Será mesmo que essa máxima promulgada por aí é verídica? Já parou para pensar em todas as repercussões de uma afirmação destas? Pois bem, este artigo é justamente para tratar sobre tais afirmações que propagam pela internet mais rápido do que erva-daninha.

Uma das táticas mais difundidas pelos “financiadores” de títulos e vendedores de cursos é a de que se você estudar as suas entidades serão melhores. De fato, analisando-se friamente, não está de todo errado, porém a tática utilizada é tão mesquinha e preconceituosa que chega a ser vexatória para toda a comunidade umbandista.

Façamos um esforço e vamos voltar as raízes da Umbanda – assim como de outras práticas espiritualistas – e veremos que grande parte dos terreiros surgiram em condições humildes, quiçá precárias. Onde muitos médiuns, sabedores e bem firmados, eram no máximo letrados para escrever seu próprio nome, porém suas entidades encerravam uma sabedoria tremenda em suas manifestações.

Estudar prepara melhor o médium? Sem dúvida, pois diminui suas desconfianças, suas inseguranças e abre mais espaço em suas próprias limitações. Porém, afirmar que o estudioso médium será portador de guias evoluídos é trabalhar na vaidade deste para que ele se sinta detentor de algo que não possui.

Aliás, ele está se enganando duplamente, primeiro pelo fato de estar fazendo vários cursos rasos em conteúdo e até mesmo de conteúdo extremamente duvidoso, sem exercer seu discernimento e repetindo as fórmulas como um robozinho ou mico adestrado. Em outra parte está se iludindo achando que os Espíritos Superiores irão ficar ao lado dele com tanta vaidade, ego e personalismo.

O Espírito se manifesta – em toda sua sabedoria – mesmo sem médium, porém o concurso do médium é um facilitador. Como o próprio nome “médium” quer dizer, o “cavalo” é apenas um intermediador da comunicação dos espíritos, logo seu saber pouco importa para a prática da Umbanda.

Mas mesmo assim, defendo que os médiuns sejam instruídos e que possam trabalhar em cima de angariar conhecimentos. Mas isto não é para que ele possa ser um “cavalo” de entidades evoluídas, mas para que possa ser uma ferramenta melhor para que o espírito consiga atuar por intermédio dele.

Porém, não é fazendo todo curso que aparece na sua caixa de correio eletrônico que você se tornará um grande médium ou isso lhe fará um estudioso. De fato, saber discernir é muito importante, talvez mais importante que os próprios cursos em si. Pode ser que deixar de fazer aquele curso que vive entulhando sua caixa postal de SPAM seja mais evolutivo para você do que realmente fazer o curso. Aprender a deixar as coisas irem, ser abnegado e resignado…

Tenho um posicionamento claro, eu gosto de estudar! Porém, quase 70% do que estudo é considerado lixo e pode ser desprezado, isso se faz necessário para o tipo de trabalho que desenvolvo que é o de pesquisa e de divulgação da espiritualidade. Eu, em partes sirvo como primeira peneira no grande filtro que todos devem possuir (ou não).

Porém, exercitar o discernimento é algo dispendioso! Gastamos tanta energia e também nos decepcionamos muito nas decisões que tomamos. Vejam só, que eu já me meti em diversas situações bem controversas em questão de estudo, inclusive fui fazer um curso de magia de velas a mando do Baiano que trabalha comigo, porém me deixei levar pela vaidade e no final isso só foi um complicador.

Baiano Severino certo dia chegou até mim e disse:

                “- Se tu quer aprender mais bichinho pode ir fazer esse curso desse tal de (nome da pessoa)”.

Claro que eu fiquei muito encanado por uma entidade nomear alguém para que eu pudesse fazer curso, ainda mais se tratando de alguém que nunca ouvira falar. Mas ele completou:

                “- Oxi! Tu tem dúvida do porque uso as cor dos sebos (velas) diferente do que tua casa faz. Esse senhor também faz uso diferente, quero que tu vá lá para ver e aprender a diferenciar beiju de macaxeira, vici!? Mas deixo um alerta para tu: Só faça esse tal de curso. Os outros não, pois não quero ver tu se lacrimejando todo que nem um jacaré depois.”

Fui fazer o referido curso e isso expandiu de fato a minha visão limitada sobre magia, cores e uso de elementos. Foi uma porta de entrada para estudar mais a fundo outras tradições mágicas afro-brasileiras, europeias e afins. Porém, encantado com todo aquele “conhecimento” disponível a um preço pequeno eu quis fazer outros cursos e me senti extremamente mal como que aprendi.

De fato, não funcionavam…

Para piorar a situação as supostas iniciações eram repetições infindáveis do mesmo. O que quero dizer é que num curso de três meses, você tinha em torno de sete iniciações ao menos e mais uma grande consagração no final. Isso tomava então em torno de oito aulas.

Nestas iniciações a gente nada aprendia, só fazia movimentos de mãos, respirações repetidas num padrão de sete por sete e então meditava o restante do tempo que havia para finalizar as horas de curso.

Eram aulas semanais de torno de 2 horas, então usando de uma matemática de padaria podemos pegar os três meses e dizer que eram doze aulas, dentre as quais 8 dessas não eram bem aulas, apenas essas iniciações. De fato, tínhamos então em torno de quatro aulas, ou seja 8 horas de curso de magia. Viram como é raso?

No máximo o que era ensinado era repetir um símbolo ou uma fórmula com determinados padrões pré-estabelecidos e pronto, você era um mago. Poxa, isso é totalmente contrário ao que se propõe um estudo, que é saber o porquê das coisas, conhecer não como as engrenagens se movem, mas do que as engrenagens são feitas.

Além de ter perdido dinheiro, tempo e passado nervoso eu ainda tive problemas físicos decorrentes de manipulação de energias nocivas (que fica para um próximo artigo).

Fui questionar o Severino, como ele poderia ter deixado eu passar por tudo isso, então o mesmo simplesmente me disse:

                “- Tu passou o que tu procurou passar. Disse para tu que não era para fazer nada além daquilo que tinha te indicado, que todo o resto ficava por sua conta e risco e mesmo assim tu decidiu fazer. Oxi, que tu se lascou bonito e eu quero é mais.”

Questionei-o sobre se deveria ser uma ovelha mansa que baixa a cabeça e deixa de fazer as coisas só porque as entidades me disseram e ele ainda completou:

                “- Claro que não cabra! Até mesmo essa experiência ruim serviu para tu aprender sobre o que pode e o que não pode fazer. Tu deve experimentar as coisas, mas sabendo que as coisas podem te trazer retorno bom e ruim e tem que se preparar, oxente! É para isso que tu tá estudando. Além disto cabra, tu viu que tinha dado coiso ruim já no primeiro desses negócio que tu fez sem ser o que eu falei. Então por quê que tu não parou por lá e foi fazer mais três?”

Enquanto eu me questionava mentalmente ele só disse:

                “- Vaidade é claro!”

E mais uma vez o Severino estava certo! Então tomemos cuidados com o motivo de fazer cursos. Se fazemos cursos para aprendizado, para nos aprimorarmos de uma forma abnegada e sempre mantivermos a bússola da moral em atenção, é claro que teremos boas experiências (até mesmo nas coisas ruins). Porém se fazemos só pela vaidade ou pela facilidade, isso também diz muito sobre nós.

Melhor se rum médium humilde do que ser um estudioso vaidoso, pois há mais sabedoria na palavra do simplório Preto-Velho, do que no Doutor Alemão que tá pagando pena pelos erros em vida.

Todo tipo de curso que é para o auto aprimoramento é bem-vindo, desde que ele seja um curso sério e que te dê um retorno mínimo. Se o curso é apenas uma fábrica ou pirâmide financeira, desconfie…

A sedução pelo acesso fácil do conhecimento é algo que já levou muitas pessoas a loucura e a perdição.

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