Os japoneses nascem xintoístas e morrem budistas! Essa é uma afirmação no mínimo curiosa, e está baseada nos rituais de nascimento e morte naquele país, que mantém muito fortemente suas tradições. Contudo, poderíamos estender que essa poderá vir a ser, se já não é, uma realidade no Brasil. Para então entendermos essa realidade japonesa, e as semelhanças com o campo religioso brasileiro, vamos mergulhar brevemente na história daquele país.
O Japão é territorialmente um pequeno país, distribuído em um arquipélago que acolhe, cerca de 127,4 milhões de habitantes. A sua história se iniciou séculos antes da Era Cristã quando, povos da Ásia e de ilhas do Pacífico foram se estabelecendo nas quatro ilhas principais (Honshu, Kyushu, Shikoku Hokkaido). Já o império japonês surgiu por volta do século VII a.C. e por muitos séculos foi influenciado político e religiosamente pela China e Coréia. Todavia, os europeus começaram a viajar a costa japonesa somente ao longo do século XVI, sendo primeiro, os portugueses e depois os holandeses. Nessa época surgiram os conflitos religiosos entre o Cristianismo e as religiões orientais, especialmente com o Xintoísmo, Confucionismo, Taoísmo e Budismo.
Assim podemos afirmar que cultura e religião se fundem na sociedade japonesa de tal modo que se torna difícil uma definição de onde termina a fronteira de uma e começa outra. Por sua vez a multiplicidade religiosa teve a sua origem nas raízes históricas do desenvolvimento da cultura e da sociedade japonesa. Tal tradição cultural foi composta sob a influência de diversas raças originárias das regiões da Eurásia do Norte, China e Oceania, no século IV a.C. O Xintoísmo (foto de sacerdotes xintoístas ao lado), que demonstra uma fusão de várias crenças, é considerada uma religião naturalmente japonesa, assim, embora não haja uma data certa de fundação, ou um livro sagrado que a represente, essa religião pode ser caracterizada como uma mescla de crenças populares do Japão.
Além do Xintoísmo, se desenvolveram no Japão, o Taoísmo, o Confucionismo e o Budismo. As primeiras transformações no campo religioso japonês ocorreram principalmente quando da entrada do Budismo no século VI. Influenciada pela China e Coréia, esta nova religião trouxe ao país a “civilização” por meio da literatura e cultura chinesas. O Budismo serviu como elemento transmissor da cultura chinesa, conquistando adeptos nas classes mais baixas devido a fácil obtenção de salvação que ele proporcionava. Sendo assim, o Budismo foi gradativamente se moldando à realidade japonesa até o momento em que se misturou ao Xintoísmo e às crenças populares. É claro que essa fusão trouxe conflito entre tradicionais sacerdotes xintoístas e a ditadura dos xoguns, que via no Budismo uma forma de manter rígido controle sobre a população.
A construção elaborada, fundindo as duas religiões, originou uma nova crença com traços de Xintoísmo e Budismo (monge budista ao lado) somados à cultura popular. Um exemplo desse hibridismo pode ser observado na composição dos cultos, com mais força no culto aos ancestrais praticado pelo primogênito, que acabou se constituindo em um forte traço da cultura japonesa, apoiado no Xintoísmo.
O xogunato foi uma forma de governo estabelecida durante muitos séculos no Japão, e durante o ultima era de governo (Tokugawa) que durou cerca de 200 anos, passaram pelo poder 15 xoguns. Além disso, a população era dividida em quatro castas: samurais, camponeses, artesãos e mercadores. Um tipo de regime feudal e absoluto adotado, garantia ao xogun o poder de comandar o exército imperial, reservando-se ao imperador um papel somente ilustrativo.
Enquanto o xogun cuidava do exército, cabia ao Imperador uma atuação figurativa pois era considerado uma figura divina, descendente direto da principal divindade xintoísta Amaterasu Omikami, que seria ancestral da família imperial japonesa. Essa convicção foi o principal paradigma a ser quebrado na Segunda Guerra Mundial, refletindo principalmente no Brasil e nos conflitos entre os vitoristas e derrotistas entre os imigrantes no território nacional.
Nos próximos textos veremos sobre a entrada do Cristianismo no Japão e os conflitos que se sucederam com esse choque cultural e religioso.
NOTA DO EDITOR
Esse texto é o primeiro de uma série sobre religiosidade e religiões japonesas, em que a profa. Ediléia irá contextualizar o movimento social e histórico do Japão e posteriormente adentrar nas diversas religiões, suas práticas e apresentações. Essa série terá sempre atualizações às quintas-feiras. Assine nossa newsletter e não perca nenhum texto dessa série: