“A melhor maneira de alcançar o autoconhecimento não é pela contemplação, mas pela ação.” – Goethe
Adentrar no universo do autoconhecimento parece ser algo fácil. “Basta comprar uns livros de auto-ajuda, acender alguns incensos, meditar por algumas horas por dia e está tudo certo” dizem alguns… Ledo engano, digo eu. Mergulhar no âmago de si mesmo é um processo árduo, e sou capaz de afirmar que em 99,99% das vezes é uma tarefa dolorosa, desanimadora, deprimente e, em muitos casos, dura pouquíssimo tempo.
Diferente do que alguns movimentos “nova era” propagam, o autoconhecimento não surge espontaneamente após horas de meditação no topo de uma montanha, ele é um processo de conquista gradativa, onde a principal chave é o processo de mergulhar em nosso íntimo e revirá-lo de cabeça para baixo. E a primeira dificuldade é justamente esse mergulho. Revirar verdadeiramente o baú do nosso interior é encontrar aquilo que de mais podre sobre nós escondemos as sete chaves. Acreditar que vamos encontrar apenas qualidades ignoradas ou uma santa alma desconhecida é se deixar navegar pela superfície e entregar-se as armadilhas do nosso ego e da necessidade de auto-adulação.
É claro que tem de ir além disso. Autoconhecer-se é também saber quais são suas habilidades intrínsecas ignoradas, especialidades e aprender como utiliza-las para o benefício do seu crescimento individual. Conhecer as ferramentas que você possui e aprender a utilizá-las a seu favor. Não é tão complicado como retirar os esqueletos do armário e coloca-los para dançar, mas também não é uma tarefa muito simples, visto que somos programados para o auto-boicote.
Buscar o autoconhecimento apenas fora de si mesmo é um erro crasso. Acreditar que uma pessoa além de você mesmo pode lhe dar as respostas que você precisa é pura ilusão. É claro que a visão que os outros possuem de você pode lhe ajudar a refletir em como você se apresenta para o mundo, mas reconhecer sua essência e aprender a dosá-la, em sua grande maioria, é um processo solitário, que exige dedicação, resistência e perseverança, pois a estrada é longa e sinuosa.
O que costumamos ver daqueles que dizem trilhar este caminho é uma exaltação de suas virtudes, escondendo de si mesmo todos os vícios e distorções do seu caminho. Na luz tudo é mais claro e de fácil visualização, muito diferente da escuridão, onde os monstros interiores se escondem e nem todos são fáceis de encontrar. A facilidade de uma leitura superficial ao invés de um mergulho na lama põe muito a perder nesse processo de busca interior… Não é a toa que a preguiça é o primeiro dos 7 “Pecados Capitais”.
Não exagere no otimismo e na superficialidade. Não caia na ilusão de que “o inferno são os outros”, e você é um incompreendido trilhando um caminho de iluminação. Também não busque mestres além dos seus próprios erros e acertos. Não espere que os outros evidenciem seus pontos negativos, pois geralmente o que eles veem são a sua casca, aquilo que você mostra para eles, e quem gosta de mostrar uma casa mal arrumada?
Se for para buscar um mestre, apoie-se nos ombros de gigantes e inspire-se nos grandes iniciados do passado, não tentando reproduzir seus feitos, mas sim, buscando a essência de suas palavras e ensinamentos. Jesus, por exemplo, não fundou uma religião, mas sim, propagou o Amor como máxima universal e até hoje é incompreendido por muitos.
Também não seja pessimista. Utilize suas virtudes a seu favor já na hora de chafurdar na lama e domar seus medos e vícios. Já que elas são mais evidentes, aproveite-as como isca para pescar os tubarões.