Quem procura sempre acha, mas nem sempre o que se acha é o que realmente se deve achar.
“Arriou na linha de Congo.
É de Congo, é de Congo, aruê.
Arriou na Linha de Congo,
Agora que eu quero ver.
Viva Congo, viva Rei Congo,
Viva o povo de Iansã,
Viva São Jorge Guerreiro e
Viva São Sebastião.”
O preto-velho baforando seu cachimbo com o rosário na Mão recebe a consulente a sua frente. A mesma pede a benção do pai-velho e com os olhos cheios de lágrimas diz para o ancião ajudá-la a acabar com o sofrimento que ela está sentindo.
O Negô diz que quem procura acha! E a moça não entende, então ele puxa o cachimbo até a boca, bafora com vigor em direção a consulente e diz:
– Zinfía, pode dizer o que suncê tá sentindo.
– Ah meu pai, estou sofrendo. Meu marido é o problema, você pode me ajudar? Ele está conversando com a ex-mulher dele. Inclusive ela mandou foto para ele da barriga, pois ela tá grávida.
O negô velho, com a cara carrancuda, o que não é costumeiro, olha expressivamente e diz a ela:
– Zinfía, não posso te ajudar. Suncê procurou e suncê achou. É assim que as coisas são. O Mestre não dizia para suncê pedir para Deus, que assim Deus te dava? Então ele deu zinfía. Deu procê o que suncê pediu.
– Mas meu pai, como posso ter pedido isso? Que mulher quer ser traída?
– Quem foi que disse que teve traição zinfía? Suncê pediu para achar isso, pediu para saber se ele tava falando com a outra muié e ocê viu! Não foi o que suncê pediu?
A moça olha estupefata e um tanto envergonhada, agora que percebeu que fora exatamente assim que ela havia pedido.
– E inda tem mais zinfía, o cumpanhêro não se bandeou pro lado da ota, zinfía. Suncê que viu demais, a outra tá até emprenhada, o que ia querê com o cumpanheiro de suncê a não ser fazê inveja?
A moça acenou com a cabeça como se houvesse compreendido, mas pediu ainda assim uma ajuda.
– A única forma que posso te ajudar é te dizer que suncê errou. Não há sentido em tá juntado em casório se suncê não confia naquele que tá do lado do cê. Tem que aprender a confiar mais e parar de pensar bobagem e também é preciso cuidar da saúde zinfía, pois cê tá tão preocupada com outras pessoas que de suncê mesmo não cuida.
A moça de qualquer forma agradeceu e fez uma prece acompanhada do preto-velho, que se despediu dela e chamou a cambone:
– E suncê também tá achando estranho eu dizer não, zinfía? – perguntou o pai-velho a cambone.
– Sim meu pai, pois eu achava que vocês tinham por obrigação ajudar e que os pais-velhos eram carinhosos.
– Mas eu fui zinfía, mas não sou bobo. Não trago na minha trouxa nenhum carrego que não é meu. O erro é dela, ela vai ter que enfrentar a colheita da semeadura errada. A vida é assim, pois muitas vezes a melhor forma de ajudar alguém zinfía é dizendo Não!
Aquele era apenas o primeiro atendimento, outras muitas histórias se desenrolariam no decorrer da gira.
Saravá aos pretos-velhos! Iaô Vovôs!