E antes que falem algo sobre ela ser uma religião de contato com os mortos, não é isso que quero dizer, afinal em tempos hodiernos devemos sempre esmiuçar tudo, pois a incapacidade de juntar as peças e a ignorância estão desmedidas dentro das comunicações nas redes.
Escrevi em 2015 um texto chamado “O Espiritismo Está Morto!” onde condeno o que teria se tornado a doutrina espírita dentro de solo brasileiros. Uma religião baseada em postulados de investigação (é preciso ter cuidado ao usar o termo ciência) e que foi abandonada completamente e descaracterizada para se tornar um centro-igrejista-que-acredita-em-reencarnação-desde-que-você-fale-difícil.
Quem me acompanha sabe que não sou muito de ficar apontando o dedo em direção a nada, mas quando me proponho a escrever, gosto de ser claro naquilo que estou postulando, desta forma esse texto sobre a morte da Umbanda é um texto que sei que irá irritar profundamente muitas pessoas (ou não, afinal, quem gosta de ler hoje em dia? Se for mais do que 15 segundos de baboseira, ninguém consegue entender).
Sempre nas caixinhas de perguntas do Instagram @douglasrainho7 me perguntam se eu acho que a Umbanda irá acabar um dia e eu sempre respondo que já acho que acabou, por diversos fatores. Muitos se surpreendem, pois frequentam centros ou terreiros de Umbanda e questionam como isso pode ser verdade, se os terreiros deles estão abertos e os caboclos e pretos-velhos continuam a baixar… Pois bem, é porque não estamos falando de mediunismo, mas de Umbanda como um sistema religioso.
A Umbanda é uma junção de práticas indígenas, de práticas africanas de origem Banto em maioria e Iorubá em minoria e de catolicismo popular (e bruxaria ibérica também, apesar de muitos refutarem). Não preciso reescrever aqui que Zélio de Morais não CRIOU a Umbanda, certo? Acho que se vocês me acompanham já devem saber disso, entretanto, se ainda não viram sobre, dá uma pesquisada aí no blog ou no YouTube que você vai encontrar eu falando sobre isso.
Mesmo antes de 1908 já existiam práticas que podemos denominar de Umbanda, palavra que provavelmente vem do idioma Quimbundo e que significa Cura, ou seja, a arte de curar. Mas a Umbanda brasileira além da cura tem outras afirmações, tais como a presença da ancestralidade formadora da colônia que viria a se tornar o Brasil e do atendimento “caritativo” das pessoas. A Umbanda se torna um pronto-socorro para almas em necessidade, sejam elas quais forem, mas que com o passar do tempo começaram a se limitar a questões filosóficas e supostas evoluções espirituais fraudulentas.
A Umbanda se fundamenta nas bases das macumbas, sejam as cariocas, as paulistas, as mineiras ou as capixabas, quiçá as baianas. A Umbanda tem um corpo doutrinário próprio e descentralizado, ou seja, existem práticas comuns aos terreiros de Umbanda: Incorporação, Atendimento com Guias, Congás com Santos/Orixás, Sincretismo, Uso litúrgico de roupas brancas, Oferendas etc.; porém a forma como essas coisas ocorrem podem variar de lugar para lugar, sendo assim descentralizado. Há quem diga que não existe Orixá na Umbanda e há quem diga o oposto, quem está certo? Todos e Ninguém, afinal, não temos um órgão centralizador e regulamentador (apesar de algumas federações dizerem isso, saibam, elas mentem!).
Desta forma, cada terreiro é um Universo, com práticas próprias, mas sempre pautado nos ensinamentos dos espíritos guias, que tem profunda sabedoria e enxergam mais adiante do que conseguimos enxergar com nossos olhos. Só isso, já deveria coibir a doideira, mas não, usam disso para justificar as loucuras que vemos acontecer dia após dia nos terreiros.
AH! MAS DOIDEIRA SEMPRE ACONTECEU! ISSO NÃO MATA A UMBANDA!
Mata sim, hoje em dia mata, afinal a doideira dá vazão a visibilidade e com as pessoas com as mentes tão entorpecidas como hoje elas têm, não conseguem definir o que é de fato a Umbanda ou uma “mescla de doidera, regada a ayahuasca e santa maria”. Com as redes sociais ganhando o espaço que antes eram dos livros, das revistas e dos próprios terreiros, vemos abrir espaços para aberrações de sacertubes, que só tem uma vida mediúnica e sacerdotal derivada do que ele fala nas redes, afinal, os filhos das casas que “não tem fundamento” procuram figuras ilustres, que lhes são entregues pelos algoritmos das redes sociais, como grandes salvadores da sabedoria umbandista.
O que as pessoas não entendem é que o algoritmo indica o que é mais visto, não o que tem melhor qualidade, logo um programa sem conteúdo aprofundado, que fica só na superficialidade e que muitas vezes diz a você o que você quer ouvir, com certeza terá mais espectadores, criando assim uma campanha propagandista que emburrece quem assiste. Começam a achar que os terreiros são o que eles veem na internet e aí a coisa desanda geral. Mesmo quando vão lá para contrapor e argumentar que eles estão falando besteira, isso engaja cada vez mais o algoritmo a distribuir aquele conteúdo, afinal se muitos estão comentando, deve ser bom né? Errado! O Algoritmo só vê movimento, números e não vê qualidade ou profundidade. O Algoritmo é burro! Assim como a audiência se torna. Escravos, autômatos, que acreditam estar fazendo macumba em terreiros virtuais, com giras online, com sacerdotes intocáveis e cheios de presunções.
Acredita que uma iniciada chegou até mim e se chocou porque eu falava e ensina a ela Quimbanda (e Umbanda)? Pois é, pois dentro do Universo que ela tinha acesso o Pai de Santo era uma divindade que não podia ser perturbada, mesmo ele tendo milhares de seguidores e até plaquinha no YouTube. Alguns podem dizer que isso é despeito por não ter esses números, mas gente, isso nunca foi minha meta, eu já estou satisfeito com o tanto de gente que me assiste e que procura o que faço, e garanto que não dou conta de tudo… Mas tento atender da melhor forma possível. Aqui estamos falando de Fundamento, pois se fossem pessoas fundamentadas de fato, não teríamos um monte de gente fazendo besteira usando esses conhecimentos passados pelos sacertubes. Além daqueles que se utilizam de vestes sociais e discursos ideológicos para defenderem posições que estão dentro da religião, mas não são a religião, que mais segmentam do que agregam, que mais oprimem do que resgatam. Mas, discursos inflamados de ódio sempre vão ser populares, pois as pessoas são muito machucadas pela vida.
Desta forma, a Umbanda se torna um caldeirão de gente desinformada, ignorante e pior, altamente bélica quando vai argumentar. SE você expõe pensamento diferente, você é taxado imediatamente de ignorante, de burro, pedem para calar a boca, dizem que você nada sabe, entre outros, mas não vão em busca da sua experiência, dos anos de terreiro, da liderança conquistada dentro do terreiro e não por formações supletivas de sacerdotes etc. Desta forma eu afirmo novamente:
A UMBANDA MORREU!
Veja o caso do assentamento de Preto-Velho, que foi extremamente veiculado com teor pejorativo, onde vários comentários (inclusive de candomblecistas) achavam aquilo um “horror” porque tinha sangue. Veja a ausência dos oráculos, o sumiço das imolações, a pasteurização das entidades, a necessidade de se tornar tudo algo muito igual e industrializado. Esqueceram dos ritos de cachoeira, de mata, de praia e de cemitério. A faca hoje só serve para cortar pão. Oferendas, só se forem ecologicamente corretas e veganas. Os Exus são lordes que não falam nada de errado e magos supremos da corte Astral, prontos para evoluir para pretos-velhos ou espíritos superiores. Poxa gente, tanta bobagem e falta de coerência que sepultaram o que conhecíamos como Umbanda. Sem falar no embate defensores de sincretismo e detratores de sincretismo que mais parece um Corinthians vs. Palmeiras com apelo marcial. Nem sequer sabem o que é sincretismo e repetem igual papagaio de pirata as bobagens que suas lideranças falam por aí.
Mas tudo isso já falei em outros artigos, podcasts ou vídeos! O que quero ressaltar é que a cada dia mais eu estou me afastando do rótulo de Umbanda, por definição da própria regência da minha casa. A cada dia mais vejo dentro das minhas práticas um resgate a Macumba, mas não a Macumba de outrora, pois é impossível, mas a Macumba em essência, onde cada Canzuá é um lugar de trabalho, com as regras da sua chefia espiritual. Na minha prática eu bebo muito da minha fonte formadora, mas também das instruções de meus guias-espirituais, afinal eles são os donos da casa e os detentores da sabedoria da macumba. Não faço um Copia e Cola de uma casa anterior, não existe forma modeladora para terreiros e formação mediúnica.
Dentro das minhas práticas resgatamos os Oráculos, os Cargos Especializados, A Macumba misturada com santos, orixás, jinkisi e guias, resgatamos o corte, a imolação, os assentamentos. Tentamos dar um atendimento organizado, moderno, mas com cheiro e gosto de antigamente, sempre pautados no que o Caboclo Rompe-Mato dita, afinal dizia que a Umbanda era casa de Caboclo e Preto-Velho, mas ultimamente só vejo um Movimento dos Sem Designação usurpando essas casas.
Assim como disse no texto de 2015, eu repito: “Podemos marcar o sepultamento da Umbanda brasileira?”.