Os povos indígenas no Brasil foram separados não apenas culturalmente mas também pelo seu tronco linguístico. Então vários povos diferentes podiam fazer parte de um mesmo tronco linguístico, é o caso dos Guaranis, que fazem parte do tronco linguístico tupi.
Ainda hoje encontramos alguns povos indígenas nativos sul-americanos que cultuam de certa forma, ou pelo menos mantém viva a cultura, dos deuses de seus ancestrais, assim como das lendas de seu povo.
Mito da Criação segundo o povo Guarani.
Nhanderuvuçu, deus supremo tupi, criou tudo. Nhanderuvuçu pede ajuda a Jaci, deusa da lua, para descer a terra em um monte na região do Areguá, atualmente Paraguai. Olhando tudo que aqui podia ter, ele criou: a terra, os oceanos, as florestas e os animais. Para enfeitar o céu, colocou estrelas.
Então vendo sua criação decidiu povoá-la, pegando um pouco de argila que havia criado, foi moldando em estátuas uma figura que ele chamou de homem e outra figura que ele chamou de mulher, misturando vários elementos da natureza para deixar cada vez mais bonita sua criação. Então quando estava satisfeito, soprou a vida nas estátuas. No seu sopro havia o princípio do bem e do mal, e então Nhanderuvuçu partiu e deixou os homens aqui.
O homem tomou o nome de Rupave e a mulher de Cypave, que significam Pai e Mãe dos Povos. Eles se amaram e tiveram três filhos e um grande número de filhas. O primogênito recebeu o nome de Tumé Arandú, o mais sábio dos homem e o grande profeta do povo guarani. O segundo filho recebeu o nome de Marangatu, um grande líder, generoso e benevolente. O terceiro filho foi Japeusá, que tinha prevalência do sopro da mentira e era considerado um ladrão e trapaceiro, querendo sempre confundir a todos e aprontar maldades.
Marangatu teve uma filha, que recebeu o nome de Kerana. Sua beleza atraia a cobiça do espírito Taubymana, um espírito malévolo. Esse espírito capturou Kerana e com ela teve sete filhos. Como nasceram de uma violência, todos foram amaldiçoados pela grande deusa Aracy, e seis dele nasceram como monstros horríveis. Os filhos são Teju Jagua, Mboi Tu’i, Moñai, Kurupi, Ao Ao, Luison e Jaci-Jaterê. Cada um regê um domínio, então: Teju Jagua se tornou o espíritos das cavernas e frutas, Mboi Tu’i é o espírito dos cursos de água e criaturas aquáticas, Moñai é o espírito dos campos abertos, Kurupi é o espírito da sexualidade e da fertilidade, Ao Ao é o espírito dos montes e montanhas, Luison é o espírito da morte e Jaci-Jaterê é o espírito do repouso e da sesta.
Deuses Guaranis
Nhanderuvuçu
Também pode ser conhecido como Nhamandú, Yamandú ou Nhandejara é o deus maior da mitologia tupi-guarani.
Nhanderuvuçu não possuí forma física antropomórfica, é apenas uma energia que sempre existiu e sempre existira. Então é considerado que esse deus é anterior a criação do Universo. No princípio dos tempos ele destruiu tudo que havia e criou então a Anhanga (alma) e deu para ela duas polaridades a masculina e a feminina. Então homem e mulher são iguais e contemporâneos. Foram criados juntos. Quando essas duas Anhangas se juntaram surgiu Anhandeci, que é a matéria.
Criou primeiramente a deusa Iara (água) e então criou Tupã (trovão – ventos – fogo), logo depois criou Caaporã (matas).
Tumé Arandú
Também é conhecido como Sumé, Zumé, Pay Sumé ou Toré. É uma antiga entidade da mitologia do povo tupi, que teria vivido entre os índios antes da chegada do homem-branco e que teria ensinado aos povos tupis muitos conhecimentos, como a agricultura, o uso do fogo e a organização social da tribo. Também aboliu o sacrifício animal e a vingança pura e simples.
Sumé se apresentava como um homem branco, que andava ou flutuava pelo ar e possuía cabelos e barbas brancas e ambos bem compridos. Foi ele quem ensinou como plantar mandioca e como transformá-la em farinha. Além disso ensinou a pesca e como transformar certos espinhos em anzóis.
Jaci
Jaci é a deusa tupi da Lua, é a protetora dos amantes e da reprodução. É também associada a figura mitológica de Vishnu dos hindus, Afrodite dos gregos, Vênus dos romanos e de Ísis dos egípcios.
Teju Jagua
Também é conhecido como Teiú-iaguá, é o deus das cavernas, grutas e lagos para os guaranis. Tem o corpo de um grande lagarto (Teiú) e sete cabeças de cachorro. Adora comer frutas e mel. Em sua cabeça encontra-se incrustada uma pedra preciosa chamada Carbúnculo. Vive rodeado de tesouros. Existe uma lenda do Teiú (lagarto) com uma pedra na cabeça, que ao ser encontrado pode trazer sorte ou azar.
Mboi Tu’i
A tradução de seu nome é “Serpente-Papagaio”, pois possui a forma de uma enorme serpente com cabeça e bico de papagaio. Tem listras por todo o corpo e muitas penas cobrem sua cabeça. É dito que possui o mau-olhado, para quem olhar dará má sorte e pode colocar a vítima paralisada de medo. Ele protege a vida dos anfíbios e adora locais úmidos, todos que ouvem seu grito ficam completamente absorvidos pelo medo.
Moñai
Os domínios desse espírito são os campos abertos e ele lembrava uma grande serpente com dois chifres na cabeça, que se assemelhavam a antenas. Ele se alimenta de pássaros e pode hipnotizar as suas presas (homens ou animais) com suas antenas. Como tem facilidade para escalar e deslizar por debaixo da mata é considerado o soberano do ar.
Adora roubar itens, para causar discórdia nas tribos. Então quando algo some e ninguém tomou, é dito que foi Moñai quem levou. Foi morto através do sacrifício de Porâcy, uma índia que seduziu Moñai, mas acabou morrendo queimada dentro da caverna junto desse espírito. Para homenagear Porâcy, os deuses elevaram ela e a transformaram na Aurora.
Kurupi
Também conhecido como Curupira-Amarelo, Taiutú-Perê e Micuim-Cambá é um humanoide ou homúnculo que habita as matas densas e florestas e que nas noites onde a Lua está cheia, atormenta a vida de todos moradores, sejam homens ou animais.
Movimenta-se em saltos e possui dentes pontiagudos, é dito que é muito veloz. Seu alimento preferido são filhotes de animais recém-nascidos e também os excrementos de cotia. Sempre é possível saber que esse espírito está por perto pois ele adora dar gritos e gargalhadas malignas.
Ele possuí grande sagacidade e por isso é muito temido pela comunidade dos índios, pois costuma perseguir e violentar os índios perdidos na floresta, sejam homens ou mulheres.
Ao Ao
Esse espírito é descrito como uma criatura voraz semelhante a um cordeiro, cabra ou carneiro. Possui dentes muito afiados. Pronuncia o som “ao ao” ao perseguir suas vítimas, o que lhe deu seu nome. Ele possui enorme vitalidade e uma grande prole descende dele. Ele é um comedor de humanos, ou seja canibal. A única árvore segura para se subir e escapar do Ao Ao é a Palmeira.
Luison
Luison ou também Lobizón têm esse nome devido a sua semelhança com o mito do lobisomem. Ele possui poder sobre a morte e lembra muito um lobo, ou em alguns casos, um macaco de olhos rubros. Em todas as formas vê-se que possuí barbatanas de peixe e um falo gigante, maior que o de uma anta. É o sétimo filho de Taubymana e Keraná e que fora amaldiçoado, então nas noites de lua cheia de sexta-feira ou de terça-feira, ele se transformaria em uma criatura metade cachorro-do-mato e metade homem.
Jaci-Jaterê
Seu nome significa “Pedaço de Lua”, é o único dos filhos de Taubymana e Keraná que não tem uma aparência monstruosa. É um homem pequeno de estatura com cabelos loiros e olhos azuis. Varia entre o belo e o encantador. Dizem que carrega na mão um bastão mágico, habitando na mata e é o protetor da erva-mate.
Ele é considerado o senhor do descanso vespertino, ou sesta. Diz que vaga nas aldeias procurando as crianças que não querem descansar e se mostra a elas que caem em transe e ficam paralisadas. Em outras versões é dito que rouba as crianças e as entrega ao seu irmão Ao Ao, para lhe servir de alimento.
É dito que Jaci-Jatêre possui vários tesouros escondidos e que quem conseguir tirar o bastão mágico das suas mãos poderá barganhar com o mesmo para encontrar tesouros. É um dos mitos que deram origem a figura do Saci-Pererê.