Quando se falar de Umbanda Tradicional a gente remete direto a visão da Umbanda fundamentada pelo Zélio Fernandino de Morais e o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Contudo, essa não foi a primeira manifestação de Umbanda e também não é a única manifestação de Umbanda.
A própria Umbanda do Zélio, que é identificada como Umbanda Branca e de Demanda, acaba por tomar a fama no mito fundador por ser a que mais foi explorada midiaticamente e ainda o é até hoje. A questão é que do advento do Caboclo das Sete Encruzilhadas, ele deu o nome a religião de Allabhanda, algo completamente diferente do que ouvimos falar sobre Umbanda.
Cremos que a Umbanda Brasileira é uma versão derivativa dos candomblés de Caboclo, que por sua vez já derivam do Candomblé Angola. Existia algo próximo ou similar a um trabalho de Umbanda já em terras Angolanas e do Congo, conhecido como Mbanda, que na pronúncia se torna Umbanda (aportuguesando a palavra).
Porém ao chegar ao Brasil as crenças deram origem a prática do culto de Mikisi (plural de Nkisi) e também do culto a ancestralidade por meio dos espíritos guias desencarnados.
O mesmo também era observado em parte da sociedade nativa brasileira e o enfrentamento e posterior amálgama dessas culturas a gente pode dizer que é a Umbanda, ainda temperada com práticas elementais, mágicas, populares e católicas da Europa.
Então quando falamos de tradição ou raiz, muitas vezes queremos apenas definir a origem da linhagem que estamos seguindo. Uma pessoa que segue o Zélio, como é o caso das Sete Tendas Originais¹ seguem a mesma raiz da casa do Zélio, porém divergem em algumas questões, isso se dá por um motivo claro:
As raízes podem ser as mesmas, mas o caule, o tronco, os galhos e as folhas acabam gerando outros frutos.
E isso pode ser visto com o mito fundador da Tenda de Umbanda Mirim, que é dado como fundado por meio da mediunidade de Benjamin Figueiredo e a manifestação do Caboclo Mirim.
Esta manifestação só ocorreu após a intervenção de Zélio e do Caboclo das Sete Encruzilhadas, ou seja, teoricamente era para ele seguir a mesma doutrina, mas ele diverge completamente da proposta de Zélio e do próprio Caboclo das Sete Encruzilhadas, não desfazendo ou tendo qualquer demérito em sua obra, muito pelo contrário.
O mesmo ocorrem com várias e várias tendas, terreiros, barracões e nações: Bebem de um lago, mas habitam outros locais de caça e aprendizado.
Assim também o é na Tenda Espírita de Umbanda Chão de Jorge, que bebe da raiz de Pai Dito, uma Umbanda Tradicional fundamentada com cultura Banto e muita influência do povo do Congo, onde geralmente se apresenta como uma Umbanda de Nação Congo, porém não segue estritamente o que a casa fundadora Casa de Caridade Nossa Senhora Aparecida apregoa como diretrizes bases.
Muita dessas mudanças se dá pela chefia espiritual da casa, não exatamente do dirigente ou da dirigente, mas muito mais dos Espíritos Guias Chefes da casa que trazem a suas práticas e suas condutas para dentro do terreiro e as colocam como normas, regras e objetivos a serem observados por todos que lá estão.
Isso só faz a Umbanda ser mais rica em suas formas e seus cultos, impedindo que elas se cristalizem com o passar do tempo, mas que também não percam a suas origens.
Não existe uma Umbanda verdadeira, tampouco existe uma só Umbanda Tradicional. O que existe é a Umbanda em sua “multiculturalidade” e isso só é enriquecedor.
Saravá a Umbanda!
1 Tenda Espíritas derivadas da Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade (original e matriz da Umbanda Branca): Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição, Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia, Tenda Espírita São Pedro, Tenda Espírita São Jorge, Tenda Espírita São Jerônimo, Tenda Espírita Oxalá e Tenda Espírita Santa Bárbara.
Saiba mais sobre a História da Umbanda em nossa Palestra: Umbanda – Religião e Magia Brasileira.
Clique aqui para mais informações.