Dia 23 de Abril comemoramos o dia de São Jorge, sincretizado com a figura de Ogum na Umbanda brasileira. Ogum é o general de aruanda e vencedor de demandas, através da popular figura de São Jorge guerreiro, creio que ao lado de Iemanjá, é um dos Orixás mais conhecidos e cultuados no Brasil.
A figura mitológica de São Jorge é carregada de lendas, feitos e atos heroicos. Visto como aquele que dominou o dragão, ou seja, tem o poder sobre os 4 elementos que o dragão representa. Como diz o ponto:
“Em seu cavalo branco, ele vem montado.
Viva São Jorge Guerreiro.
Com sua bandeira e sua espada,
Vem abençoar os filhos do terreiro.”
Algumas vertentes umbandistas creditam que a regência do ano de 2015 será feita por Ogum, então espera-se um ano de muitas batalhas, mas também com muitas vitórias.
Seus domínios mais conhecidos são: a Lei, a Ordem, a Metalurgia, o Ferro, a Tecnologia, os Caminhos e também as Demandas. Atua tanto no elemento Ar quanto no elemento Fogo, apesar da figura acima citada do dragão denotar que ele tem controle sobre todos os quatro elementos.
É o regente não só das leis mas como da Lei Maior, a Lei Divina. Então quando um ser está em desequilíbrios, os falangeiros de Ogum são acionados para restabelecer a ordem dos mesmos. Trabalhando conjuntamente com a Justiça Divina (Xangô) traz harmonia e faz-se cumprir a lei do Karma.
Possui diversos encantados – Orixás Intermediários – conhecidos pelas suas posturas retas, militares e por não falar. São alguns: Ogum Beira-Mar, Ogum Sete-Ondas, Ogum Rompe-Mato, Ogum Naruê, Ogum Malê, Ogum Megê, Ogum Iara e Ogum Delê.
São Jorge é uma figura mítica, ou seja, não há comprovação de sua real existência. Crê-se que tenha nascido na Capadócia (região da Anatólia, atual Turquia) e era um soldado cristão do Império Romano, por volta do século IV. Quando o imperador Diocleciano declarou perseguição aos cristãos, Jorge acabou se rebelando e foi torturado por sua insubordinação. Foi decapitado em 23 de abril de 303. O Santo é padroeiro de países como Inglaterra, Portugal, Geórgia, Catalunha, Lituânia, Sérvia, Montenegro, Etiópia e das cidades de Londres, Barcelona, Gênova, Régio da Calábria, Ferrara, Moscou e Beirute.
Através disto não é difícil associá-lo ao Orixá Ogum, também guerreiro.
“Outra lenda conta que quando Ogum conquistou o reino de Irê, deu o trono para seu filho e partiu em busca de novas batalhas. Anos depois, ele voltou. Mas chegou no dia de uma festa religiosa em que todos deviam guardar silêncio. Sentindo sede, quis beber, mas o vinho havia sido todo usado no ritual religioso; pediu comida e ninguém lhe respondeu, por causa da proibição religiosa.
Pensando que o desprezavam, Ogum puxou a espada e matou todo mundo. Quando terminou a cerimônia religiosa, o filho veio ao encontro de Ogum, prestou-lhe todas as homenagens e ofereceu-lhe um banquete. Os habitantes de Irê, já libertos do voto de silêncio, começaram a cantar louvores a Ogum, dizendo: “Ogum jé ojá” (Ogum come cachorro); o que lhe valeu o nome de Ogunjá. Então Ogum soube do motivo daquele silêncio e lamentou seus atos violentos. Lançou sua espada no ar e subiu com ela para o Orum, indo habitar a lua. Outros contam que Ogum baixou a ponta da sua espada em direção ao solo e desapareceu terra adentro, com um barulho assustador, tornando-se então um Orixá.
Porém, antes de desaparecer, Ogum pronunciou algumas palavras. E se alguém pronunciar essas mesmas palavras durante uma batalha, Ogum vem e guerreia por essa pessoa. Mas tais palavras não podem ser usadas em outras circunstâncias: se Ogum não encontrar inimigos diante de si, é sobre o imprudente que as pronunciou que Ele se lançará.” Lenda de Ogum, Ogum se torna Orixá.
Geralmente Ogum é evocado quando há necessidade de abrir os caminhos, de enfrentar situações perigosas, para pedir proteção para viajar, para ordenar um pensamento ou ação, para quando nos sentimos perdidos ou realmente estamos perdidos, na anulação de energias negativas, magias negras e demandas e para proteção de um ambiente ou pessoa.
Alguns elementos de Ogum:
Velas: Azuis e Vermelhas.
Fitas: Azul, Vermelha, Branca, Verde e Marrom.
Pedras: Quartzo Azul, Sodalita, Hematita e Rubi.
Minério: Ferro.
Objetos: Espada, Faca, Lança, Escudo, Ferramentas de Ferro, Cavalo, etc.
Saudação: Ogum Yê! Patacuri Ogum!
Bebidas: Água e Cerveja clara.
Flores: Palma Vermelha e Cravo Vermelho.
Ervas: Espada de São Jorge¹, Lança de São Jorge¹, Quebra-Demanda, Abre-Caminho, Aroeira, Eucalipto, Dracena, Guiné, Comigo-Ninguém-Pode¹ e Dandá da Costa.
Comidas: Maçã, Manga Espada, Limão, Feijão, Feijoada, Inhame, Cará, Lima da Pérsia.
Pontos de Força: os Caminhos e Encruzilhadas.
¹ Não se deve utilizar essas ervas para banhos devido sua toxicidade elevada. A Espada de São Jorge em alguns casos é recomendada, mas só faça banho deste tipo quando bem instruído por um guia espiritual de uma Casa séria. Não se recomenda banhos desses na cabeça e mucosas.
Firmeza simples para Ogum
Você precisará de três espadas de são jorge médias, 3 fitas nas cores vermelho, azul e branco com mais ou menos o seu tamanho, um pingente metálico representando uma espada.
Com as três fitas faça uma trança, e amarre suas pontas com 3 nós, coloque as espadas em forma de tridente, cruzando-as e envolva a junção das mesmas dando três, cinco ou sete nós para amarrar. Faça a oração de São Jorge:
“Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me enxerguem e nem em pensamentos eles possam me fazer mal.
Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar.
Salve Jorge, proteja a minha casa, minha família e minhavida. “
Amarre o pingente nas fitas e coloque do lado de dentro, acima do batente da porta de entrada da sua residência ou comércio. Substitua assim que o mesmo secar.
Mironga para abertura de caminhos
Em alguns momentos da vida parece que todas nossas tentativas resultam em fracasso, os caminhos parecem estar fechados. Para esse caso podemos evocar a força de Ogum, pedindo seu auxílio para libertar as amarras da vida e abrir os caminhos. É importante sempre lembrar que nossa conduta moral e o nosso karma implicam nas dificuldades de nossas vidas, portanto antes de proceder fazendo pedido aos Orixás, reveja e repense suas atitudes e foque na reforma íntima.
Escreva em um papel um pedido simples: “São Jorge, abra meus caminhos e desate os nós da minha vida”. Abra uma maçã ao meio, coloque esse papel no meio dela e acenda uma vela vermelha de sete dias ao lado. Coloque em um local seguro, onde não possa pegar fogo, faça uma prece de coração e deixe queimar. No sétimo dia, entregue a maçã na natureza e jogue o resto da vela no lixo comum.
“Salvei Ogum em seu cavalo,
Salvei também o seu Humaitá.
Saravei seu Ogum Rompe-Mato,
Ogum Iara e seu Beira-Mar.Ogum de Ronda e Ogum da Lua,
Seu Sete Espadas e Ogum Megê,
Ogum Nagô, vencedor de demandas,
Para os filhos do Terreiro proteger.
Peço licença meu pai Oxalá,
Peço licença mamãe Oxum,
Vou saravar a linha de São Jorge,
Vou saravar a linha de Ogum!Ogunhê!”
Ponto cantado na Casa de Caridade Nossa Senhora Aparecida, para chamar Ogum e seus falangeiros.
Oferenda para pedidos/agradecimento na força de Ogum
As oferendas são processos mágicos iniciados com a troca elemental das energias dos objetos ofertados, magnetismo e força vital do médium e seus pedidos e intenções. Para fazer um pedido de abertura de caminhos e/ou proteção ou agradecer uma graça recebida, pode-se fazer uma oferenda com sete velas vermelhas ou branca-vermelha, cerveja branca (espuma de Ogum) servida preferencialmente em cuité (cuia, casca de coco ou cabaça) ou em uma fruta como melancia, sete charutos, sete espadas de são jorge e frutas. As frutas podem ser melancia, goiaba, maçã vermelha, morango, romã, outras frutas vermelhas e principalmente manga espada. Coloque todos os ingredientes em um formato geométrico bonito, bem arranjados, acenda as velas e faça uma oração pedindo a proteção e a interseção das forças de Ogum e agradeça. O local para fazer essa oferenda geralmente é em mata ou campo-aberto, porém pode ser feita a beira da estrada também. Porém, como estamos em uma época onde todo mundo confunde oferenda com lixo e devemos primar pela ecologia e pela limpeza das nossas matas e cidades, pode-se fazer o mesmo em casa e depois das velas queimarem, jogar tudo no lixo ou entregar em um local como o Santuário Nacional de Umbanda ou local semelhante destinado a essa prática.
A parte prática é apenas para auxiliar e são coisas simples, porém toda mudança é feita através de vários fatores, principalmente agindo segundo um dos domínios de Ogum que é a luta e a perseverança. Quem tem Ogum do seu lado já é vencedor. Salve Jorge, Salve Ogum!
Ouça o Papo na Encruza #46 – Linha de Demanda | Ogum e São Jorge