Curiosamente esses dois Orixás geram tanto medo quanto admiração, talvez pela pouca compreensão que temos diante dos campos e fatores que eles regem, ou pela sua iconografia clássica sempre vestido com tantas palhas, o que nos remete aos preconceitos arraigados da cultura judaico-cristã contra os ‘feiticeiros’.

 Mas de qualquer forma exercem fascínio em quem se permite conhecer essas forças naturais. Muitas vezes são confundidos, sendo tratados como um único Orixá com nomes diferentes, remetendo a suas idades distintas; outras vezes são tratados como entidades completamente diferentes.

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Nas Umbandas mais tradicionais ele é tratado como o mesmo orixá, sendo apenas diferenciado pela sua idade, Omulu é o ancião e o Obaluayê é o jovem. Também é chamado por Abaluaê ou Xapanã, sendo que esse último nome é tão temido que sempre se evita pronunciá-lo, ou quando é necessário fazê-lo pede-se permissão e licença a entidade. Ele rege os fatores da morte, paralisia e das doenças. Considerado na África como o Orixá da varíola e das doenças contagiosas. É um orixá telúrico, ligado ao Campo Santo, Calunga Pequena ou Cemitério.

Na Umbanda Sagrada são separados em dois aspectos distintos sendo Obaluayê o Orixá Universal masculino do Trono da Evolução, com o fator evolucionista, regente das passagens e da transformação, também ligado a cura, pois é a transformação (evolução / passagem) de um estado sadio para um doente e vice-versa, sendo sua regência nos elementos terra/água. Omulu, por sua vez, é o Orixá Cósmico regente do Trono Masculino da Geração, que faz oposição a Yemanjá (Trono Feminino da Geração, Universal), ou seja, o inverso da geração (criação) é a paralisia e morte, também é evocado quando necessário fazer um trabalho de cura mais profundo, encaminhamento de mortos, trabalho com vícios, etc. Seu elemento é terra pura. É dito que na Calunga Pequena – Cemitério – Obaluayê rege tudo que está acima da terra – as almas – e Omulu rege o que está abaixo – os corpos, esqueletos, covas, etc.

 A mitologia conta que seus corpos eram cobertos por feridas e que ele foi vestido com uma roupa de Palha da Costa, por Ogum, assim escondendo suas feridas. Então sempre que há a manifestação em terreiros deste Orixá, o médium acaba tendo a cabeça coberta por um pano branco em sinal de respeito e simbologia da roupa deste Orixá que nunca mostra seu rosto. Curiosamente algumas firmezas contra Eguns – espíritos desencarnados – são feitas com essa mesma palha, como o famoso Contra-Egun, que se amarra nos braços.

A Lenda conta que Obaluayê (ou Omulu) é filho de Nanã Burukê e Oxalá, porém é um filho vindo de um erro, pois Oxalá era comprometido a outra Orixá. Nascido então todo deformado e cheio de feridas no corpo (varíola) foi abandonado a beira mar para que a maré o levasse. Yemanjá o encontrou e ficou com pena dele e cuidou do mesmo para que ele ficasse curado. Recebeu uma roupa de palha da costa feita por Ogum para que ele pudesse cobrir suas feridas. Um dia, haveria uma enorme festa dos Orixás, porém envergonhado por estar coberto de palhas decidiu apenas ficar observando de longe, pelas frestas da casa, quando Yansã se apercebeu do visitante e com seus ventos soprou a roupa de palhas para longe, é dito que as feridas sumiram do corpo de Obaluayê e caíram como grãos macios e brancos, a pipoca. Eis o motivo de utilizarmos pipoca em suas oferendas, também simboliza a transformação, um grão duro que em seu interior (quando este se exterioriza) transforma-se em um alimento macio e delicioso.

 É sincretizado na Umbanda na forma de Obaluayê como São Roque e Omulu é associado a São Lázaro. Na Santeria é conhecido como Babalú Ayé .

Dia da semana é segunda-feira, utiliza das cores preto, vermelho e branco, inclusive nas velas que também podem ser Violetas (para Obaluayê) e Roxa (para Omulu). Sua arma é o Xaxará, que é um tubo de palha traçada com sementes e firmezas dentro, sua comida é a pipoca e a saudação é Atotô!

Ainda no nome e na saudação, é aceito que uma das traduções possíveis para Obaluyaê é Senhor da Terra ou Rei do Mundo, e Atotô significa Silêncio. Então a saudação Atotô Obaluayê poderia ser traduzida de forma aproximada como Silêncio diante do Senhor da Terra. Já Omulu significaria Filho do Rei, e é também saudado por Atotô Omulu.

 Em algumas Umbandas é tido como regente da linha dos pretos-velhos, que aceitam velas brancas ou preto-e-brancas.

 Omulu é o senhor do cemitério então sempre ao adentrar a um campo santo é preciso tomar certas precauções e prestar respeito por este Orixá e seus falangeiros. Na Umbanda, apesar de ser cultuado como Orixá, Omulu é mais um encantado (assim como Obaluayê). Obaluyaê seria o regente da linha das Almas, que incluem os pretos-velhos e os Exus das Almas, como Tranca-Ruas das Almas, Exu do Cruzeiro, Exu 7 Cruzes, Exu 7 Covas, etc; e Omulu regente da linha dos Caveiras, tendo como chefe desta linha o senhor Exu João Caveira e a senhora Pombagira Rosa Caveira, ainda regem os Exus Esqueletos, 7 Ossos e demais entidades ligadas a esses fatores.

Esses orixás são muito oferendados para cura de doenças, tratamento de viciados em drogas ou álcool, para proteção contra magias negativas, para equilíbrio em casos de desânimo e falta de autoestima, para paralisar atividades, magias negativas, maldições, espíritos obsessores, e perturbações espirituais. Aceita crisântemos como flores nas oferendas, além de cravos e flores brancas e roxas. Seu axé pode ser encontrado nas ervas a seguir: alho desidratado, casca de alho, casca de cebola, dandá, erva de bicho, mamona roxa, orégano, peregum roxo, picão, pinhão roxo, valeriana, alcachofra, cravo da índia, manjericão, assa-peite, babosa, entre outros.

Pode-se utilizar o Ônix e a turmalina negra como pedras desses orixás, como bebida aceita vinho tinto seco, vinho moscatel, água mineral, marafo, água de arroz, sumo das ervas do orixá, dendê e mel. Também como comida cerimonial a famosa pipoca estourada na areia.

 Seja como for que acredite ou que cultue essa entidade, veja a profundidade de suas atribuições e como devemos respeitar o mesmo, antes de teme-lo. Atotô meu pai Omulu / Obaluayê!

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