Um dia no terreiro, um médium atendia uma jovem que trazia consigo vários ramalhetes de rosas de diversas cores, muitas velas e uma pequena pira de latão. A mesma senta à frente do médium e lhe entrega os materiais. A entidade-médium pede para o cambone desenhar no chão uma grande estrela de seis pontas, um círculo ao meio e um hexagrama fechando as pontas da estrela. Toda a figura foi preenchida com as pétalas das rosas que a consulente havia trazido. Brancas no círculo, vermelhas na estrela e amarelas para completar os espaços do hexagrama. Foram colocadas velas em cada ponta da estrela, acesas. A pira ficou ao pé do médium-entidade, que colocou um pouco de álcool e ateou fogo. A consulente foi levada para o centro da estrela e lá ficou sentada em um banco. Enquanto a entidade-médium proferia diversas palavras e fazia gestos com as mãos.
Enquanto isso uma senhora, mais humilde, com a aparência desgastada, com uma expressão triste, como se tivera um sorriso invertido no rosto, olhava tudo aquilo e se agarrava a um único botão de rosa branca que carregava junto a si. Seus olhos marejavam, enquanto ela via toda a manipulação do outro guia. A senhora se levanta, cabisbaixa e se põe a sair. Outra entidade, no arquétipo de um baiano, fala mais alto no meio da gira:
– Mas cabrita, por que tu tá indo embora? Ainda nem falei com tu!”.
A senhora se vira e com o indicador em direção ao seu coração diz timidamente: “- Eu?”.
– Tu mesmo! Se achegue cá, que quero lhe dar um abraço! – Responde o baiano, cheio de jeito.
A senhora, começa a entrar e abraça o baiano, cumprimentando ele no estilo dessa linha. O mesmo olha pra ela, e com um sorriso no rosto, diz uma frase que a fez virar o sorriso triste em uma bela gargalhada. A senhora estende a mão com a rosa e diz:
– Eu trouxe essa flor para o senhor, mas vi que em outro ponto havia um monte de flor e fiquei com vergonha por poder comprar apenas esse simples botão. Por isso que estava indo embora.
– Mas que isso mulher, não se faz isso não! Desde quando eu te pedi alguma coisa? Tu veio cá pra pedir ajuda não é mesmo? Eu na condição de guia de Umbanda é que devo te dar alguma coisa e não tu que tem que dar pra mim nada. Oxi! Não ferva a moleira assim não! Se passe pra cá e vamos prosear. – Responde o enérgico baiano.
Então, depois de uma conversa, o baiano abraça a consulente, agora gargalhando e feliz, que sai agradecendo em muito. O baiano olha pra seu cambone e pega a rosa branca e fala:
– Cabra, ponha essa rosa do lado de pai Oxalá. É pra ele esse presente! E tenha uma coisa bem clara no coco! Não é a quantidade de coisa que “ocê” usa que traz firmeza, mas sim a fé com que tu faz! Essa rosa tem muito mais Axé do que aquela montoeira de coisa, que foi feita por fazer, sem propósito e sem motivo! Aprenda “bixinho”!
E o cambone foi colocar a rosa aos pés da imagem de Oxalá, enquanto o baiano contente dançava sua dança e se despedia de todos, com uma sonora gargalhada!
Em um local que há pessoas envolvidas, sempre haverá erros. Somos humanos e somos passíveis de cometer esses tipos de erro. Por isso que a reforma íntima é tão importante. Em um mesmo local onde há um médium em desequilíbrio, há toda uma corrente forte e firmada, com guias-espirituais atentos que não permitirão que um filho, com real NECESSIDADE e MERECIMENTO, não sejam atendidos.