Se a mediunidade é uma faculdade que faz parte do ser humano, poderia ele perder esse tipo de capacidade? Essa é uma pergunta que muitas pessoas me fazem, claro que pelos motivos errados (vaidade, medo de estar errando com a mediunidade etc.).

Claramente, aqui devemos entender que tipo de mediunidade estamos falando, neste caso estamos falando da mediunidade ostensiva de incorporação (e suas subdivisões) que um médium dentro de um terreiro de Umbanda desenvolve.

Geralmente, um médium, mesmo portador de uma mediunidade “pronta” não vai direto para dar consulta, isso é raro e muito difícil de ocorrer. Só ocorre quando há a necessidade de o médium compor a corrente ou se a espiritualidade que guia a casa julga que o médium está preparado.

Quando o médium vai do começo, mesmo já tendo manifestações mediúnicas, dentro da minha tradição ele passa por um período como cambone, posteriormente incorpora para manter a sustentação da entidade, se torna um médium passista e por fim um médium de toco ou de consulta.

O médium quando está fazendo a sustentação está treinando junto a entidade a manifestação mediúnica. Uma das tarefas mais árduas no processo de incorporação é justamente manter a energia de uma entidade sem que você dê trabalhos para que ela (e a cabeça do médium) se ocupem. Então o foco é total na incorporação, que muitas vezes fica num efeito “vai-e-volta”, com o médium perdendo o controle e entrando em transe e por vezes simplesmente sendo “abandonado” pela entidade.

Quando ele está bem estabelecido, começa a dar passes, que são benzimentos feitos com a energia mista entre a entidade e o médium para promover o bem-estar espiritual e o equilíbrio de forças. Todas as entidades fazem isso ao atender uma pessoa, mas nesse momento, o médium de passe fará exclusivamente isto, sem dar consultas (ou orientações e magias). Aqui o médium tem que trabalhar com sua vaidade e ego, mantendo-se calado e lutando para não passar a frente da entidade naquela vontade louca de “mandar um recado”.

A próxima etapa é se tornar um médium de toco ou de consulta, nesse momento a entidade tem a liberdade de fazer o atendimento completo. Porém, algumas pessoas quando chegam aqui se sentem seguras demais e começam a voltar certas etapas já superadas neste desenvolvimento, deixando a vaidade, o orgulho, a cupidez e outras paixões inferiores, tomarem conta.

Então, a direção espiritual da casa dá alguns alertas, corrige, manda recados, conversa com o médium, começa a recomendar tratamentos espirituais e outras ferramentas a disposição do espírito-chefe e do chefe de terreiro.

Se um guia-chefe te chamou e pediu para você fazer determinados banhos e certas firmezas, pode ter certeza de que é o momento de você reavaliar o que está fazendo nos atendimentos. Pode ser que deva corrigir algum desvio ou se aprofundar melhor nos cuidados energéticos pessoais.

Quando é para se aprofundar nos cuidados energéticos pessoais, isso se dá porque o médium acha que a incorporação e estar assistido por espíritos vai lhe garantir segurança e pureza espiritual. Sabemos que isso é um engano, até mesmo pode impedir que o trabalho ocorra de uma maneira mais sutil e fluída. Algumas pessoas param de tomar seus banhos de ervas, de fazer os preceitos, de firmar suas entidades e as demais obrigações, achando que está com a incorporação perfeita e nada deve temer. Isso se chama PREGUIÇA!

Mas e se o caso é porque há realmente um problema com a incorporação, quando o guia está sendo deixado de lado e o médium passa a frente do guia? Passar a frente do guia é manifestar mais do médium do que do guia. Nesses casos podemos ter manifestações inofensivas, só com incongruências sendo ditas pelo médium, mas que não vão afetar em nada o médium, como um bom banho de flores de plástico em noite de lua cheia.

Contudo, existem casos em que a coisa fica séria e o “espírito” (entre aspas porque sabemos que não é o guia) começa a criar situações constrangedoras, embaraçosas e perigosas. Se na casa existem regras e de repente o “alecrim dourado de Aruanda” decide fazer contrário as regras e sem perguntar a direção-espiritual/guia-chefe se pode fazer algo “fora dos padrões”, tem boi na linha!

Nesses casos, novamente se orienta, se instrui, chama a atenção, tenta de todas as formas trazer a razão para esse médium, mas quando nada disso funciona, se afasta o médium da corrente mediúnica da casa. Ele pode tanto ter sua função alterada temporariamente, enquanto em tratamento, como se tornar cambone, retornar a dar passes ou sustentar só a incorporação, como ele pode ser SUSPENSO das atividades por um período, ficando na assistência ou, na pior das hipóteses, ser proibido de frequentar a casa.

Pode parecer chocante não querer que um médium em necessidade venha a participar das giras, mas isso se dá por um bom motivo. Mesmo o médium sendo proibido de manifestar-se mediunicamente estando como cambone ou até mesmo na assistência, ele vai dar um “jeito” de dizer que pegou encosto, que a entidade tomou ele e outras coisas desse tipo, para dar seu showzinho particular. Por isso ele deve ficar o mais longe possível da gira, enquanto são feitos trabalho espirituais a distância (como tratamentos espirituais dirigidos para o médium) para que ele volte a se reequilibrar.

Todavia, existem casos que parecem irreversíveis, então dentro das regras de toda casa espiritual existe a premissa da expulsão da corrente. Raras vezes o expulso continua a frequentar a casa na assistência, apesar de algumas vezes isso ser permitido, mas eles, por vergonha ou orgulho, acabam se afastando completamente.

Mas, ainda não respondemos a pergunta que dá nome a esse artigo: “É possível o médium perder sua mediunidade?”. Sim, é possível…

Em casos muito extremos, quando o médium passa por fascinações e subjugações, ou quando está extremamente desequilibrando pondo em risco a sua vida e a vida de outras pessoas, a espiritualidade lhe tira a mediunidade. Aquele vazio, fica incomodando a pessoa, que algumas vezes muda de vida espiritual, procurando outras religiões que não manifestem a mediunidade e lá maldizendo a religião anterior.

Nesses casos, se age com muito cuidado, para que essa “perda” seja usada como um recurso para a melhoria da pessoa e do contato mediúnico e não só mais uma punição vazia.


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