Dentro dos módulos sobre Meditação, na pós-graduação, me deparei com um exercício curioso. O exercício consistia em formar duplas, onde uma das pessoas seria o PENSAMENTO e a outra seria realmente o EU. O Pensamento iria falar coisas do dia-a-dia, algumas coisas incomodas, outras como lembretes, por exemplo: “Vá ao mercado!”, “Você bateu o carro.”, “Tem roupa para lavar”, “Estou com fome”, etc. O EU deveria simplesmente ouvir isso e dizer:

“Oi Pensamento, Obrigado Pensamento, Tchau Pensamento!”

Pode parecer um exercício até ingênuo, para não dizer bobo, mas tenho que confessar que com certas afirmações eu me senti incomodado, mesmo sendo algo sugestionado e eu sabendo que não era real, mas ao processar aquilo, algumas coisas realmente me incomodaram.

O intuito é fazer um treinamento para liberar a mente dos pensamentos rotineiros e entrar no estado contemplativo, pré-meditação. Pois como dizem, a meditação não é a ausência de pensamentos, mas o livre fluxo destes, sem apego. Segundo Buda a causa de todas nossas aflições e sofrimentos é o apego.

Uso até uma comparação de que a mente deve ser como um rio, onde os pensamentos são as águas, que devem correr livremente, pois se há obstáculos, há tormenta e sofrimento. Pensamentos represados (segundo Vovô Chico) geram doenças e enfermidades, assim como obstruir pensamentos pode causar feridas emocionais profundas.

O próprio Vovô Chico diz sempre que um presente só é seu quando você o aceita. Não escolhemos presentes, as pessoas nos dão aquilo que elas acham que vamos gostar, mas algumas nos dão o que não vamos gostar, propositadamente. Logo se alguém chegar com um presente que não se encaixe no seu jeito de ser, simplesmente diga: Não, obrigado e tchau. Assim o presente passa a ser de quem lhe ofertou e ele tem que saber lidar com isso. Essa é uma atividade de não se permitir contaminar com as emanações alheias.

Ainda o mesmo Vovô, acabou dizendo em gira realizada na Casa de Caridade Nossa Senhora Aparecida, algo que me fez pensar demais. Estávamos sem luz, devido as chuvas fortes na região e os trabalhos estavam sendo realizados a luz de velas. O Vovozinho disse que até preferia os trabalhos assim pois era mais “intimista” (palavra minha, não dele). A consulente o interrogou se ele não achava que estava escuro demais e ele disse:

– Não Fia, ‘pra eu tá claro como dia. Os “oió” num são a janela da alma? Então, para mim tá claro e “ilumiado”. A gente zinfia, só consegue enxergar com aquilo que tem dentro de cada um. Se tá escuro para suncê, é porque dentro de suncê tem escuridão. Quando você começar a enxergar com clareza é porque seu sol de dentro tá brilhando e ocê tá sem a escuridão. Cada um só enxerga fora aquilo que tem dentro.

Nesse momento tive que me render a sabedoria profunda do pai velho que se apresentava ali, xucro, iletrado e humilde, mas com uma profunda filosofia que poucos na terra conseguem atingir.

Isso faz a gente questionar, se tantas mazelas que passamos e imputamos aos outros não são na verdade coisas criadas pela nossa própria mente. Não seria também toda a maldade vista nas outras pessoas, a maldade que carrego dentro de mim?

Com isso eu aprendi, aceito meu lado sombrio, mas me sobreponho a ele em uma luta constante. Mas é como diz aquele velho provérbio indígena.

“Dentro de mim, existem dois lobos:
O lobo do ódio e o lobo do amor.
Ambos disputam o poder sobre mim.
E quando me perguntam qual lobo é vencedor,
respondo:
O que eu alimento” 

Aprendo assim que tanto Buda, quanto a meditação, quanto os indígenas e o próprio vovô Chico, trazem dentro de si sabedorias similares que só podem ser atingidas quando nos libertamos das amarras das paixões inferiores. O trabalho não é fácil, mas justamente por isso que eu escolho começá-lo hoje, para ter tempo de atingir o mais longe grau, nessa vida, se possível.

%d blogueiros gostam disto: