Ouvi outro dia num podcast – Mundo Freak Confidencial – um questionamento cético – sincero me pareceu – sobre o que um ouvinte havia dito. Basicamente ele colocou que: “O ser humano com deficiências físicas ou mentais seria assim devido a ter cometido suicídio em uma vida pretérita”. O interlocutor questionou aos ouvintes espíritas para falar sobre, logo isso me aguçou o sentido para tratar desse assunto, visto que há uma enorme confusão e má-interpretação sobre essas coisas. Principalmente no que diz respeito à Lei de Causa e Efeito e o que chamam de Karma.

A doutrina espírita diz que somos compostos de três corpos: Espírito, Perispírito e Material.

O Espírito compreenderia a alma em si, o espírito vivo, a centelha divina, a essência, a sede da consciência. Logo seria totalmente energia sutil e não material, que só poderia se manifestar no campo material através de uma “interface” que seria o perispírito. Esse por sua vez – o perispírito – é um corpo ainda material, porém feito de matéria sutil, que serve como molde para o nosso corpo físico, assim como também é a residência do Espírito. Logo quando vemos uma “aparição” pode ser que estamos vislumbrando o perispírito, geralmente – e erroneamente – dizemos que estamos vendo um Espírito.

O que ocorre é que seguindo as regras herméticas, a lei do mentalismo diz:

“O que está em cima é como o que está embaixo e o que está embaixo é como o que está em cima.”

Então o perispírito é o responsável por moldar o corpo material, porém o que ocorre no corpo material também reflete no perispírito. Esse, o perispírito, sendo uma cópia exata – porém sutil – do nosso corpo, irá ter todas as impressões que o nosso corpo também tem. Uma cicatriz, uma marca ou sinal de nascença e etc. Isso é feito pelo reflexo mental, ou seja, a mente impõe isso e o mesmo ocorre. De novo recorro às leis herméticas, lei do mentalismo:

O Todo é mente; o Universo é Mental.”

Então, claro que se a mente manda, o corpo (ou perispírito) obedece. O que ocorre é que muitas vezes a nossa mente, através da culpa, acaba modificando (plasmando) coisas grotescas. É o que ocorre em casos de licantropia espiritual, tema para um outro tópico.

Agora vamos estudar o seguinte caso: um ser humano que tenha cometido suicídio dando um tiro na cabeça. Esse ato com certeza irá danificar o cérebro material e isso se refletirá no cérebro perispiritual. O cérebro espiritual em si, estará inteiramente perfeito, a mente estará perfeita, mas o órgão perispiritual não. Então, em um renascimento – reencarnação – o molde está danificado, logo, o corpo material também virá danificado. Isso é uma explicação bem didática e básica e estou simplificando ela ao máximo, para melhor compreensão.

Contudo também temos os casos de expiação, onde a morte ocorreu de formas naturais, porém determinado sentido foi utilizado de forma totalmente deturpada e logo o espírito a reencarnar pede – ou é compelido a isto – a vir com determinada deficiência, que pode ser tanto física quanto mental.

335. O Espírito tem o direito de escolher o corpo ou somente o gênero de vida que lhe deve servir de prova?

— Ele pode escolher também o corpo, porque as imperfeições do corpo são provas que o ajudam no seu adiantamento, se ele vencer os obstáculos encontrados; mas a escolha nem sempre depende dele, que pode pedi-la.

337. A união do Espírito com determinado corpo pode ser imposta por Deus?

— Pode ser imposta, da mesma maneira que as diferentes provas, sobretudo quando o Espírito ainda não está apto afazer uma escolha com conhecimento de causa. Como expiação, o Espírito pode ser constrangido a se unir ao corpo de uma criança que, por seu nascimento e pela posição que terá no mundo, poderá tornar-se para ele um meio de castigo.

Livro dos Espíritos

Em alguns casos o perispírito está tão destruído e degenerado que possivelmente será necessário para o ser encarnante, algumas encarnações nulas, ou seja, irá ser vítima de um aborto espontâneo ou será um natimorto, coisas do tipo. Veja, não há punição, apenas o molde está incorreto. Através das sucessivas reencarnações e, também, a exposição ao fluído do plano terreno, aquela situação vai sendo amenizada e o perispírito começa a se cicatrizar e regenerar.

Abaixo destaquei algumas perguntas do Livro dos Espíritos para melhor compreensão sobre os deficientes mentais, na época chamados de cretinos ou idiotas. Cuidado, pois esses termos não tem o mesmo significado nos dias atuais.

371. A opinião de que os cretinos e os idiotas teriam uma alma de natureza inferior tem fundamento?

— Não. Eles têm uma alma humana freqüentemente mais inteligente do que pensais, e que sofre com a insuficiência dos meios de que dispõe para se comunicar, como o mudo sofre por não poder falar.

372. Qual é o objetivo da Providência ao criar seres desgraçados como  os cretinos e os idiotas?

— São os Espíritos em punição que vivem em corpos de idiotas. Esses Espíritos sofrem com o constrangimento a que estão sujeitos e pela  impossibilidade de manifestar-se através de órgãos não desenvolvidos ou defeituosos.

372 – a) Então não é exato dizer que os órgãos não exercem influência sobre as faculdades?

— Jamais dissemos que os órgãos não exercem influência. Eles a exercem, e muito grande, sobre a manifestação das faculdades, mas não produzem as faculdades. Esta a diferença. Um bom músico, com um mau instrumento, não fará boa música, o que não o impede de ser um bom músico.

Comentário de Kardec:  É necessário distinguir o estado normal do estado patológico. No estado normal, o moral supera o obstáculo material. Mas há casos em que a matéria oferece uma tal resistência que as manifestações são entravadas ou desnaturadas, como na idiotia e na loucura. Esses são casos patológicos, e em tal estado a alma não goza de toda a sua liberdade. A própria lei humana a isenta da responsabilidade dos seus atos.

373. Qual o mérito da existência para seres que, como os idiotas e os cretinos, não podendo fazer o bem nem o mal, não podem progredir?

— É uma expiação imposta ao abuso que tenham feito de. Certas faculdades; é um tempo de suspensão.

373 – a) Um corpo de idiota pode então encerrar um Espírito que tivesse um homem de gênio, numa existência precedente?

— Sim, o gênio torna-se às vezes uma desgraça, quando dele se abusa.

Comentário de Kardec:  A superioridade moral não está sempre na razão da superioridade intelectual, e os maiores gênios podem ter muito a expiar; daí resulta freqüentemente para eles uma existência inferior às que já tenham vivido, e uma causa de sofrimentos. Os entraves que o Espírito prova em suas manifestações são para ele como as cadeias que constrangem os movimentos de um homem vigoroso. Pode-se dizer que os cretinos e os idiotas são estropiados do cérebro, como o coxo o é das pernas e o cego dos olhos.

De alguma forma esse tipo de “Punição” – quando não há degeneração do perispírito por agressão – geralmente auto-imposta, é de certa forma um aprisionamento do espírito em perfeito estado de consciência em um corpo que não irá poder lhe atender da forma como seria desejoso. Isso visto pela ótica da expiação, porém pode ser também um aspecto de missão. Então o espírito reencarnante é um espírito mais evoluído e que de certa forma, através das dificuldades da deficiência e da limitação imposta, em muitas vezes, irá ensinar algo para os pais e agregados próximos. Um espírito em estado de desprendimento pode optar por ser uma criança com algum tipo de deficiência mental, para trazer união ou mesmo provação aos seus pais.

Assim, percebemos que a Lei de Causa e Efeito é bem diferente da questão Kármica que se coloca no hinduísmo. O termo Karma nunca foi usado na codificação, porém acabou tomando popularidade pela similaridade dos conceitos, mas que quando bem examinados, percebe-se que são bem distintos.

“Toda causa tem seu efeito, todo o efeito tem sua causa. Existem muitos planos de causalidade, mas nenhum escapa à Lei.” – Lei Hermética da Causa e Efeito.

Esse é um tema muito complexo e abrangente, aqui tentei dar um preâmbulo para alicerçar maiores estudos. Se tiverem algo a acrescentar, deixem nos comentários, assim enriqueceremos a discussão e o estudo.

 

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