Que a Umbanda é uma religião plural todos sabem, mas quase ninguém compreende como que pode uma mesma religião ter manifestações tão distintas entre si. Além disto, como cada uma das suas manifestações pode assenhorar-se da própria Umbanda e defini-la como a única vertente verdadeira.

De fato, isso é mais uma crise moral e de ego do que realmente religiosa. A Umbanda foi definida no plano material pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas e ponto. Porém, suas manifestações e influências são bem anteriores, advindas de cultos Bantu, da região atual de Congo e Angola; da influência indígena brasileira e também da influência europeia, através do catolicismo popular e do espiritismo.

Infelizmente, hoje em dia há uma NECESSIDADE em africanizar tudo, não reconhecendo que há muito mais valor em uma mistura do que de verdade na pureza doutrinária. Vejam bem, não existe religião pura, todas sofrem influências de religiões que as precederam. Toda, mesmo as inspiradas por entidades extradimensionais, são fundadas no nosso planeta por seres humanos, que são falhos. Carrega assim tanto a aspiração à divindade quanto a realidade das trevas.

Devido ao influxo de informação desencontrada, muito da Umbanda original e de sua formatação se perdeu. Deu lugar a criações ilusórias e muitas influências de seus criadores. Então se o criador de determinada vertente acreditava que os Orixás eram africanos, assim ficava estabelecido. Mesmo que na primeira Tenda oficial de Umbanda, isso não ocorresse dessa forma.

Não há detrimento sobre aceitar que cultuamos “deuses” diferentes dos africanos, até mesmo, pois antes da invasão europeia na América e consequentemente a chegada dos africanos em nossa terra, nossos nativos já cultuavam seus deuses e tinhas suas religiões e práticas mágicas e todas funcionavam muito bem. O Pajé não precisava evocar Omulu para curar ninguém, ele evocava seus próprios deuses e esses o ajudavam, conforme era permitido.

Claro que podemos ver que a Umbanda não foi criada para ser centralizada, porém algumas coisas fundamentais devem permanecer. Nós podemos reformar uma casa, mudar os móveis, pintar as paredes e até mesmo derrubar algumas paredes e mudar a disposição dos cômodos. Mas não podemos mexer na sua estrutura básica, na sua fundação e nos seus pilares, pois a casa como um todo irá ruir. Infelizmente é isso que ocorreu, e ainda se pautaram na história interpretada de forma errada, para validar esse argumento.

Umbanda é a manifestação do Espírito para a prática da Caridade. – Caboclo das Sete Encruzilhadas.

Zélio Fernandino e seu mentor o Caboclo das Sete Encruzilhadas, criaram a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade e mais Sete tendas irmãs: T.E. Nossa Senhora da Conceição, T.E. Nossa Senhora da Guia, T.E. São Pedro, T.E. São Jorge, T.E. São Jerônimo, T.E. Oxalá e T.E. Santa Bárbara. Além dessa ainda “fez” o senhor Benjamim Figueiredo, que viria ser o cavalo do Caboclo Mirim, fundador da Tenda Mirim e da Umbanda Esotérica.

O próprio Zélio em sua mediunidade através do Orixá Mallet (um de seus guias) tomou Benjamim Figueiredo nas costas e o atirou ao mar. Esse saiu de lá incorporado no Caboclo Mirim, já com a missão de fundamentar outra vertente de Umbanda. Isso feito, pois havia necessidade, mas as bases continuaram a mesma. Ninguém quis invalidar o que Zélio pregava conjuntamente com o Caboclo das Sete Encruzilhadas.

Com o tempo surgiram outras vertentes que diziam não ter influência da TENSP (primeira tenda) e foram gerando suas denominações. Incluíam em alguns rituais elementos indianos ou de outras regiões do oriente; alguns africanizavam muito os cultos trazendo influência dos candomblés ketu; alguns mais criaram algo totalmente diferente. Mas o que podemos dizer sobre se estavam errados ou não? Não estavam, desde que não se mexesse nos pilares da Umbanda. Porém, algumas vertentes recentes o fizeram, apesar de usarem da figura do Zélio para se qualificarem como detentores da verdade. Só essa atitude, de arrogância, já demonstra para o que vieram. Porém, como possuem capacidades hipnóticas em seus discursos, focados na venda de iluminação fácil no caminho espiritual, prosperaram. Mas agora a recolha está acontecendo, pegando muita gente de surpresa.

Quando se mexe com a base, mexe-se com o todo. Hoje vemos diversos médiuns com complicações tremendas em suas vidas, acreditando em ilusões e figuras míticas, pautados em arrogância e prepotência. Não aceitando que podemos errar, mas que reconhecer o erro é parte da reforma interior ao qual estamos submetidos. Como dizia Immanuel Kant:

“O Sábio pode mudar de opinião; o ignorante Nunca!”

Então, como saber se estamos em um lugar correto? Fácil! Olhe se o local é simples, se os atendimentos são gratuitos e se a postura dos dirigentes é de um verdadeiro cristão. Veja se eles enaltecem a figura de Jesus e as suas lições, refutando a maldade e não justificando a mesma. Veja em seus atos e atendimentos, se as mensagens tem profundeza de sentido ou se são apenas frases de efeitos estéticos. Veja se estão interessados em vender livros e cursos ou em auxiliar um irmão enfermo, custe o que custar.

É assim, que avaliamos. Eu acredito que existem diversas vertentes sérias, assim como casas populares. Mas essa Umbanda pasteurizada, homologada e padronizada só faz mal aos médiuns, consulentes e a própria Umbanda. Mas o fogo purifica! Fica a memória…

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