Já falamos de Ogum em diversos outros textos nossos como “Ogum Na Umbanda, Salve Jorge!”, “Falange de Rompe-Mato: Ogum e Caboclo” e o vídeo “Conhecendo a Umbanda 03 – Linha de Oxalá e Linha de Ogum”. Porém nunca é demais falar desse valoroso Orixá que é chamado sempre a frente dos trabalhos de Umbanda.

Já no ponto cantado é dito: “Quando Oxalá fundou a Umbanda, senhor Ogum TOMOU conta do Congá!”. Vejam que inspirador esse ponto, demonstrando que o Congá, o local onde estão firmadas todas as forças dos Orixás é da conta de OGUM, sua responsabilidade.

Mas Ogum ou São Jorge tem funções mais amplas dentro dos trabalhos de Umbanda, que poucos conhecem ou até mesmo caiu no esquecimento nos tempos atuais. Dentro da hierarquia sabemos que há sete falanges principais de Ogum, Linha de São Jorge ou ainda Linha de Demanda. São elas:

  1. Ogum Beira-Mar
  2. Ogum Rompe-Mato
  3. Ogum Iara
  4. Ogum Megê
  5. Ogum Naruê
  6. Ogum de Malê
  7. Ogum Nagô

A primeira impressão que todos possuem é que as falanges devem seguir as sete linhas principais, que dentro da Umbanda mais antiga são: Oxalá, Ogum, Oxóssi, Xangô, Iansã, Iemanjá e Almas. Porém, podemos notar uma “incongruência” nesse momento. Vamos exemplificar em cima de Ogum Iara, que é um Ogum atuando na força de Oxum ou Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Oxum, dentro da hierarquia é uma falangeira dentro da linha de Iemanjá. Então como ela pode estar regendo uma falange da linha de Ogum também? Muitas pessoas se fixam nisso e acabam perdendo todo o entendimento sobre as forças de Umbanda.

Não se apegue a essas concepções novas, nessa tentativa de normatizar a Umbanda. A Umbanda tem um padrão próprio e nem sempre é explicada por métricas convencionais ou nessa tentativa de deixar tudo muito cartesiano e científico. As sete falanges de Ogum, são as que possuem maior hierarquia, assim como em uma composição militar.

Primeiramente precisamos definir algo antes de entrar nas falanges. O Ogum de Umbanda não é o Orixá Ogum Africano, ele é mais associado a figura do mítico São Jorge. Tanto o é, que suas representações geralmente, assim como da maioria de seus falangeiros, são feitas com indumentárias romanas e em alguns casos uma mistura entre o medieval e o romano clássico. Logo quando falamos sobre o Ogum de Umbanda, não podemos imaginar que estamos trabalhando com o Orixá Ogum Yorubá. Até porque o próprio Orixá não é a FORÇA da LEI ou DEMANDA em si, mas apenas uma manifestação desta. Assim como podemos encontrar a mesma manifestação em diversas outras religiões por outros nomes: Tyr, Ares, Miguel, etc.

Primeira Falange de Ogum, chefiada por Ogum Beira-Mar

Assim como é chefe da primeira falange, também é chefe maior de todos os falangeiros de Ogum. Sendo considerado o braço-direito direto de São Jorge. Por essa “patente” avançada em muitos terreiros convencionais, ele é tido como O PROTETOR E GUARDIÃO MAIOR do terreiro. Ele é o responsável pelo limiar entre o mundo das águas do mar e o mundo terreno, que abre o mundo dos espíritos para o mundo material. Seu nome é a representação dessa limitação, como se ele fosse o verdadeiro intermediário de todas as forças. Atua primordialmente nas forças das águas, com preferência pela força de Iemanjá. O Mar é o verdadeiro poder do nosso planeta, ele ocupa 2/3 de todo o globo terrestre e é de onde surgiu a vida e de onde também podemos colher o alimento. Além de abrigar mistérios em seus abismos, assim como entidades antiquíssimas que lá habitam.  Um dos falangeiros diretos dessa linha é conhecido em muitos terreiros e se chama de Ogum Sete Ondas.

Segunda Falange de Ogum, chefiada por Ogum Rompe-Mato

Essa falange é a que toma conta das matas e tudo relacionado a ela, sejam os animais, as plantas, os caminhos e outras estruturas e habitantes que encontramos. Inclusive os habitantes invisíveis, como os encantados. A representação do chefe dessa falange, o próprio Ogum Rompe-Mato é a mais diversa das outras, ele é o único que não se apresenta como um soldado romano ou medieval, mas sim como um Índio, montado em um cavalo. Nós falamos mais sobre isso no post sobre Falange de Rompe-Mato: Ogum e Caboclo.

A força que mais vemos em evidência aqui então é a de Oxóssi e todo o povo aliado as matas sagradas. Além disto, é tido como um grande guerreiro e desbravador. A sua função principal dentro dos rituais de Umbanda é guardar a energia(mojo/axé) advinda das matas e também controlar os elementais e encantados naturais das matas, que se manifestarão nos terreiros. Controlam também a extração dos eflúvios das matas, que podem vir a ser usados para casos negativos por entidades negativas ou benéficos por entidades de lei, assim como punem aqueles que desrespeitam as matas e seus habitantes.

Terceira Falange de Ogum, chefiada por Ogum Iara

Ogum Iara ou Yara é um dos que geram as primeiras confusões, pois os primeiros dois chefes de falange estavam associados a forças das linhas de frente da Umbanda (as sete linhas principais). Mas Ogum Iara está relacionado a Oxum, que já é uma falangeira de Iemanjá, logo pode parecer para o incauto ou leigo que é um Ogum com menos força ou poder. Porém, é só aparência, por ele reger os rios, cachoeiras e todas as águas doces das matas. Regendo o elemento, também rege seus habitantes e é esse Ogum que acaba fazendo a ligação entre o povo de Ogum Rompe-Mato com o povo de Ogum Beira-Mar. A própria deusa  Iara, presta reverência a esse guardião.  Além de atuar na guarda, também possui aspectos de cura e de purificação. Quando os espíritos se encontram degenerados nas zonas umbralinas, geralmente são escoltados por falangeiros dessa ordem, para a recuperação nas cachoeiras. Logo fica clara a ligação entre TODOS os Oguns e os caboclos que militam na linha de Ogum.

Seu braço-direito e capitão direto é o Ogum dos Rios, que chefia a movimentação das águas e a sua purificação. Também atuam liderando os caboclos(as) dos Rios que trabalham na sexta linha, a de Iemanjá.

Quarta Falange de Ogum, chefiada por Ogum Megê

Ogum Megê é o chefe dos guardiões do Cemitério. Alguns leitores podem estranhar por eu usar a terminologia Guardiões para os Oguns, visto que a Umbanda mais contemporânea o associa a entidades da esquerda, porém o que posso dizer é que o termo guardião cabe mais aos Oguns do que a qualquer outra entidade, pois eles tem mesmo funções de proteção, guarda e de sentinelas. A força mais alinhada a Ogum Megê é justamente de Iansã, principalmente no aspecto Iansã de Balê, a senhora dos Eguns. Ele faz a ronda por todo o campo santo e mantém todos dentro da sua ordem natural.

Ordem, no sentido natural, não quer dizer que os Exus estarão acorrentados assim como os Kiumbas, mas sim que todos estarão cumprindo com as suas funções e suas próprias naturezas. A natureza do kiumba é prejudicar, até ele mesmo encontrar a consciência e se iluminar? Ogum Megê cuida para que isso ocorra, enquanto os espíritos estão dentro do cemitério. Alguém entra no cemitério para fazer uma demanda negativa? É Ogum Megê que estará de olho. Além disso é ele mesmo que fará a condução dos espíritos negativos para purgar dentro do campo santo. Esse Ogum é muito chamado para desfazer trabalhos de Cemitério, por consequência.

Quinta Falange de Ogum, chefiada por Ogum Naruê

Mais um Ogum com um nome mais misterioso, o arcano deste nome representa os povos de origem africana, não importando suas nações.  Essa é a linha que mais se aproxima realmente dos domínios e contrastes do Ogum Africano. São esses Oguns grandes conhecedores das artes negras, como os templários que a cultura popular julga fazer o mesmo, que combatem os bruxos negativos, magos negros, feiticeiros, etc. Atuam muito sincronizados com as linhas de Quimbanda, justamente enviam os espíritos de Esquerda para vários “ataques” para enfraquecer os magos negativos. A esse povo, quando ativado, é recomendado que tenhamos muita consciência, pois eles são implacáveis.  Sabe aquele mago que dava cursos e usava a magia para fins maléficos? Então, Ogum Naruê tá atuando na sua vida.

Sexta Falange de Ogum, chefiada por Ogum de Malê

Alguns também escrevem Mallet e essa é a linha onde o Oríxa Mallet se encontra, visto que pelo que Zélio deixou para nós, o Orixá Mallet era uma entidade que atuava dentro dos campos de Ogum, combatendo demandas e seres trevosos. Essa linha é uma das mais fechadas, não tendo nem uma imagem para representa-la. Trabalham em consonância aos espíritos de esquerda e trazem muito da filosofia islâmica dentro de seus princípios, apesar de não serem de fato muçulmanos. Seus domínios compreendem o desmanche de magias negativas, fazendo com que o mago ativador seja punido, ou em outras palavras, devolvem a demanda para o mesmo.

São geralmente descritos, pela vidência, como entidades de porte africanas bem altas e fortes. Justamente por isso sua manifestação não se dá por qualquer médium, pois é necessária uma configuração biológica própria para incorporar um falangeiro desta linha. Quando falamos do Orixá Mallet e lemos suas histórias, percebemos exatamente o que isso quer dizer.

Sétima Falange de Ogum, chefiada por Ogum Nagô

Existe dentro da esquerda um povo chamado Ganga, que é tido como muito selvagem e muito perigoso. São Exus de uma animalidade e poder tremendos, muitos nem sequer foram seres que passaram por vivência humana, logo sua ética é completamente diferente, até mesmo para os padrões de Exus. Tanto que nem se recomenda a incorporação do povo de ganga com o risco do “cavalo” não aguentar. Pois bem, Ogum Nagô é justamente quem controla essas entidades. Desfazem os trabalhos negativos mais complexos possíveis, geralmente os associados a trabalhos de morte.  Mas dentro de seus domínios também encontramos algo muito interessante, que é a cura. Eles trabalham junto a antigos sacerdotes de cultura bantu promovendo renovações e curas materiais incríveis. Mas também não é comum ver um Ogum Nagô incorporar.


Essas são as sete falanges principais da Linha de Ogum, porém ainda existem diversos outros falangeiros que militam dentro dessas falanges. Temos que lembrar que a estrutura das linhas sempre segue o padrão setenário, ou seja, são sete linhas, cada uma possuí sete falanges e cada falange possuem sete legiões. Outros Oguns conhecidos se encontram dentro das legiões, casos de Ogum De Lei ou Delê, Ogum Matinata, Ogum da Lua, Ogum de Ronda, Ogum do Mar (Marinho), Ogum dos Cemitérios, Ogum 7 Espadas, Ogum 7 Escudos, Ogum Peito-de-Aço, Ogum 7 Estrelas, Ogum das Matas, Ogum Quebra-Demanda, etc.

Os Oguns também possuem funções específicas, como o caso do Ogum de Ronda, que faz a Ronda no perímetro das Calungas Pequenas e também dos terreiros. Criam verdadeiros cinturões de soldados impedindo que entidades trevosas atuem contra esses locais ou se utilizem da energia desses locais para práticas negativas. Porém, sejamos sinceros, faz quanto tempo que não é feita uma ativação de Ogum de Ronda no seu terreiro? Às vezes é necessário voltar ao passado para compreender como praticar uma melhor Umbanda no presente. O que alguns consideram superstição ou fundamentos atrasados, pode ser essencial para manutenção da ordem de trabalhos em um terreiro.

“Ogum é São Jorge Guerreiro Vencedor da batalha do Humaitá Filho dileto de Pai Olorum Sentinela avançando de Rei Oxalá

Vence, vence demanda Ogum glorioso Orixá da Umbanda Vence, vence demanda Ogum glorioso Orixá da Umbanda

Ilumina meu Peji, proteja meu Ilê, fortaleça minha reza, firma meu Camutuê

Ogum De Lei Ogum Megê Ogum Megê Ogum De Lei

Em nome Pai Olorum eu vou saravar a linha de Ogum

Saravá Ogum Beira Mar

Ogum Rompe Mato Ogum Iara

Saravá Ogum Megê

Ogum Naruê Ogum Malê

Saravá Ogum De Nagô Nosso povo e vossa lei.”

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