“Exu joga a pedra hoje pra acertar amanhã…”
O ditado acima é bem conhecido de quem vivencia o mundo espiritualista onde a presença de Exu é corriqueira. Faz alusão ao personagem mitológico, Orixá Exu e não especificamente sobre a linha de exus da Umbanda, mas dá para ter uma ideia sobre como é a forma de atuação desses trabalhadores. Afinal, eles usam o nome Exu por algum motivo não é?
O que não creio que possamos fazer é tentar avaliar o Exu pela ótica ocidental pura ou cristã. Ele tem uma concepção mitológica muito assemelhada aos tricksters das mais diversas mitologias. Figuras controversas que transitam entre o lado certo e errado, bom e ruim, luz e sombras, mas que são extremamente importantes e necessários para o balanço e manutenção do universo.
Dessa forma vejo a força Exu como um ser AMORAL (leia bem para não confundir com imoral), que pela definição do Dicionário Michaelis significa:
a.mo.ral
adj m+f (a4+moral) 1 Que está fora da noção de moral ou de seus valores: O mundo físico é amoral. 2 V amoralista.
Vemos que é algo que está fora da nossa noção de moral maniqueísta. Usando de analogia podemos considerar um pai preocupado tendo que punir ou proibir seu filho de algo para que o mesmo não se prejudique ou seja educado. Na visão do filho, esse pai está sendo mau, porém na visão do pai ele está sendo correto. É mais ou menos assim a atuação de exu.
Por ser o agente da execução da lei de causa e efeito, muitas vezes tem que desempenhar papéis que na nossa visão limitada é errado, ruim ou mau. Entender o processo que a natureza e o universo tomam é importante para entender as forças que os regem. Exu é uma dessas forças naturais, que tira até o que você não tem se for necessário, mas dá até o que você nem poderia ter se for merecedor.
Como essa força natural, alguns desempenham papéis de agentes de “forças negativas”, como doenças, transtornos e perturbações. Alguns chamam de exu pagão ou quiumba, eu vejo como forças naturais mesmo. Eu separo – conforme aprendi – exus em duas categorias:
- Trabalhadores: aqueles que incorporam e dão consultas.
- de Serviço: que desempenham um papel diferente e não incorporam.
Por exemplo, um Exu Caminaloa (Kaminaloa) é um exu que rege as doenças mentais, sendo o responsável por tratá-las e provocá-las. Lembrando sempre que o que define a diferença entre veneno e remédio é a dosagem. Podemos fazer um exercício mental aqui e ver que se você incorporar um exu desses, com frequência, as coisas podem se complicar. Não porque o Exu quer causar a doença em você, mas porque ele é a própria energia da doença mental e do desequilíbrio. Conviver com essa energia “dentro” de você por muito tempo é o mesmo que ficar próximo a fontes de radiação.
Quando você olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você. – Nietzsche
Por isso precisamos entender sobre os exus que trabalham nos terreiros e suas funções, e parar com essa coisa de ficar evocando um Exu que não faz parte da sua coroa mediúnica, pois ele traz status ou é o que está na moda.
Não me conformo com a profusão de nomenclaturas para designar Exu, fugindo da tradição. A mais nova mania é a dos Guardiões. Pegaram a figura controvertida – porém necessária – de exu e a transformaram num cavaleiro andante de armadura, lutador de Cristo, etc. Não se enganem, isso é apenas uma versão “arco-íris” desses seres, tentando fazer com que eles se mostrem mais “digeríveis” ao preconceito ocidental. Exu é Exu e pronto, pode ainda ser Elegbará, Bará, Ibará, Aluvaiá, etc. Nomes que pertencem a tradições, mas Guardião não. A figura do Guardião é mais próxima dos falangeiros de Ogum.
Tem tanta gente tratando tudo de forma “pasteurizada” na Umbanda, que o verdadeiro sentido e simbolismo por trás das figuras e arquétipos está se perdendo. Não vamos mudar Exu, Exu É! E pronto!
Portão de ferro cadeado de madeira – Ponto de Exu.
Respeito é o que devemos ter pelos falangeiros da linha dos exus, assim como para todas as demais linhas. Você encarar exu pelo que ele é não irá enfraquecer a figura, muito pelo contrário, irá te dar a firmeza de estar seguindo o que a tradição deixou sacramentado. Ademais, ainda podemos conversar, rir e entre uma baforada de charuto e outra ser corrigido em nossos atos pelos Exus.
Laroyê Exu! Exu Omodjubá!