromaterapia nas Ilhas Britânicas foi a madame Marguerite Maury nos idos de 1950. Maury é tida como enfermeira e terapeuta de beleza. Ela que foi a responsável por descobrir que os óleos essenciais conseguiam transpor a barreira da Derme (Pele) e serem absorvidos pela corrente sanguínea, levando assim seus compostos para todas as partes do corpo. Ela criou técnicas para usar os O.E. em massagens e em tratamentos de rejuvenescimento, sempre com a visão holística do tratamento, caso a caso, sem repetir fórmulas prontas.

Hoje temos outros tantos baluartes da aromaterapia que desenvolveram e continuam a desenvolver pesquisas e práticas para uma melhor compreensão da aromaterapia, como Dr. Daniel Pénoël, Dr. David Stewart, Robert Tisserand, entre outros.

Praticamente a divergência das escolas se dá pela prática de administração dos óleos essenciais, assim como a proibição do uso de alguns óleos pela escola britânica que os considera muito perigosos para o uso humano, sem o concurso de um médico. Porém, nem todos os listados dentro dos proibidos são de fato prejudiciais, o que ocorre é que falta compreensão sobre a química dos óleos essenciais por parte de alguns aromaterapeutas – que fazem cursos rápidos mais ligados ao aroma do que realmente ao terapêutico – e principalmente o uso de seus princípios de forma isolada.

O que aprendi com o Dr. David Stewart em seu maravilhoso livro The Chemistry of Essential Oils Made Simple (Sem edição em português) é que o que transforma um óleo essencial em algo terapêutico e livre de perigos é justamente a sua pureza e origem. Em nossos tempos atuais procuramos sempre um remédio para resolver um problema e não paramos para pensar no que aquele remédio é de fato. A maioria são princípios ativos isolados de plantas, quando não são elementos sintetizados a partir da mesma estrutura química encontrada nas plantas. Por exemplo o ácido acetilsalicílico (C9H8O4)popularmente conhecido como AAS ou Aspirina é uma sintetização (não-natural) de um composto encontrado nas cascas dos Salgueiros-brancos (Salix Alba) chamado salicina (C13H18O7), que depois de isolado se transforma em ácido salicílico (C7H6O3). Vamos dar uma olhada em suas estruturas moleculares:

Vejam como estruturalmente eles são diferentes?

 

Vejam como diferem, não só em suas formas moleculares, quanto em suas estruturas moleculares. São estruturas completamente diferentes, logo são também compostos diferentes.

As propriedades antipiréticas e analgésicas da casca do salgueiro-branco (Salix alba) pulverizada (em pó), são conhecidas desde 400 a.C. Em 1828, o farmacêutico francês Henri Leroux e o químico italiano Raffaele Piria, conseguiram isolar o princípio ativo da casca, a salicina em forma cristalina. Porém, posteriormente foi descoberto que a salicilina (ou ácido salicílico) poderia ter uma ação corrosiva nas paredes do estômago, para tentar resolver essa questão adicionaram um radical de acetil que resultou em um éster de acetato que conhecemos como Ácido Acetilsalicílico (AAS/ASPIRINA), que é menos corrosivo, porém também é menos potente, do ponto de vista farmacêutico.

Porém analisando que o remédio era utilizado de forma fitoterápica ou popular desde 400 a.C., por que só após sua sintetização que foi notada essa problemática e por que agora que começou a proporcionar danos as pessoas? Fica evidente que é devido a isolar o composto, a casca do salgueiro-branca possuía diversos outros compostos além da salicilina, o que poderia não ter um efeito direito como antipirético e analgésico, mas que “domava as feras” para não prejudicar o estômago e outros órgãos e sistemas do corpo humano. Quando isolamos algo, também perdemos muito, exatamente a mesma lógica se aplica aos óleos essenciais que são sintetizados (parcamente) e também adulterados com petroquímicos e outros produtos.

No caso dos óleos essenciais, o que faz a diferença é o conjunto e não apenas um item isolado, por isso é de vital importância um estudo químico e farmacêutico também desses compostos. Além disto, ainda não possuímos tecnologia suficiente para identificar todos os componentes de um óleo essencial que muitas vezes são vistos como traços químicos ou vestígios, além dos não-identificados. E por final há ainda a questão dos isômeros que fica para um outro artigo.

Isômeros são compostos que apresentam a mesma fórmula molecular, apesar de serem diferentes. A palavra isômeros é derivada dos radicais gregos: iso = igual e meros = partes.

Lembre-se sempre de procurar alguém que seja realmente qualificado para lhe apresentar os benefícios dos óleos essenciais, pois tem muita gente por aí que se utiliza de um catálogo de óleos essenciais e sai divulgando cursos e apostilas pela internet, apenas para lucrar com a confiança alheia.

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