Sempre quando vou tratar de assuntos relacionados a esquerda (quimbanda) eu faço ressalvas no começo dos textos. Nesse não seria diferente, pois iremos tratar de um assunto cheio de dogmas e extremismos, bem delicado que acaba tangenciando assuntos muito sensíveis como o feminismo, o empoderamento feminino e a liberdade sexual.

Vamos falar sobre as Pombagiras!

Em outros textos abordamos a Quimbanda de uma forma mais genérica em cima de sua personagem principal, os Exus. Depois disso muitos me cobraram um texto falando sobre o pilar feminino da Quimbanda, que responde pelo nome Pombagira. Aqui já começamos polemizando, pois a Pombagira não é um ser a parte ou uma linha a parte, ela é a própria linha de Quimbanda na versão feminina, é sim o Exu-Mulher que alguns antigos citavam.

Isso pode causar estranhamento, pois com a visão da neoumbanda nos acostumamos a ver a Pombagira como um ser a parte, desconectada dos Exus, assim como os mirins. Porém dentro da tradição e dos meus estudos, percebo que isso não faz o menor sentido. Vamos primeiramente nos aventurar a entender a origem do nome Pombagira.

Origem de Pombagira

A palavra pombagira é derivada de uma corruptela do nome Mpambu Njila, que seria um Nkice (Inquice) Bantu. Esse nome foi sendo alterado em terras brasileiras, primeiramente para Pambu Bjila, posteriormente para Bombogira e por fim Pombogira ou Pombagira.

O curioso é que Mpambu Njila é um inquice masculino, que tem aspectos do Orixá Exu Yorubá, mas não o é de fato. Dentro das mitologias bantu, temos diversos Inquices que acabam assumindo domínios parecidos ou pelo menos perimetrais aos Orixás, devemos ter por volta de seis ou sete Inquices conhecidos que tem atributos do Orixá Exu da cultura Nagô.

Dentro da magia e da sua fundamentação o elemento de domínio de Pambu Njila é o fogo e este é o inquice que conhece os atalhos dos caminhos e que não se prende por portas fechadas, já que elas se abrem para ele.

O seu nome significa Mpambu de Atalho, Fronteira, Encruzilhada e Njila de Caminho e Estradas, em uma tradução livre seria a Encruzilhada que leva a todos os caminhos. O que é muito parecido com aquilo que concebemos de exu.

A encruzilhada para o povo Bantu é um local místico, representa o cruzamento entre o mundo espiritual e o mundo material, assim como o é a beira-mar, o cume de uma montanha e o cemitério. São pontos de contatos entre os mundos, onde o véu que separa os dois mundos está mais fino.

Mas o que o inquice tem a ver com a Pombagira de Umbanda? Nada… Apenas a similaridade do nome. Mais uma vez emprestamos um nome para designar uma linha de trabalho de Umbanda. Esse Inquice é a justificativa que alguns autores tem para dizer que existe uma Orixá Pombagira.

Vamos continuar esse assunto em um próximo artigo, mas  já deixo a pergunta: Então, Pombagira é um Exu-mulher?


Créditos da imagem: Whispering in Vain by vgothangel (Carina Grimm)

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