Há algum tempo eu percebo que a minha prática religiosa estava mudando, não só pela Quimbanda que entrou na minha vida – até mesmo antes disso – na própria Umbanda e o grande incentivador (e causa) disto sempre foi o Caboclo Rompe-Mato. Em muitas conversas ele me trazia informações que deveriam ser inseridas no terreiro, mas sempre deixando claro que nada estava sendo “inventado”, tudo tinha propósito e tinha fundamento, que acabou se perdendo quando a Umbanda nossa de cada dia se tornou algo pasteurizado.
Vovô Francisco do Congo, preto-velho que trabalha comigo, sempre trouxe um jeito diferente, apesar da fala mansa, mas suas mirongas eram sempre vistas como “pesadas”. Rompe-Mato sempre me trazendo informações, instruções e me dizendo: “Isso era praticado assim, hoje já não é mais, retome isso em sua prática”. Eu vi nisto, um movimento muito claro de resgate, mas não sabia que tipo de resgate estava sendo feito.
Aqui deixo claro, antes de mais nada, que se trata da minha prática espiritual e nunca isso deve ser generalizado. Aqueles que simpatizam com a forma como pratico a espiritualidade, são bem-vindos a aprender e aqueles que não gostam, são bem-vindos a irem embora para suas práticas.
Com a Quimbanda entrando na minha vida – e isso sendo um movimento do próprio caboclo – eu percebi que ele queria trazer elementos da macumba para dentro do terreiro, onde as entidades tinham vozes e não eram padronizadas em estandartes muitas vezes mal interpretados. Desta forma que ele instituiu (ou resgatou) a faca dentro dos trabalhos de Umbanda, o método oracular, algumas funções específicas e os assentamentos de entidades e falangeiros.
Eu quero convidar o meu seguidor a discernir comigo, sobre tudo isso…, mas para isso teria que escrever longamente o que aqui no Instagram é impossível. Queria que vocês compreendessem que antes da “umbanda branca” existia uma UMBANDA que nasce da Macumba – e que talvez nem usasse o nome Umbanda de fato – e que grande parte desse saber ficou preservado nas Quimbandas do tronco tradicional e que hoje retornam para os terreiros.
Claro, que sempre haverá resistência, principalmente do povo de santo e de umbandas brancas, que não entendem a diversidade pois foram doutrinados – para não dizer que fizeram lavagem cerebral, estilo igreja neopentecostal – em suas mentes.
O que hoje ocorre no Chão de Jorge, percebo, que é uma coadunação de elementos de práticas mais antigas do que as que eu pratiquei, que ficaram escondidas para serem preservadas e não morrerem, como ocorreu em grande parte desses saberes nas Umbandas que temos mais difusão atualmente.
Queria que as pessoas entendessem, que não existe uma divindade que vem a terra e diz como uma religião deve ser. Toda religião nasce do processo de tentativa e erro, que geram acertos e esses acertos começam a ser chamados de tradição, gerando um conjunto de práticas tradicionais, que podem ser traduzidas como práticas seguras.
Hoje se quiserem tirar o termo Umbanda do Chão de Jorge, facilmente podem fazer, apesar de eu considerar que ainda fazemos Umbanda e uma Umbanda muito boa, entretanto a Macumba se torna cada vez um termo mais adequado às práticas que adotamos por meio da instrução de Caboclo Rompe-Mato e Vovô Francisco do Congo.
Compreender que a Macumba é algo plural, que não tem um livro ou códice sagrado que determina as suas práticas, também é de suma importância. Nas muitas macumbas de antigamente, assim como a Umbanda um dia foi, cada terreiro tinha seu jeito de cultuar as entidades, de fazer seus trabalhos, de alimentar seus orixás, voduns, inquices, santos, etc.
Não dá para dizer, que terreiro de Omoloko está errado, baseando-se na minha prática, assim como o candomblé não pode dizer que nossa Umbanda está errada, se baseando na prática deles. Mas isso tem acontecido cada vez mais, ainda mais em uma era de redes sociais, onde o nível intelectual das pessoas está cada vez mais baixo.
Seguimos, de qualquer forma, o nosso trabalho, pois o resultado dele nos dá essa segurança. Enquanto a bandeira de caboclo Rompe-Mato estiver hasteada, seguiremos na batalha e na esperança de dias melhores para a nossa macumba e para a sua também.