Começo esse artigo exatamente com essa afirmação: O Espiritismo está morto! De fato e comprovadamente.
Não existe nenhum tipo de pegadinha ou ironia nessa afirmação, ela é a mais pura e cristalina verdade. Transformaram a doutrina espírita em algo diferente, levando-a a óbito por meio do atavismo do catolicismo no espiritismo e a demanda por transformar o mesmo em religião.
Baseio-me em partes no texto de Rodrigo Watzl, chamado de Manifesto Ortodoxo , publicado no blog Coerência Espírita.
Não vou reproduzir o texto supra citado. Para quem se interessar, basta seguir o link. Porém vou ressaltar pontos importantes e tecer meus comentários sobre o mesmo, quando o fizer colocarei os mesmos como citação.
“Os que se insurgem contra tal estado de coisas, e que ousam pôr em xeque a “autoridade inquestionável dos mentores espirituais e dos médiuns que os psicografaram” logo recebem a pecha de “obsedados”. Isso, quando não são sumariamente expulsos das instituições que frequentam.”
O que ainda acontece é que o exercício racional chamado discernimento é desencorajado para colocar uma posição de fanatismo e idolatria, impedindo assim qualquer aspecto humano de falha nas comunicações espirituais. Mas não foi o próprio Kardec que instituiu o CUEE (Controle Universal dos Estudos Espíritas) para afastar a chance de um processo anímico ou mistificador? Pois bem, após o desenlace do codificador, primariamente no Brasil, aboliu-se essa prática. Agora somos idólatras criadores de novos ídolos por meio das figuras idealizadas dos médiuns e seus mentores, nos esquecendo completamente que os mesmos ainda são humanos e são passíveis de erro e de paixões inferiores. Quem é contra, é considerado obsedado – como diz o autor do manifesto – ou pior ainda, é Macumbeiro, Umbandista e de outra religião e quer deturpar o espiritismo.
Meus caros, não somos nós que deturpamos. Foram vocês! O Espiritismo jamais foi religião, isso foi criação da “terra brasilis” e de afetados emocionais que não conseguiam se livrar do atributo católico. Pois bem digo, jamais precisaram, já que o mesmo por ser doutrina filosófica pode ser facilmente compreendido e estudado, independente de religião. Ou seja, eu como umbandista ou um irmão como um judeu, pode da mesma forma dizer-se espírita, caso siga a doutrina filosófica (e não religiosa) que foi deixada pelos Espíritos por meio da codificação de Allan Kardec.
Em função dos muitos anos de observação do movimento espírita, podemos dizer que, geralmente, qualquer comunicação, desde que seja mediúnica e respaldada por nomes respeitados (de encarnados ou não), é prontamente aceita. Recebe um “selo de qualidade espírita”. Por outro lado, esses mesmos espíritas, com a mesma circunspecta autoridade, proferem uma sentença sem apelação: “ ‘espiritismo’ é ciência, filosofia e religião”. De se perguntar o sentido que emprestam aos termos ciência e filosofia. E, no entanto, o movimento espírita ainda se dá o direito de se magoar com o fato de a quase totalidade dos cientistas e filósofos verem no “espiritismo” apenas pseudociência e pseudofilosofia, respectivamente; temas indignos de sua atenção.
Outra incoerência no igrejismo perpetuado pelos espíritas-brasileiros é o de qualificar uma comunicação pautada em títulos terrenos e também na proeminência que essa figura tinha na sociedade humana quando encarnado. É sabido, do sério estudioso, que os espíritos tomam os nomes que lhes aprouverem, não precisando demonstrar nenhum cartão de identidade espiritual para assegurar quem é, pois mais importante que o nome do comunicante é a mensagem a ser comunicada. Para verificar a autenticidade da mensagem possuímos as palavras do evangelista João: “Caríssimos, não acrediteis em todos os Espíritos, mas provai se os Espíritos são de Deus, porque são muitos os falsos profetas, que se levantaram no mundo”. (João, Epístola I, cap. IV: 1).
Contudo, com a idolatria gerada é impossível colocar a máxima acima citada em prática. Então, agora puxando um pouco para o lado da Umbanda, por que um espírito mais humilde em terra, um lavrador, não pode manifestar sabedoria numa comunicação espírita? Seria ele, por ser simples e humilde, um ser inferior espiritualmente?
Kardec nos deixa como critério a concordância universal. A ortodoxia, isto é, a coerência doutrinária, busca a retomada da metodologia inicial, a fim de alcançar esta concordância, ao arrepio de opiniões individuais.
Eu vejo isso em vários locais visitados. Espíritos distantes que se comunicam com a mesma mensagem, com o mesmo intuito e sem terem qualquer relação entre si, dando assim respaldo a comunicação. Mas não é uma comunicação carregada no discurso piegas e tão afetada, mas um discurso pautado na profunda comoção interior, na abertura da mente para reflexão e acima de tudo, nas diretrizes coerentes da racionalidade. Simplesmente determinar como premissa que uma vela não tem poder, pois é coisa de espírito atrasado, é tão banal como dizer que meu time de futebol é melhor que o seu, pois tem um ou mais títulos.
Haveria uma relação de identidade entre ortodoxia e “fundamentalismo e intolerância”. Neste caso, a palavra traria em si o germe de algumas das piores e mais comumente manifestadas características humanas.
Eu, como sabem todos que me acompanham neste blog, sou um estudante e tenho a mente aberta para diversas concepções espirituais. A Verdade nunca foi revelada e por isso mesmo não posso defini-la. Eu mesmo não sou um ortodoxo, mas creio que para refutar algo com tanta veemência, pautado em supostos conhecimentos de “dogmas”, os Espíritas deveriam no mínimo se instruir sobre o que estão falando e não simplesmente sair proferindo preconceitos e palavras de incentivo ao ódio. O que podemos notar são pessoas rezando Pai-Nosso e não prestando atenção as palavras ditas. Apontam para o fundamentalismo evangélico, mas não olham para seu próprio preconceito enraizado. Não admitem a comunicação de espíritos inferiores, pois são os doutores do astral que possuem a primazia das comunicações. Tanta coisa errada, não? E ainda há quem me taxe de intolerante religioso ao dizer que a pessoa se diz espírita, mas de espírita nada tem.
A ortodoxia espírita nada mais é do que a coerência doutrinária. Seus adeptos apenas buscam essa coerência por meio da análise desapaixonada de quaisquer obras mediúnicas.
A palavra que todos temem, DESAPAIXONADA!
Já na Revista Espírita de Novembro de 1869, o codificador deixa um alerta aos brasileiros:
“O Eco de Além-Túmulo aparece seis vezes por ano, em cadernos de 56 páginas in-4o , sob a direção do Sr. Luiz Olympio Telles de Menezes, ao qual nos apressamos imediatamente a endereçar vivas felicitações, pela iniciativa corajosa de que nos dá prova. Com efeito, é preciso grande coragem de opinião para criar num país refratário como o Brasil um órgão destinado a popularizar os nossos ensinamentos. A clareza e a concisão do estilo, a elevação dos sentimentos ali expressos, são para nós uma garantia do sucesso dessa nova publicação. A introdução e a análise que o Sr. Luiz Olympio faz, do modo pelo qual os Espíritos nos revelaram a sua existência, pareceram-nos bastante satisfatórias. Outras passagens, referindo-se mais especialmente à questão religiosa, dão-nos ocasião para algumas reflexões críticas. Para nós, o Espiritismo não deve tender para nenhuma forma religiosa determinada. Ele é e deve continuar como uma filosofia tolerante e progressiva, abrindo seus braços a todos os deserdados, seja qual for a nacionalidade e a convicção a que pertençam. Não ignoramos que o caráter e a crença daqueles a quem se dirige o Eco de Além-Túmulo devem levar o Sr. Luiz Olympio a manejar certas susceptibilidades. Mas acreditamos, por experiência, que a melhor maneira de conciliar todos os interesses consiste em evitar tratar de questões que a cada um cabe resolver, e empenhar-se em popularizar os grandes ensinamentos que encontram eco simpático em todos os corações chamados ao batismo da regeneração e ao progresso infinito.”
Leia o texto completo em Eco de Além-Túmulo.
Mais uma vez reitera-se: O Espiritismo não é religião, é uma filosofia doutrinária que pode ser seguida por qualquer pessoa de qualquer religião sem que o mesmo tenha que abster desta.
O Blog Espiritismo de Verdade é mais um blog que ressalta essa mesma visão, apesar que o discurso deles é bem mais forte e agressivo, porém em alguns aspectos – usando o discernimento – podemos realmente refletir sobre a validade dos textos publicados. Dentre esses destaco o texto: Conheça os Espiritólicos, essa gente muito doida.
Neste texto ele usa o termo Espiritólico, que define o adepto do Espiritismo que não conseguiu se livrar dos dogmas católicos e que no fundo é bem mais católico do que espírita (isso pensando da forma religiosa), seguindo mais Roustaing em suas idéias de criar uma crença católica crendo na reencarnação e na comunicação com os espíritos. Ele aponta algumas afirmativas sobre essa classe:
- Acham que espiritismo é uma religião.
- Consideram cristão aquilo que eles entendem como espiritismo.
- Gostam de descobrir quem foram na vidas passadas.
- Priorizam o amor e desprezam o intelecto.
- Se recusam a questionar dogmas e a verificar informações.
- Se irritam quando questionados.
- O Deus dos espiritólicos também é antropomórfico, mas espiritual.
- Acreditam que líderes e espíritos são enviados de Deus.
- “Chico Xavier é meu mestre absoluto e nada me faltará”.
- Preferem ler romances do que livros teóricos.
- Cultuam a mãe de Jesus como se ele fosse um “espírito superior”.
- Embora espiritualistas, tem uma concepção materialista do mundo espiritual.
- São altamente ritualísticos.
- Kardec está “ultrapassado”.
- Brasileiros, povo escolhido e “farol da humanidade”
Ele explica item a item no artigo acima citado, vale a pena a leitura nem que seja para discordar.
Esse texto, O Espiritismo está Morto!, pode ter um tom até agressivo, outros dirão arrogante e prepotente. Mas é pela minha total insatisfação com a falta de coerência dos supostos espíritas em detrimentos de outros adeptos de religiões diversas (visto que aqui o espiritismo até virou kardecismo e tomou o fetiche de religião). Ao expor meus textos em grupos nas redes sociais, por muitas vezes sofri críticas interessantes e inteligentes, porém algumas totalmente desprovidas de qualquer embasamento teórico ou sequer prático mesmo, pois muitos nem frequentavam as associações espíritas ou haviam lido os livros básicos da codificação.
Após ser “expulso” de mais um grupo desses por postar o texto “Mediunidade: Chamada ao Auto-Aperfeiçoamento”, foram proferidas algumas dúzias de palavras de desrespeito falando que locais que trabalham com espíritos de índios e pretos-velhos eram atrasados e negativos, além de que eu deveria falar como o Espírita que eu havia sido.
Veja, quem se detiver a ler o texto perceberá que não há nada que implique sobre um culto umbandista, apenas o termo Caboclo, porém que pode designar um simples homem do campo, um sertanejo ou morador do interior do Brasil. Além disto, deveria me portar como o Espírita que eu fora, ou seja, o que eu sou hoje é ERRADO, GROSSEIRO e INFERIOR.
É muita prepotência para quem nem sequer respondeu uma pergunta sobre diretrizes básicas do espiritismo, além de só postar mensagens (imagens) de amor e paz. Não sou dono de verdade alguma, meus textos tem a proposta de chamar a reflexão, ao debate saudável e para nos tirar da inércia em que nos colocamos em nome de uma fé cheia de discurso piegas.
Quando é que fizemos realmente algo de bom e de acordo com a crença? É melhor ter uma doutrina filosófica do que uma religião desde que você a pratique em suas diretrizes. Por isso já era dito por Jesus em suas parábolas: “Por que vês tu, pois, o argueiro no olho do teu irmão, e não vês a trave no teu olho?”
E agora podemos marcar o sepultamento do Espiritismo Brasileiro?