Sempre que publico as datas de atendimento nas giras da Casa de Caridade Nossa Senhora Aparecida, alguém me pergunta: “Mas é gira de que? Qual linha vai trabalhar?”.

Eu então respondo: “Quem tiver que trabalhar!”.

Apesar de hoje serem mais popularizadas as giras temáticas, com uma linha específica trabalhando, nas casas mais populares ocorre de uma forma diferente. Manifesta-se o mentor (guia, entidade) que tiver que se manifestar.

Como sabemos cada entidade tem um campo de atuação específico, além das linhas de trabalho – Caboclos, Pretos-Velho, Exus, etc. – também temos os falangeiros – Caboclo Rompe-Mato, Caboclo Urubatão, Cabocla Caiçara, Pai João, etc. – que atuam em seus domínios e com situações de que são conhecedores. Podemos dizer então que, sempre há os generalistas – que atendem os casos com uma abordagem mais genérica – e os especialistas.

Vamos elucidar! Embora um Preto-Velho possa trabalhar em todas as áreas de auxílio: Benzendo, Quebrando Demanda, Curando e afins; ele terá um campo em que é “expert” e poderá angariar melhores resultados com esse tipo de problema ou situação. O mesmo se dá pra todas as linhas.

Além dessa questão prática, podemos também pensar na disponibilidade do guia. Vamos supor que seja marcada uma Gira de Caboclos, porém, meu caboclo não estará disponível nesse dia. Os espíritos tem funções e trabalhos no plano astral, logo não estão ao nosso lado ou a nossa inteira disposição a todo momento. Não são de nossa propriedade. Partindo desse exemplo, com meu caboclo não podendo se manifestar, então quem virá?

Abrimos então vários questionamentos, dentre eles:

  • O caboclo não se manifestará. Não haverá incorporação.
  • Outro caboclo tomará a frente do trabalho.
  • Abre espaço para a mistificação.

Entre vários outros tipos de situações que podem ocorrer. Um médium que não está devidamente formado em sua coroa mediúnica, poderá dar espaço para o seu mental ainda em desequilíbrio ou insegurança e começar a “imitar” ou mistificar o caboclo. Em alguns casos, há mais de um caboclo na coroa mediúnica, então outro tomará a frente. Mas nem todos tem essa configuração. E na outra hipótese, o médium não irá manifestar mediunicamente naquele dia, o que a meu ver, se ele tem missão de incorporar um espírito, é uma perda de tempo e de trabalho.

Já na nossa Casa – que carinhosamente chamamos de Terreiro de Mamãe Oxum – isso não ocorre, nesse formato. Geralmente a manifestação ocorre de acordo com o guia-chefe da casa, então se vêm o Caboclo Caçador, Cabocla Caiçara ou Cabocla Iaraí, os demais guias dos médiuns acabam se manifestando na mesma linha, porém sempre há a manifestação de alguns pretos-velhos e baianos, e por vezes algumas entidades de outras linhas, com exceção da esquerda.

A esquerda se manifesta em giras fechadas, ou seja, só com convidados. Isso é uma tradição nesta Casa em que frequento. Os guias de esquerda podem se manifestar nas giras normais, mas geralmente de forma sutil, sem dar consulta ou sem sequer perceberem se tratar de espíritos “esquerdeiros”.

De qualquer forma, há uma certa padronização tomando conta dos trabalhos. Não sei até que ponto isso é benéfico, porém, cada Casa é uma casa e seu guia-chefe é quem decide em como trabalhar. Só não nos esqueçamos do bom-senso sempre, em todo trabalho espiritual.

Seja quem for que se manifeste, que possa nos auxiliar na caminhada, que nem sempre é fácil. Mukuiú N’Zambi.

 

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