Infelizmente, as pessoas e a sociedade de hoje em dia, atribuíram ao termo folclore um significado pejorativo, taxando de uma crendice ou superstição, porém nem sequer sabem o que significa o folclore ou do poder – e do envolvimento – que este possui em nossa sociedade, mesmo que de forma indireta, na formação de nossa cultura.
Por meio da racionalização de tudo e de uma necessidade intelectual descabida, as pessoas tendem a tentar explicar um fenômeno folclórico por métodos científicos, porém, não compreendem que isso deve ser sentido, vivenciado e experimentado, com mais do que apenas o cérebro.
O termo folclore provém da junção de duas palavras de origem inglesa, folk e lore, que significam, gente ou povo e conhecimento, respectivamente. Logo Folklore ou Folclore quer dizer exatamente o conhecimento do povo ou melhor o conhecimento popular. Justamente por ser popular, não precisa de uma comprovação científica e nem sequer de provas materiais, sendo algo encontrado na base da crença (e não crendice, de forma pejorativa) e também no empirismo.
Aquele chá de erva cidreira para insônia e também o chá de camomila para dores e incômodos estomacais são originários de um conhecimento popular, que pode, posteriormente, ser comprovado quimicamente em laboratório como eficientes. O folclore compreende muito mais do que lendas de seres sobrenaturais, mas também, danças, cânticos, comidas típicas, festas, remédios caseiros, artesanatos, jogos, religiosidades, brincadeiras, etc. Segundo a UNESCO, o folclore é o mesmo que cultura popular e encerra em si a identidade social de uma comunidade e de uma nação. A maior parte do folclore advém de lendas e culturas antigas, misturando crenças indígenas, com as europeias e também as africanas.
Apesar do descredito da comunidade científico, o folclore está enraizado e é tido pela comunidade como algo real e palpável. Então uma pessoa doente pode ser sendo vítima tanto de uma ação de microrganismos ou um desequilíbrio orgânico, quanto sendo atacada por espíritos malignos que provocam a doença, na visão popular. Isso progrediu para uma nova concepção, fazendo crer-se que o espírito maligno é quem instila o microrganismo a atacar aquela pessoa em si, quando essa está com a guarda-baixa (imunidade em baixa).
O Folclore, apesar da antiguidade, não é algo rígido e cristalizado e pode ser sempre adaptado e vai se moldando conforme a população também muda e acrescenta novos saberes.
No campo da religiosidade, praticamente todas as religiões bebem de fontes folclóricas e interage com suas personagens a um nível subjetivo. Seja do mais conhecido (porém, infantilizado pela mídia) Saci-Pererê até questões mais desconhecidas no sudeste como o Boi-Bumbá. A essas figuras, dá-se o nome de encantados, como regentes naturais e elementos da própria natureza, que se relacionam com o plano material por meio de intercessões energéticas e pontos sagrados. Muitos dos guias que atuam na Umbanda, no Terecô, na Encantaria, na Jurema, e demais religiões culturalmente brasileiras, são encantados ou tem alguma relação com eles.
Por um infortúnio acadêmico, as questões da experiência pessoal, não é levada em consideração para oficializar algo, deixando todas as muitas manifestações vivas do folclore, que ocorrem nas tendas espiritualistas, como apenas crendice e superstição. A missão do espiritualista é resgatar o folclore e vivenciar a sua riqueza cultural, sabendo que está intimamente ligado a sua própria origem. Não há demérito algum crer e manter viva a tradição folclórica e nem faz ninguém menos inteligente, como tentam fazer parecer os acadêmicos e o céticos.
As experiências pessoais são tão ou mais importantes que um paper científico e devem manter-se sempre acima de suspeitas, pois ao acreditar em algo, aquilo lhe faz sentido. Não há como dizer a um sertanejo que o que ele vê na mata não é o boitatá, mas sim apenas a emanação de gases decorrente da decomposição de material orgânico. Para ele, isso não faz sentido e é até arrogância de nossa parte tentar convencê-lo do contrário. Devemos prezar pelo respeito e pela manutenção do patrimônio cultural brasileiro.
Aproveitando a deixa, baixe a revista SACI PERERÊ – 100 ANOS DO INQUÉRITO, feita pelo pessoal do Colecionador de Sacis, com uma matéria minha sobre o Saci e seu papel dentro da Umbanda.