Mediunidade é algo sério e deve ser encarada como tal. Principalmente quando estamos em uma posição de liderança de uma comunidade, como uma igreja, centro espírita, um barracão de Candomblé e um terreiro de Umbanda. O grande problema que já tratei em artigos como Sacerdócio é um chamado, não é Festa e no Eu, Dirigente Espiritual é o despreparo completo das lideranças dos terreiros, dentro do que posso analisar que é a Umbanda.

Com a proliferação de cursos de sacerdócio mal feitos e mal planejados, muitos saem dessas “aulas” achando que estão aptos a montar suas próprias casas, sem nem ao menos terem sido CHAMADOS pela espiritualidade para tal. Colocam isso como uma questão de vaidade e de ego, onde acreditam que o título de Pai/Mãe ou Sacerdote, irá lhes trazer alguma validação e credibilidade. Na verdade é o contrário! O que dá credibilidade é a experiência, não o título. Para um Doutor não é apenas a defesa que lhe trouxe o título que conta, mas sim o tempo em que se desenvolveu a pesquisa, os anos de estudo e a dedicação. Em outras palavras, não foram apenas aquelas horas defendendo a tese que lhe fez diferença, mas sim os anos de aprofundamento em campos de pesquisa e muito suor. O mesmo se dá para “sacerdotes” e “pais/mães de santo”.

Os cursos administrados por aí seguem uma carga horária de aproximadamente 144 horas/aula, alguns pedem ainda um curso de Teologia/Doutrina de Umbanda, que irá adicionar 48 horas/aulas nesse currículo, no total: 192 horas/aula. Agora vamos nos aprofundar na questão do sacerdócio católico, por exemplo. Para se tornar padre pode-se optar por dois caminhos:

– Fazer seminário por oito anos;

– Ser bacharel em Teologia, Filosofia ou História e fazer seminário por mais quatro anos.

De qualquer forma, vejamos que só o curso de teologia tem por volta de 1.600 horas/aula, fora o que você irá adquirir dentro do seminário. Compreendem a diferença gritante?

Muitos podem dizer que não devemos comparar as duas religiões e nisso eu concordo, pois a religião Católica não trabalha com mediunidade, que é o que eu coloquei no começo desse texto como algo que deve ser levado a sério. Logo, o preparo sacerdotal ou de dirigente para quem é de Umbanda, deve ser MUITO MAIS AMPLO. Não se deve vender um título por assim dizer, mas deve-se preparar o futuro dirigente para as dificuldades que ele encontrará. O dirigente é o responsável não só pela casa, mas pelo corpo mediúnico e também por todos os assistidos nas giras de atendimento. Não há espaço para insegurança e incertezas!

Por isso mesmo, os anos a fio de experiência dentro da prática de atendimento e posteriormente como pai ou mãe pequeno, irá preparar o postulante a dirigente a resolver situações de formas rápidas, identificar o campo mental em vigor durante as giras e prevenir deslizes do seu corpo mediúnico. Claro que erros podem ocorrer e nem sempre teremos respostas para tudo, mas pelo menos estaremos fortalecidos para buscar de forma coerente sem criar os famosos FANTASMAS!

Isso mesmo, apesar de lidarmos com entidades espirituais – ou em outras palavras “pessoas mortas”- muitos dirigentes acabam enxergando fantasmas por todos os lados. É um misto de insegurança pessoal com fanatismo e ilusão que acaba corrompendo as estruturas psíquicas de uma casa, e até mesmo infectando os demais médiuns. Se há uma goteira na casa, por exemplo, logo esses dirigentes mal preparados irão acreditar que é uma demanda enviada contra eles e com certeza começarão as contra-medidas. Iniciarão a guerra astral contra fantasmas invisíveis, porém eles colocarão sempre a culpa em algo ou alguém. Acabarão cismando com pessoas, que não necessariamente desejam ou fizeram algo contra eles, mas começarão a demandar tal pessoa. Imagem agora o Karma que isso gera? Magiar alguém por nada, praticar magia negra?! Se a pessoa (dirigente) se focar mais na sua comunidade (terreiro) e esquecer os demais, ela manterá o padrão vibratório elevado e consequentemente estará protegida de influências negativas.

O preparo “sacerdotal”* se  inicia desde o primeiro dia de Gira, onde a espiritualidade superior e o regente da Casa, conjuntamente com seus guias-espirituais, estarão observando o desenvolvimento mediúnico e se há a necessidade (missão) de se eleger um novo líder de terreiro. Após alguns anos de experiência como médium e trabalhador (e isso inclui lavar o chão do terreiro) o médium em desenvolvimento poderá ser convidado pelos guias-chefes da casa espiritual a se preparar como Pai/Mãe Pequeno. Então se inicia o treinamento para lidar com as questões de liderança, ego, vaidades e inveja contra seus próprios demônios interiores e afins. Então, um dia poderá ser chamado a tocar a Casa em que está ou abrir seu próprio terreiro, expandindo a filosofia da Casa em que houve a formação. Isso não ocorre do dia para noite e também não ocorre em dois anos.

Quando bem preparado e instruído, o dirigente perceberá que deve se atualizar sempre. A atualização não é de forma externa e nem só de livros e mais livros, mas sim de raciocínio e crítica sobre o que se lê, baseando-se no que se vive. Garanto que a essa trajetória será segura, sólida e mais feliz. Como disse, mediunidade é algo sério e devemos ter muito cuidado para não cairmos nas guarras das paixões inferiores e nos braços de entidades egóicas!


* Na verdade não existem sacerdotes na Umbanda, mas sim líderes, dirigentes, padrinhos, madrinhas, pais e mães de terreiro.

 

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