SER MACUMBEIRO É ESTAR ATENTO AO REDOR
Ser macumbeiro é um termo que hoje carrego com orgulho! Alguns podem até articular que esse é um termo pejorativo, que não tem a ver com a religião de Umbanda e que pode causar desconforto, alguns até mesmo ponderando que Macumba seria um instrumento musical e que as pessoas são ignorantes.
De fato, as pessoas são ignorantes, principalmente os que estão inseridos dentro da cultura e religiosidade umbandista. Digo isso não como uma ofensa, mas como constatação, afinal também faço parte desse público.
Nossa religião só enfraquece quando criamos uma historieta com plumas e paetês para justificar algo que é praticado na religião, para deixar mais palatável para os que não são desta religião.
Vamos desde as supostas “oferendas deixadas para os escravos fugitivos”, para justificar o uso de oferendas, seja pelo uso do termo Macumba como instrumento e não como prática mágico-religiosa, seja inventando guardiões com espadas medievais e muito mais.
A Umbanda é uma prática de resistência que persiste até os dias de hoje, mas que assim como a Quimbanda e vários Candomblés, surge dos antigos Calundus, Cabulas e Macumbas. A feitiçaria brasileira é expressa dentro dos terreiros, com uma roupagem muito própria.
Ser macumbeiro desta forma é mais do que apenas praticar magia. O macumbeiro representa toda uma história de resistência, de sobrevivência, de ancestralidade e de cura. Todo feiticeiro é o grande curandeiro de seu povo, porém estamos desacostumados com isso, visto que nossa saúde é feita pelos médicos e demais profissionais da saúde, enclausurados em rotinas desgastantes e plantões desumanos dentro dos hospitais.
O macumbeiro era o conselheiro, o guia, o apoio emocional e familiar e o curador. Muitas vezes ele era procurado para aconselhamentos pelos reis e rainhas de outrora.
Ser macumbeiro é ouvir os guias, ter contato espiritual, pois a observação deve ser constante. Assim como Bará aprende com Oxalá todos os mistérios da Criação, por meio da observação, o feiticeiro aprende observando a construção monumental chamada Planeta Terra.
Quando o macumbeiro anda pelas ruas, florestas, praças, estradas, campos, praia, cemitério e outros locais de poder, ele está sempre atento para compreender o que os Espíritos daquele lugar lhe dizem.
Observamos a natureza, percebemos as folhas e vegetação, colhemos plantas, sementes, cascas, plumas, penas, garras, dentes, animais mortos e toda sorte de fetiches.
A natureza nos proporciona por meio dos espíritos dos locais os instrumentos de nossa prática. Não sabemos para o que servirá, mas sabemos que servirá para algo. Assim é a vida do macumbeiro.
Quando o macumbeiro desperta verdadeiramente, todo o mundo se encanta. Ele tem outra relação com a vida, com a morte e com a natureza. Ele se sente parte de um complexo gigantesco, onde a menor perturbação gera reverberações em grande monta.
A vida de macumbeiro é estar atento aos conselhos, as intuições, aos sinais, sejam expressas em mudanças climáticas, na direção do vento, em um aroma, em uma sensação ou até mesmo na manifestação “corpórea” de um espírito.
Não dá para se dizer macumbeiro sem estar conectado e integrado com o que nos cerca. Seja um macumbeiro campesino, seja um macumbeiro urbano, todos possuem integração com o mundo. O macumbeiro da cidade vê nas mudanças climáticas, nos outdoors, no fluxo de carros as mudanças energéticas.
O Universo sempre dá sinais e tudo é animado na natureza. A natureza fala conosco, mas muitas vezes não ouvimos. Por isso o bom macumbeiro acaba sendo aquele que sempre carrega consigo alguns elementos de uso prático e sabe respeitar quando a natureza lhe entrega um presente.
Esteja atento macumbeiro e se assuma macumbeiro!