Um dos aspectos mais positivos do amadurecimento da prática mediúnica é o entendimento de coisas corriqueiras em seu dia-a-dia, mas que, em tempos anteriores, simplesmente não eram compreendidas e, por isso mesmo, facilmente confundidas com “sonhos”, “alucinações”, “devaneios” ou “simples imaginação”. Por que sonhos recorrentes que se estendem por anos e anos? Por que aquela sensação constante de deja-vú? Por que aquela intuição – sutil, mas certeira – insiste em se manifestar mesmo em relação aos fatos que você, por comodismo ou teimosia, às vezes tenta ignorar?

Uma das visões mais recorrentes, que me acompanham desde a infância, é a de um mundo desolado, semelhante ao nosso, mas sombrio, sinistro, fétido e amedrontador. Nesta realidade, os prédios estão sempre em ruinas, o lixo se espalha pelas ruas, o céu é escuro, como se anunciando uma tempestade iminente que nunca chega. A maioria das pessoas que por ali transitam vestem roupas antigas e surradas, ou se constituem em verdadeiros maltrapilhos. Andam a esmo, de um lado para o outro, sem saber ao certo o que fazer. As imagens lembram muito um filme de zumbis, ou de alguma série do tipo Walking Dead, com o diferencial de que já são familiares a mim há umas três décadas.

Nesta dimensão, nem todos andam absorvidos como sonâmbulos. Alguns são bem ativos e suas atividades são, no mínimo, questionáveis ao bom-senso e à razão. É como uma louca emanação de hedonismo e violência. Todo o tipo de orgia, desde as mais sorrateiras, realizadas no interior de algum prédio decadente, até festivais pervertidos e sadomasoquistas podem ser facilmente avistados, o tempo inteiro. Há uma constante correria, gente perseguindo e sendo perseguida por entre becos escuros e estradas abandonadas. Atos de violência, com espancamentos, torturas e mutilações são corriqueiros. Esse tipo de visão, que certamente já inspirou filmes, jogos, livros e músicas de teor dito pós-apocalíptico seria um vislumbre de um futuro fim do mundo? No passado, cheguei a temer que sim, mas hoje entendo que não se trata do futuro, mas sim do presente. Trata-se de uma dimensão paralela à nossa, onde tudo isso está acontecendo neste exato momento. É o umbral.

Não sei por quanto tempo andei por esta região astralina antes reencarnar, mas deve ter sido bastante, pois ainda atualmente, me sinto transportado para esta dimensão quase todas as noites. Até algum tempo atrás, era comum eu rapidamente tomar parte no caos. Me via perseguindo alguém, ou fugindo de alguém, na maioria das vezes. Quando estourava uma briga, batia junto, apanhava junto, sem saber ao certo o porquê. Virava alvo fácil de súcubus e, quem sabe, muitas vezes agia como um verdadeiro íncubus em relação a outros.

Porém, atualmente, meu contato com este plano tem um teor menos dramático. Principalmente quando estou lúcido, em desdobramento astral, consigo ajudar no resgate de alguns espíritos que já cumpriram seu período na dimensão e estão prontos para ascender a outros níveis. Os Guias já me explicaram que, mesmo quando a lucidez não é total, e me vejo, como em um sonho, correndo de uma multidão enfurecida, muitas vezes estou contribuindo para uma operação de salvamento, literalmente servindo de isca para a atenção de espíritos desequilibrados e permitindo assim que outras entidades, certamente bem mais evoluídas do que eu, retiram dali alguns que já estão aptos a serem resgatados.

Igualmente perturbadora é experiência de vislumbrar através da clarividência – que, no meu caso, se manifesta em desdobramento – a contraparte astral de nosso próprio plano e constatar que ao nosso redor, nas ruas por onde passamos diariamente, nos prédios em construção que avistamos de nossas janelas, nas praças e parques que frequentamos, a situação é, em muitos casos, bastante semelhante. Para quem nunca teve essa experiência, um faço um paralelo com a deprimente imagem de uma destas crackolândias – comuns em grandes metrópoles, e que, infelizmente, já começam a se fazer notar também cidades de médio porte – pois é algo bem parecido. Multidões de mendigos, meninos-de-rua, prostitutas e marginais em geral que desencarnaram nessas condições e se mantiveram energeticamente vinculados e estes locais, ou outros que não necessariamente viveram neste meio quando encarnados, mas que são atraídos para estes bolsões astrais por afinidade de vibração.

Diante destas imagens, o sentimento que hoje prevalece em meu interior é o de pena. Ver tantos irmãos perdidos, desorientados e envoltos em sofrimento não é algo fácil. Mas, o que se pode fazer? Orações, com certeza são sempre bem-vindas. Porém, há algo simples que me foi indicado no passado e que, com o tempo se revelou verdadeiramente eficiente. Quem domina a técnica de desdobramento astral, quem pratica meditação, ou mesmo qualquer pessoa no momento antes de dormir – desde que munido de um sentimento sincero e bem intencionado – pode orar a Deus e se colocar à disposição dos Guias de Luz para auxiliar no resgate ou amparo de espíritos sofredores. Se o pedido for verdadeiro, certamente você será requisitado para dar sua contribuição e, mesmo que inicialmente não guarde lembranças disso, eu posso assegurar que, com paciência e dedicação, ao longo do tempo você terá consciência da nobre ajuda que está prestando. Eis uma bela forma de caridade e, como diz aquele conhecido adágio “fora da caridade não há salvação”.

 

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