Você sabe o que acontece quando não há arrecadação em um terreiro?

Eles fecham!

Eu sei que você talvez não queira ler isso, mas é DETERMINANTE que você leia, se você gostar de Macumba!

Nós ouvimos a todo momento pessoas dizendo que espaços religiosos tem muitas regalias e isenções. Olha eu não sei dos demais templos, mas pela minha experiência isso aí só funciona com igrejas católicas e evangélicas.

A dificuldade dos terreiros de Umbanda é algo inacreditável!

Primeiramente para conseguir um imóvel, pois temos que driblar vários obstáculos, tais como:

  • Encontrar um lugar adequado em tamanho.
  • Encontrar um lugar que tenha acessibilidade.
  • Encontrar um lugar que tenha um custo adequado.
  • Encontrar um lugar que tenha segurança.

Mas mesmo quando você encontra tudo! Ainda tem a questão de SER ACEITO NO LUGAR, pois você pratica Umbanda.

Quando procurava um lugar para o Chão de Jorge, tive várias decepções. Tinha um imóvel que cabia perfeitamente para mim, contrato para assinar e quando a pessoa descobriu a atividade, simplesmente cancelou tudo, afinal ela era cristã e não podia compactuar com isso pois o pastor poderia puni-la.

Vocês entendem como isso é frustrante?

Em outro local diziam não aceitar a Umbanda pois fazíamos muito barulho, porém no local tinha uma igreja evangélica anteriormente e na visita eu vi os locais onde as caixas de som ficavam, para divulgar a mensagem do pastor. (Sejamos claros, os evangélicos fazem até mais barulho que nós umbandistas).

Mas, a gente não desiste nunca! E encontramos um lugar, um pouco apertado, acima do que poderíamos pagar, mas que serviria. Ficamos e estamos lá até a data da escrita deste artigo, contudo no último dia 14 de Agosto, tive uma surpresa preocupante. Em nossa gira, que estava sendo controlado o acesso devido a não capacidade para todos dentro do espaço, que deveria ter no máximo 10 pessoas, estava com muito mais pessoas.

Sim, as pessoas na assistência, algumas que precisavam, outras que queriam conhecer, outras que passam perto e ouviram o som dos atabaques e entraram.

Acabou-se todas as cadeiras do local, a água do bebedouro escoou rapidamente e percebemos que isso só tende a crescer, porém sem recursos entrando.

Todos já ouviram a máxima: “Daí de graça o que de graça recebeste” e eu concordo em partes com isto, pois o que damos de graça é o acolhimento e o atendimento com os guias em dia de gira por meio da mediunidade. Entretanto, a água foi paga, a conta de luz é paga, papel higiênico, sabonete, álcool gel, velas, cadeiras de plástico, aluguel do espaço, seguro de incêndio, extintores, flores, ervas e o TEMPO não é gratuito! Aliás, é bem custoso tudo isso.

Em nossa casa cobramos um valor de R$ 62,00 de mensalidade por pessoa, temos quinze membros, então a arrecadação mensal é de: R$ 930,00. Porém, esse valor não cobre nem o aluguel. Abaixo exibo parte das nossas custas mensais, com valores expressos em reais:

 

  • Aluguel + IPTU: 1.504,00
  • Água e Esgoto: 122,66
  • Galão de Água: 40,00
  • Luz: 30,05
  • Seguro: 293,90
  • Contador: 100,00
  • Taxa de Fiscalização do Estabelecimento: 14,34
  • Pacote Bancário: 60,00
  • Velas: 50,00
  • Ervas: 40,00
  • Flores: 144,00
  • Faxina e Produtos de Limpeza: 230,00

Total: R$ 2.628,95!

Isso mesmo que você leu, o terreiro custa dois mil, seiscentos e vinte oito reais e noventa e cinco centavos por mês, no mínimo!

Porém só arrecadamos R$ 930,00! Então, de onde vêm o restante? Parte dos cursos que damos no PerdidoEAD (www.perdidoead.com), parte dos livros que se compram na Amazon, por meio dos nossos links, parte das doações de quem lá vai. Mesmo assim, não fecha a conta.

Mas como as igrejas conseguem isso? Além das isenções de taxas e impostos nas suas atividades eles tem a ajuda de todos que lá frequentam. O famoso dízimo, conhece?

Mas a gente jamais cobraria isso, porque acaba sendo infame pelos excessos cometidos por várias denominações.

Dízimo remete do latim decimus que significa a décima parte de algo. Desta forma, as igrejas cobram 10% dos rendimentos de seus fiéis. Contudo, sabemos que muitos cobram muito mais.

Na Umbanda não fazemos isso! Nós deixamos livre as doações e elas são importantíssimas. Muitas pessoas não querem contribuir por acharem que tudo deve ser de graça (vimos que não há nada gratuito) e outros não contribuem porque acreditam que a sua quantia será pouca ou realmente não pode contribuir (todos entendem).

Mas infelizmente nós precisamos das doações, senão a Umbanda como vocês conhecem irá morrer.

Ficamos quase dois anos em meio a essa pandemia e não havia como fazer qualquer tipo de atividade arrecadatória como as festas, a venda de quitutes e as palestras presenciais. Algumas pessoas sugerem até mesmo rifas e afins. Porém, eu acho isso muito contraditório.

A pergunta que faço é: “Por que você deve ganhar algo em troca em ajudar um lugar que já te ajuda?”.

Então você tem que ganhar um prêmio para poder doar uma quantia? Você tem que comprar algo para ser válido? Você tem que receber algo em troca? Isso não é doação, é venda. Justamente por ter que se preocupar com isso, o foco que é o religioso se perde e os terreiros se perdem junto.

Tudo que estou falando aqui vai bater no seu estômago e você irá ficar bravo ou terá no mínimo bom senso para refletir.

Ninguém foi pedir seu dinheiro quando você estava passando por apertos, simplesmente o terreiro se abriu e você encontrou seu caminho. Mas agora que ele precisa de você, você tem que ganhar algo em troca? Curioso…

Devemos traduzir essas situações, pois muitas pessoas acham que brota recursos do meio do cachimbo do preto-velho.

Hoje para atender com qualidade as pessoas que QUEREM visitar o terreiro, deveríamos estar num espaço, ao menos, três vezes maior, com aluguéis que batem em torno de quatro a cinco mil reais. Neste espaço também a conta de luz será mais cara, a conta de água e esgoto e a conta do seguro e afins.

Já pensou?

Aí tem aquela máxima, vou doar hoje. Amanhã outra pessoa doa.

Aí o terreiro fecha, pois as contas se acumulam, são constantes.

Eu só queria trazer essa reflexão, baseado em nossa dificuldade! A mesma dificuldade sentida por muito terreiros por aí! Terreiros que te ajudaram em algum momento na sua vida, mas que foram desassistidos por vocês quando precisavam.

Fica a reflexão!


 

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