No decorrer da semana tive muitas perguntas feitas sobre a Umbanda em si, a criação do culto, suas influências e origens. Vou tentar desenrolar um pouco sobre isso.
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As opiniões podem ser conflitantes em alguns casos, logo sempre vale o alerta, passe pelo seu discernimento, o que lhe servir guarde o que não lhe servir deixe ir.
01 – A Umbanda é uma religião afro-brasileira?
A Umbanda é uma religião brasileira, formatada nos moldes da origem do povo brasileiro, ou seja, com índios, africanos e europeus. A religião de Umbanda têm sua origem em 15 de novembro de 1908 através da mediunidade do médium Zélio Fernandino de Morais, com a manifestação do Caboclo das 7 Encruzilhadas. Traz a figura do caboclo aguerrido, do ancião africano ex-escravo, da criança inocente e do Exu. Apesar de existir a palavra Umbanda e um culto umbandista que pode ser datado da África, a Umbanda como religião praticada no Brasil é estritamente brasileira, veja pela concepção da mesma em suas linhas de trabalho.
02 – Mas mesmo antes dessa data já se manifestavam espíritos que se diziam pretos-velhos e índios em outros lugares e cultos. Como pode?
Pode pelo simples fato de que a mediunidade não é patrimônio singular da Umbanda, a mesma ocorre em muitas outras religiões e os espíritos não estão atrelados a bandeiras religiosas. A manifestação de espíritos de pretos-velhos (como o próprio Kardec constatou em um número da Revista Espírita) e Caboclos não é um fundamento exclusivo da Umbanda. Porém o conjunto formado por essa sim é que foi formatado para ser um culto brasileiro. Onde os espíritos nativos e fundadores da pátria Brasil teriam voz finalmente.
03 – Os Orixás da Umbanda são os Orixás Africanos, então a Umbanda tem que ser africana?
Não necessariamente, pois as influências da Umbanda perfazem vários povos que acabaram escolhendo o Brasil como pátria. O uso dos Orixás Africanos se deve pela sistematização dos mesmos, já trazida de planos superiores, e que poderiam ser colocadas de forma universal. Os Orixás acima de tudo representam energias e fatores, logo não estão restritos a uma determinada religião ou local, porém os encantados que respondem a estes nomes podem estar, logo temos que os nossos Orixás de Umbanda são encantados diferentes dos cultuados nos cultos de nação, apesar de emprestarem o mesmo nome e às vezes as mesmas atribuições. Porém para o umbandista é muito mais fácil perceber isso na figura da mãe Iemanjá, que tem tanto seu visual totalmente diferenciado como o seu culto modificado ao chegar à terra brasileira. E isso se repete para os demais.
04 – Por que existem diferentes tipos de Umbanda?
A Umbanda não tem um poder central que define quais as regras e as formas de rituais a serem empregados, a única coisa que todas as Umbandas têm em comum são resumidas nas palavras do Caboclo das 7 Encruzilhadas:
“A Umbanda é a manifestação do Espírito para a Caridade.”
“Com os Espíritos mais evoluídos aprenderemos,
Aos menos evoluídos ensinaremos,
mas a nenhum renegaremos!”
Logo podemos ter as impressões de um determinado pai-de-santo ou tradição, uma maior tendência a cultuar com influência indígena, africana ou espírita-cristã, com determinados elementos litúrgicos, etc. O que é comum nas umbandas são as manifestações das linhas de trabalho, do uso de elementos de magia, da não utilização de sacrifícios animais, do culto aos Orixás (sejam sincretizados ou não) e da manifestação dos guias através da mediunidade de incorporação.
05 – Mas então a Umbanda se apropriou de vários ritos de diversos povos?
De certa forma sim, porém devemos olhar mais atentamente para essa questão. A influência de diversos povos e culturas criou o que hoje temos como Brasil. Então, com certeza as religiões também seriam influenciadas. O espiritismo em sua proposta inicial nem sequer era uma religião, e só tomou esse corpo quando no Brasil, mas a proposta do espiritismo era ser uma forma universal de comunicação e explicação dos fenômenos espirituais que até então aconteciam sem uma visão mais positivista da coisa.
A Umbanda acabou por tomar o lugar como religião brasileira de cunho universal devido a negativa da filosofia de Kardec de assumir tal posto. (Veja bem, essa é uma opinião minha formada através das minhas vivências e leituras). Logo a religião brasileira umbandista teria com certeza a influência de todos os povos que formam a nação. Do caboclo temos o transe, o uso do tabaco, o uso de fios de contas, de instrumentos musicais ritualísticos, das ervas, do conhecimento da natureza, do contato com os encantados e povo da mata; Do povo africano temos a figura do ancião sábio, do uso das fumaçadas, das ervas, defumações, do uso de fios de conta, do culto aos Orixás, da feitiçaria e magia africana; Dos europeus temos o uso da magia, das formas ritualísticas, da moral cristã, da feitiçaria natural e bruxaria, dos santos sincretizados, da benzedura, etc.
Cada um emprestou um pouco a nova religião sendo formada, somando-se ainda posteriormente as influências das linhas de trabalho como: Oriente, Baianos, Boiadeiros, Marinheiros, Crianças e assim por diante.
Mais do que uma colcha de retalhos de influências é um grande caldeirão alquímico de religiosidade, magia e acima de tudo manifestação espiritual para a caridade e aperfeiçoamento.