Essa coluna tem a intenção de comentar sobre as questões abordadas no Livro dos Espíritos. Irei dar a minha interpretação, opinião e muitas vezes contestação sobre as questões feitas aos Espíritos por Kardec. Longe de mim ser a Verdade, a proposta é justamente incentivar aos leitores a fazer o mesmo e procurar exercitar o discernimento e raciocínio. Então se a minha opinião lhe parecer ácida demais, coloque a sua opinião nos comentários, assim criamos um grupo de estudos autônomo. Bons estudos a todos.

As perguntas, respostas e comentários de Kardec estão com indentação avançada.

Capítulo I – De Deus – Atributos da Divindade

10. Pode o homem compreender a natureza íntima de Deus?
“Não; falta-lhe para isso o sentido.”
11. Será dado um dia ao homem compreender o mistério da Divindade?

“Quando não mais tiver o espírito obscurecido pela matéria. Quando, pela sua perfeição, se houver aproximado de Deus, ele o verá e compreenderá.”

A inferioridade das faculdades do homem não lhe permite compreender a natureza íntima de Deus. Na infância da Humanidade, o homem o confunde muitas vezes com a criatura, cujas imperfeições lhe atribui; mas, à medida que nele se desenvolve o senso moral, seu pensamento penetra melhor no âmago das coisas; então, faz idéia mais justa da Divindade e, ainda que sempre incompleta, mais conforme à sã razão.

12. Embora não possamos compreender a natureza íntima de Deus, podemos formar idéia de algumas de suas perfeições?

“De algumas, sim. O homem as compreende melhor à proporção que se eleva acima da matéria. Entrevê-as pelo pensamento.”

O ser humano pode até tentar compreender a natureza íntima de Deus, mas para isso lhe falta condições. Nossa mente e intelecto ainda são limitados e não conseguimos conceber, sem abstrações exageradas, o que pode ser a Divindade, quanto mais a sua natureza íntima. É dito que assim que nossa evolução se consolidar, libertando-nos de nossas paixões inferiores e alcançando a classe de espírito perfeito, então poderemos “vê-Lo e compreendê-Lo”. Não é difícil entender isso, veja só: Uma criança não consegue racionalizar sobre aquilo que ainda é incapaz de compreender, sobre questões muito avançadas, filosofias, políticas e afins. O mesmo se dá conosco, que ainda somos crianças, tentando começar a engatinhar. Porém de qualquer forma, a misericórdia Divina se demonstra através de atos e atitudes, presentes na própria Criação, nos permitindo ver a suas atribuições através de comparações ou do que chamamos de  milagres, que nada mais são do que formas de manipular as energias do mundo e que já haviam sido programadas pela Divindade, não fugindo do escopo de suas leis.

13. Quando dizemos que Deus é eterno, infinito, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom, temos idéia completa de seus atributos?

“Do vosso ponto de vista, sim, porque credes abranger tudo. Sabei, porém, que há coisas que estão acima da inteligência do homem mais inteligente, as quais a vossa linguagem, restrita às vossas idéias e sensações, não tem meios de exprimir. A razão, com efeito, vos diz que Deus deve possuir em grau supremo essas perfeições, porquanto, se uma lhe faltasse, ou não fosse infinita, já ele não seria superior a tudo, não seria, por conseguinte, Deus. Para estar acima de todas as coisas, Deus tem que se achar isento de qualquer vicissitude e de qualquer das imperfeições que a imaginação possa conceber.”

Deus é eterno. Se tivesse tido princípio, teria saído do nada, ou, então, também teria sido criado, por um ser anterior. É assim que, de degrau em degrau, remontamos ao infinito e à eternidade. É imutável. Se estivesse sujeito a mudanças, as leis que regem o Universo nenhuma estabilidade teriam. É imaterial. Quer isto dizer que a sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria. De outro modo, ele não seria imutável, porque estaria sujeito às transformações da matéria. É único. Se muitos Deuses houvesse, não haveria unidade de vistas, nem unidade de poder na ordenação do Universo. É onipotente. Ele o é, porque é único. Se não dispusesse do soberano poder, algo haveria mais poderoso ou tão poderoso quanto ele, que então não teria feito todas as coisas. As que não houvesse feito seriam obra de outro Deus. É soberanamente justo e bom. A sabedoria providencial das leis divinas se revela, assim nas mais pequeninas coisas, como nas maiores, e essa sabedoria não permite se duvide nem da justiça nem da bondade de Deus.

Um dos pontos em que mais se apegam os contrários a doutrina dos espíritos é sobre a perfeição de Deus. Quando algo muda sempre dizem que Deus foi contrário as leis que criou e que logo ele não poderia ser tão perfeito. Mas enganam-se, pois tudo está devidamente de acordo com a Lei. O fato de não saber como algo funciona não implica que aquilo não exista, apenas que é necessário deter mais tempo para a compreensão dos fenômenos naturais e das forças invisíveis. Se pudéssemos trazer aos nossos tempo um vivente do século XVI e dizer a ele que nos comunicaríamos a distância que for através de uma pequeno dispositivo que cabe dentro do bolso, seria assombroso. Ele o olharia como bruxo e feiticeiro e com certeza imputaria aquilo como obra do demônio. Pois bem, hoje temos essa compreensão da tecnologia, mas ainda assim, muitos se cegam achando que o homem já descobriu tudo possível e que nada há mais pra desbravar, visto a seu grande progresso, inclusive provar a existência de Deus. Pois bem, não provaram sua existência, porém também não a puderam refutar completamente.

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