Oxumaré é um dos orixás mais controversos e mal-interpretados da cultura umbandista1. Irei me ater aos aspectos de Umbanda, pois é o que pratico, logo não poderia ser preciso se fosse enveredar pelo caminho do Candomblé ou de seu culto original nos Cultos de Nação.

A maior polêmica é a respeito do gênero que este orixá possui: Masculino ou Feminino? Alguns saúdam Oxumaré até como uma manifestação de Oxum, pela similaridade dos nomes. Dentre seus domínios estão os movimentos, os ciclos e a renovação. É dito que Oxumaré vive em constante movimento, envolvendo a terra e dando a ela seu giro característico. Quando esse orixá quer visitar o Ayê (terra) ele desce do Orum (céu) através do Arco-Íris, um de seus simbolismos ao lado da serpente.

As mudanças de estação estão sobre a regência desse Orixá, assim como os ciclos da Lua e todos os demais ciclos da natureza. Representa a renovação, sendo que é regente das chuvas brandas. A água evapora e novamente desce a terra em forma de chuva ou garoa, sob a regência de Oxumaré.

A origem desse Orixá é no antigo Daomé, atual república do Benin. Logo, sua origem na verdade é como um Vodun, as deidades do povo daomeano, conhecido como Dan.

A confusão a respeito do seu gênero se dá pelo seu aspecto dual perante os ciclos. É o ciclo vital, a vida é gerada através da união do princípio masculino e feminino. Assim, esse Orixá tendo a representação da renovação, trás os auspícios da nova vida e da continuidade. Uma nova vida trazendo renovação para toda a humanidade e a certeza de continuidade da espécie, da tribo e da família. Porém, podemos definir que Oxumaré é um orixá do princípio masculino.

Outro mito que envolve Oxumaré é que os filhos que possuem este Orixá na coroa seriam ou teriam tendência a se tornarem homossexuais. Isso é uma das mais escabrosas falácias promulgadas para desvirtuar o entendimento do princípio da dualidade.

Dentro de seus domínios já citados ainda podemos acrescentar a riqueza e a fortuna. Pode ser representado pelo “Oroboros”, a serpente que morde a própria calda, simbolismo da continuidade, do todo e do infinito. É simbolizado por São Bartolomeu e celebrado na data de 24 de agosto. Apesar das cores clássicas serem o Amarelo e Verde ou em alguns casos o Azul-Claro, por também ser simbolizado pelo arco-íris, podemos usar velas e fitas de todas as cores para esse Orixá. Aliás, é muito comum quando se faz uma firmeza ou uma oferenda para Oxumaré, iluminar com muitas velas de diversas cores.

Seu axé (mojo) é encontrado na batata-doce e na banana-da-terra frita, inclusive uma de suas oferendas é uma espécie de cobra feita com batata-doce amassada. Para algumas vertentes é Oxumaré que rege a linha dos Erês, porém na Umbanda Tradicional isso não se mantêm. Sua saudação é Arroboboi Oxumaré!

De qualquer forma, não tenho contato com casas umbandistas que cultuam Oxumaré de forma direta. Na casa em que trabalho, se saúda esse Orixá, mas raramente o invoca ou celebra seu dia. Mas sabemos que como uma estrutura básica dos cultos, tem toda uma gama de servidores espirituais agindo nas forças desse Orixá, sem que se manifeste de forma direta ou através da incorporação.

Por fim, em questão de curiosidade, Oxumaré possuí uma irmã gêmea que se chama Ewá, que possui domínios parecidos com os seus e que pode ser a raiz para a confusão de gênero do Orixá.

Conta-se que Oxumarê não tinha simpatia pela Chuva.
Toda vez que ela reunia suas nuvens
e molhava a terra por muito tempo,
Oxumarê apontava para o céu ameaçadoramente
com sua faca de bronze
e fazia com que a Chuva desaparecesse, dando lugar ao arco-iris.
Um dia Olodumare contraiu uma moléstia que o cegou.
Chamou Oxumarê, que da cegueira o curou.
Olodumare temia, entretanto, perder de novo a visão
e não permitiu que Oxumarê voltasse à Terra para morar.
Para ter Oxumarê por perto, determinou que morasse com ele,
e que só de vez em quando viesse à Terra em visita, mas só em visita.
Enquanto Oxumarê não vem a Terra,
todos podem vê-lo no céu com sua faca de bronze,
sempre se fazendo no arco-iris para estancar a Chuva.


1 Algumas culturas umbandistas fazem “culto” aos Orixás. Não é a visão que eu possuo.

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