“Médium quer dizer medianeiro, intermediário. Mediunidade é a faculdade humana, natural, pela qual se estabelecem as relações entre homens e espíritos.”
Mediunidade – J. Herculano Pires – cap. I
“- Sempre se há dito que a mediunidade é um dom de Deus, uma graça, um favor. Por que, então, não constitui privilégio dos homens de bem e por que se vêem pessoas indignas que a possuem no mais alto grau e que dela usam mal?
– Todas as faculdades são favores pelos quais deve a criatura render graças a Deus, pois que homens há privados delas. Poderias igualmente perguntar por que concede Deus vista magnífica a malfeitores, destreza a gatunos, eloquência aos que dela se servem para dizer coisas nocivas. O mesmo se dá com a mediunidade. Se há pessoas indignas que a possuem, é que disso precisam mais do que as outras, para se melhorarem. Pensas que Deus recusa meios de salvação aos culpados? Ao contrário,multiplica-os no caminho que eles percorrem; põe-nos nas mãos deles. Cabe-lhes aproveitá-los. Judas, o traidor, não fez milagres e não curou doentes, como apóstolo? Deus permitiu que ele tivesse esse dom, para mais odiosa tornar aos seus próprios olhos a traição que praticou.”
O Livro dos Médiuns – Allan Kardec – cap. XX – Q. 226, 2ª
Quando o médium deixa de servir para ser servido?
É muito comum, infelizmente, vermos irmãos de jornada caindo nas garras do egocentrismo, da vaidade e do orgulho. Se esquecem, que somos apenas instrumentos da espiritualidade, que os conselhos dados, que as palavras de consolo proferidas, que os passes energéticos, que os trabalhos magísticos não são força ou poder do médium, mas sim manipulação das energias provenientes do guia comunicante. Porém vemos muitos, que começam quietos, como uma grande maioria, mas que com o tempo passam a achar que seu mentor é o melhor, que o outro é ignorante, que estão fazendo tudo errado e que são incapazes.
Pior ainda quando se pensa que ninguém mais sabe agir a não ser ELE mesmo. O Ego grita nesse momento tentando se libertar e dominar o pobre instrumento que a espiritualidade tentou trabalhar. Ele vê seus mentores e guias operarem verdadeiras façanhas através de seu aparelho mediúnico, vê pessoas que chegam chorando aos pés dos guias saírem rindo e resolverem suas vidas, curas sendo proporcionadas, e assim acreditam que ELES são poderosos, que detêm o poder em suas mãos, e que são auto-suficientes.
Eis que começam as aberrações, os shows, giras viram espetáculos, e os mentores, já não mais podendo se sintonizar adequadamente com seu aparelho mediúnico se ‘afastam’. Veja bem, não é o mentor que se afasta na realidade, mas o instrumento de comunicação se torna tão grosseiro e tão impróprio que é incapaz do mentor se familiarizar mais com suas emanações energéticas. Então, outros espíritos, que se afinizam a essas energias se aproximam deste, e estes geralmente não estão querendo prestar a caridade, mas mistificar.
Então a culpa é do Obsessor? Não! Pois nem sempre são obsessores que fazem esse tipo de trabalho, mas a própria psique desequilibrada do médium toma a frente dos trabalhos e este começa a agir como se fosse ou estivesse manifestando um mental alheio. Porém é ele.
Eis o porque a reforma íntima é tão importante para todos os médiuns, neófito ou ancião, experiente ou iniciante. A Reforma íntima é vital para uma boa conduta mediúnica, pois precisamos compreender e aceitar que somos apenas o receptáculo de mentais alheios, e se assim o somos, devemos esperar sintonizar espíritos comprometidos com a Lei Maior e a Justiça Divina. A moral duvidosa expõe um alvo para o baixo astral e as frequências negativas. A primeira lição a aprender é que não somos os detentores do poder; a Segunda lição que deve ser aprendida simultaneamente é que não devemos jamais julgar quem pede ajuda.
Não se julgue o porta-voz dos mortos, eis você apenas um dos muitos porta-vozes, e caso você deixar de representar ou expressar a vontade dos desencarnados aliados a Lei de Pemba, então, eis que ocupará seu lugar alguém mais preparado para tal.
O Médium não está em uma casa espiritualista só para servir de instrumento para as dores dos outros, mas também para suas, para aprender, e pra evoluir, coibindo suas próprias paixões desvirtuadas.
Mediunidade não é incorporar um espírito, mas incorporar os valores que esse espírito representa: Compaixão e humildade.